Crescimento Infinito #sóquenão

Rene De Paula Jr.
3 min readJun 25, 2019

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Eu acho que o Spinoza merecia uma estátua melhor, sei lá. Não que eu seja um expert em filosofia ou na arte da escultura ou em monumentos holandeses, mas juro que eu esperava algo mais… mais o quê? Preciso pensar.

Dei de cara com a estátua estranha num canto qualquer de Amsterdã, e só atinei que era o bom e velho Baruch porque… a estátua não parecia com nada e conferi o pedestal. Fiz uma foto, quase fiz uma selfie e duvido que outros turistas tenham mostrado a deferência devida.

Já que a estátua dificilmente te inspirará a se aprofundar na sua obra, aqui vai um dos conceitos que me pegaram de jeito: os falsos infinitos. Segundo Spinoza, boa parte das nossas angústias é porque nos deixamos seduzir por infinitos que não são tão infinitos assim, pelo contrário. O facebook, por exemplo, transformou a vida alheia num falso infinito e ficamos grudados na telinha num voyeurismo sem fim como se o nosso tempo também fosse infinito, e convenhamos que não é. Falsos infinitos dão dinheiro, quem diria.

Infinitos têm outros riscos também, e não só na esfera pessoal: acreditar em infinitos pode ser o que está levando nosso planeta pro buraco, e esses infinitos perigosos são discretíssimos, sutis, a gente quase não percebe.

Um exemplo: um país vai bem quando a economia cresce, certo? Uma empresa que se preze tem metas ousadas de crescimento, certo? O mito das tecnologias exponencias promete crescimentos… exponenciais, certo? Mas como crescer sem parar se o planeta é um só?

Se um das ideias centrais da economia é que recursos são finitos, como imaginar que dá pra crescer para sempre?

Dias atrás vi uma reportagem bacana sobre os limites do corpo humano. Quanto esforço somos capazes de fazer? Quanta energia conseguimos consumir ou gastar de maneira saudável?

Curiosamente o limite não está nos nossos músculos ou na força de vontade férrea, o limite está nas nossas vísceras: a partir de um certo ponto nosso aparelho digestivo não dá mais conta, e dane-se o mito de que a mente triunfa sobre a matéria quando teu intestino é quem manda.

O planeta tem limites, organismos tem limites e isso não impediu que a vida prosperasse feliz da vida por alguns bilhões de anos. Foi só alguém inventar o crescimento sem fim para que tudo, absolutamente tudo, esteja acabando pra sempre e rápido.

Essa crença no crescimento infinito não é monopólio nem da direita nem da esquerda nem dos retrógrados nem dos moderninhos, essa crença é um câncer e quem está dizendo isso não sou eu, é uma economista com um trabalho interessantíssimo que você pode conhecer aqui:

“Para economista, crescimento contínuo da economia é ‘como um câncer’” https://cultura.estadao.com.br/blogs/direto-da-fonte/89655-2/

Está mais do que na hora de revermos alguns dos nossos mitos, por mais apaixonantes e lucrativos que sejam. Infinito é uma ideia que não vai muito longe.

E por favor façam uma estátua do Spinoza sorrindo. Ele merece.

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