Formação de Vendas: Tiraria os seus filhos da escola?

No outro dia um decisor de uma empresa perguntou-me:
“Mas porque é que eu deveria dar formação todos os anos aos meus vendedores?”

A pergunta que lhe coloquei em jeito de resposta foi:
“Tiraria os seus filhos da escola?”

Ao ver que ele ficou a olhar para mim com um ar desconfiado, passei a explicar.

Existem duas formas de liderar uma equipa comercial.

Uma é deixar andar, ir orientando as coisas, controlando o trabalho deles. Vendo o nº de propostas e reuniões que fazem, quantos negócios fazem, etc…

Outro é procurar ter um plano concreto de evolução para cada pessoa da equipa, de forma a ter resultados comerciais mais consistentes.

“Mas isso não dá muito trabalho?”, poderá estar a pensar.

Claro que dá, mas no nosso entender é a única forma de conseguir ter uma organização comercial forte e consistente e que está alicerçada em pilares fortes.

O processo não tem de ser muito complicado, tem é de ser consistente, simples e religiosamente seguido todos os anos.

Poderá estar a pensar, “mas como é que eu implemento isto na minha empresa/equipa?”.

Comece por analisar se os indicadores de atividade comercial são ou não os indicados para lhe permitir medir onde é que as suas pessoas têm as maiores carências em termos de formação.

Não basta analisar o número de reuniões ou visitas e o nº de propostas entregues, ganhas ou perdidas.
Tem de se ir mais além e partir o nosso processo comercial em componentes mais pequenas.

Por exemplo:
Prospeção: Nº de contactos realizados (telefone, email, redes sociais, etc…)
Reunião ou Visita: Nº de reuniões ou visitas realizadas
Propostas: Nº de Propostas entregues
Negociação: Nº de propostas que passam para uma fase intermédia em que se discute preços e as outras componentes das propostas
Fechos ou Perdas: Nº de propostas ganhas ou perdidas e a razão para cada uma das situações
Este é até um processo simplificado, temos clientes em que temos implementados processos muito mais complexos e com muito mais variáveis, mas serve para exemplificar.

Tendo estes números para cada pessoa da equipa é possível analisar qual é o “gargalo da garrafa” de cada vendedor.

Por exemplo, podemos ter uma pessoa que é excecional a realizar prospeção e consegue imensos contactos, mas quando chega à componente do fecho raramente o realiza.

Por isso o seu “gargalo da garrafa” será a componente do fecho.

Mas podemos ter outro vendedor que seja exatamente o oposto, que seja uma nódoa a fazer prospeção, mas quando consegue chegar à fase do fecho é rara a proposta que ele não concretiza.

Assim sendo, neste caso o seu “gargalo da garrafa” é a fase da prospeção.

Tendo identificado onde é que está o problema, a nossa ação como Diretores ou Chefias Comerciais passa por trabalhar em conjunto com o vendedor na eliminação destes problemas.

Pode passar por o enviar fora a fazer uma formação, mas pode também passar por ir com ele para a rua e ajudá-lo nas dificuldades que enfrenta.

Aliás, convém que o ir para a rua com os comerciais e acompanhá-los no seu dia a dia seja algo de habitual na sua empresa, caso contrário quando tiver de o fazer pode ser encarado como sinal de alarme.

Ao ser uma prática comum, é vista como parte da sua forma de atuar e não como uma intromissão no trabalho deles.

Porque é que somos defensores dos processos de acompanhamento no terreno?

Porque por vezes é a única forma de ver a realidade sem óculos coloridos.

Óculos esses que muitas vezes colocamos como diretores e chefias comerciais que somos.

Se um comercial é mau comercial, pode ser não só pela sua falta de profissionalismo, mas também pela falta de a sua chefia o ajudar a evoluir e a crescer como vendedor.

Sejamos sinceros, acha que vendedores profissionais e bem formados abundam em Portugal e estão livres para serem recrutados?

A experiência dos processos de recrutamento de equipas comerciais que realizamos frequentemente diz-nos que não.

Acontece precisamente o contrário.

Costuma-se até dizer que “os bons já estão agarrados”.

Por isso muitas das vezes não temos à mão as pessoas que gostaríamos de ter.

Nessas situações, o papel do Diretor ou Chefia Comercial é ainda mais importante na direção e criação de condições para a evolução da equipa.

E Você, tiraria os seus filhos da escola?

Originally published at Ideias e Desafios.

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Jose Almeida
Jose Almeida

Written by Jose Almeida

Sales and Negotiation, Trainer, Coach and Speaker. Author of several sales articles and books. Made his career in sales and leadership in several companies.