O inferno do mundo perfeito
Meu pai sempre dizia que nós devemos ter cuidado com o que desejamos. Ele era um homem muito sábio!
Imagine um mundo hipotético onde fosse possível para todos viver, numa realidade paralela, aquilo que se deseja. Imagine que você fosse capaz de viver num mundo EXATAMENTE igual ao que você considera o mundo IDEAL! Como seria este mundo? Certamente, o paraíso. Certo?
Isso é o que veremos daqui em diante!
Se você pudesse moldar o mundo ao seu IDEAL do mundo, ele seria bom para as outras pessoas?
Imagine que os militantes, TODOS ELES, conseguissem moldar o mundo e a sociedade à sua vontade. Será que eles continuariam sua militância?
Imagine que você ganhasse na loteria, ganhando centenas de milhões de reais. Será que isso transformaria sua vida em algo melhor? Por quanto tempo? Como você poderia saber se quem está próximo a você está lá porque te ama ou porque quer o seu dinheiro? Você conseguiria andar tranquilo por aí? Poderia ir ao cinema? Ao mercado? Pense bem!
Nós temos a tendência, egoísta e idiota, de achar que se o mundo fosse como nós achamos que deveria ser, ele seria perfeito. NADA MAIS IGNORANTE do que isso!
Em primeiro lugar, nós só poderíamos aspirar criar um mundo que fosse aderente ao nosso desejo caso nós fôssemos capazes de prever cada desdobramento, de cada escolha, de cada uma das oportunidades que temos na vida. Isso, obviamente, é impossível.
Além disso, nós queremos sempre transferir a responsabilidade das coisas ruins que nos acontecem para os outros. A culpa nunca é nossa. A responsabilidade nunca é nossa. Isso acontece porque é mais fácil colocar a culpa no outro do que assumir a culpa. Aceitar a culpa implica em pensar no que fizemos de errado, em qual é a nossa parcela de culpa no contexto da situação e tomar providências para mudar as coisas.
Digamos, por exemplo, que você trabalha numa empresa e vê os colegas serem promovidos, e você não. É muito mais fácil alegar, com uma boa dose de vitimismo e coitadismo, que você não é promovido porque é negro, mulher, homossexual (ou os três juntos), do que refletir sobre qual pode ser sua parcela de responsabilidade na ausência de reconhecimento por parte da sua chefia. SIM, é LÓGICO que existe o preconceito e o julgamento pela cor da pele, orientação sexual e gênero (às vezes, o preconceito é generalizado). Mas, é mais fácil se colocar no papel de vítima do que se perguntar: O que os outros estão fazendo e eu não? Como está minha empregabilidade? Eu estou estudando, fazendo faculdade, Pós, MBA? Eu tenho feito esforços em melhorar minha organização?
"Ah, mas no meu caso, eu sou vítima MESMO". OK. Busque outra empresa, outro emprego, outra oportunidade. Tem coisas que não mudam só porque nós queremos. Tem horas em que NÓS temos que abrir mão dos nossos "direitos" para sermos felizes.
Você prefere ser feliz ou ter razão?
Será que se a homossexualidade se tornasse a norma social, ao invés da heteronormatividade, você teria nascido? Será que, nessa sua realidade paralela, realizando todas as suas vontades e fantasias, o mundo seria melhor? Ou seria um pesadelo de horrores inimagináveis?
Todas as nossas escolhas tem desdobramentos. Todas as nossas escolhas pressupõem renúncias. Todas as nossas escolhas deixam marcas no universo.
Você é sempre livre para escolher (será que é mesmo?), mas será SEMPRE escravo das consequências. SEMPRE.
Adoraria que aqueles que defendem uma causa tivessem a oportunidade de viver nessa realidade paralela, onde TODOS OS SEUS DESEJOS se realizassem e onde o mundo e a sociedade fossem exatamente como estas pessoas sonham tanto. Talvez, ao despertar do sonho (pesadelo?) elas se dessem conta de que as lutas que realmente importam são aquelas que buscam o EQUILÍBRIO, não a vitória desta ou daquela forma de viver ou pensar.
Enquanto vivermos em uma sociedade desequilibrada, nenhuma luta fará sentido.
É realmente assustador perceber como é forte a tendência que temos, TODOS NÓS, diante dos problemas que aparecem, de procurar o culpado FORA da situação em que estamos, sem tomarmos consciência de uma coisa cuja simplicidade chega a ser “revoltante”: para o outro, o outro sou eu. Quando conseguimos entender que parte do “inferno” é de nossa responsabilidade, aceitamos que estamos, também, diretamente implicados nas causas e, portanto, podemos assumir responsabilidade pelas soluções. E TOMAR PROVIDÊNCIAS PARA MUDAR. A NÓS MESMOS!
Dentro do movimento negro, negros lutam contra negros. Principalmente, contra aqueles negros que não aceitam "favores", "esmolas", cotas ou qualquer tipo de “diferenciação”. Eles querem ser tratados e respeitados pelo que são. E são atacados pelos outros negros por isso. São chamados de "vendidos"… Vendidos porque resolveram deixar de ser vítimas e foram buscar suas próprias soluções, seus próprios méritos? Essa é a herança maldita do vitimismo e do coitadismo!
O mesmo acontece nos movimentos de homossexuais. Muitos são vítimas do ódio e perseguição de outros homossexuais, apenas por terem a coragem de não aceitar que tudo que lhes acontece é por preconceito ou homofobia.
Assim, desta mesma forma, acontece nos movimentos feministas, que ataca cruelmente mulheres que cometem a “vilania” de escolherem ser donas de casa, mães e mulheres dedicadas.
Pra mim, todo radical deveria ser “abençoado” com a possibilidade de viver, por 10 anos, num mundo que fosse a perfeita representação das suas crenças.
Minha pouca experiência me diz que, em todos os casos, eles não viveriam muito bem, por muito tempo. Isso se, e apenas se, fosse sustentável manter uma sociedade humana com as características desejadas por alguns “militantes”.
No final, todos encontrarão seu “mundo perfeito”. E, neste momento, irão se arrepender com intenso amargor por terem sido tão obtusos, egoístas e limitados às suas próprias necessidades e desejos. A nossa mente é poderosa, e mais cedo ou mais tarde, nos traz TUDO AQUILO que desejamos. Cuidado com seus desejos. Eles podem se realizar!
Toda força, de toda espécie, cria uma força igual e contrária. Lembrem-se disso!
O inferno são os outros, e para os outros, os outros somos nós. Logo, o inferno somos TODOS NÓS!
Referências:
http://www.manualdeingenuidades.com.br/2012/06/14/o-inferno-sao-os-outros/inferno/
