De Rick e Morty para além de um Software

Trabalhos, pesquisas e extensão das Universidades públicas do Estado de São Paulo na área das Exatas

Revista Torta
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9 min readJun 28, 2019

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Por Giovana Silvestri e Isabela Almeida

Editado por Arthur Almeida, Giovana Silvestri e Rafael Junker

Consultor de Física: João Pedro Rheinheimer

Matemática, Física e Química são os primeiros contatos que temos com as Ciências Exatas. Na escola, os números assustam ou encantam os alunos. Se encantar demais, eles optam por cursos de Ensino Superior da área. Nas Universidades públicas, o retorno da formação em Exatas não se limita a mão de obra no mercado de trabalho.

Os conteúdos recheados de números, estatísticas, probabilidades, contas de primeiro, segundo ou terceiro grau, lógica, e vários outros estudos que parecem, grosso modo, subjetivos e objetivos simultaneamente, têm grande aplicabilidade na sociedade e no dia a dia.

Cursos como as Engenharias, a Ciência da Computação, o Sistema da Informação, a Física, a Química e a Matemática possuem grande impacto e mudança na sociedade, seja com os seus produtos finais ou com o desenvolvimento do mercado de trabalho.

Contudo, nas três Universidades estaduais de São Paulo, USP (Universidade de São Paulo), a UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) e a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), percebemos que os cursos contribuem para além desses aspectos.

O curso de Física se preocupa com a didática e aproximação do público que está distante da compreensão dessa ciência. Na UNESP, por exemplo, temos a Semana da Física, que, em 2018, teve sua décima oitava edição, durante três dias, aberta ao público.

Outro exemplo, é da UNICAMP com o programa “Física para Curiosos”. Afinal, você sabe onde estão os átomos em um sólido, como eles se movimentam, e por que isso importa? Essa questão foi respondida pelo professor Eduardo Granado, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW).

A proposta é explicar, de uma maneira simples, os conceitos e os temas atuais da Física para o público geral, além de informar a sociedade sobre as pesquisas desenvolvidas na Universidade. Granado foi o convidado do mês de junho. O objetivo do programa é, em 2019, ter um evento por mês.

Mas, voltando, onde estão os átomos de um sólido, como eles se movimentam e por que isso importa? Segundo o professor, os sólidos possuem átomos ordenados de diversas maneiras, eles se movimentam e, com isso, conferem as característica que cada material sólido terá.

O movimento dos átomos pode modular a sua condutividade, por exemplo. Mas, o que é condutividade de um material? A condutividade ou condutividade elétrica de um material é a capacidade ou nível que um material têm para passar corrente elétrica.

Alguns materiais possuem maior condutividade, ou seja, são condutores. Outros possuem menor condutividade elétrica e, por isso, maior resistência para passar a corrente de elétrons, logo, são isolantes. É a partir desses conceitos que podemos classificar os materiais em condutores, isolantes e semicondutores.

Logo, entender os arranjos dos átomos que formam um material sólido, segundo Granado em sua palestra, é fundamental para a compreensão de como os materiais se comportam com aplicações tecnológicas.

Além disso, o professor convidado explicou sobre diversas outras questões acerca da Física, como: as duas maneiras que os cientistas enxergam e desvendam a estrutura atômica de um sólido com o raio-x e com a luz síncrotron. Comentou sobre o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e o projeto Sirius.

Tentaremos responder a essa questão com a ajuda do blog da UNICAMP. Você sabia, ou já ouviu falar, que às vezes a Ciência é mais arte do que Ciência?

Para os alunos e professores de Campinas, a frase faz muito sentido. O projeto “Blogs de ciência da Unicamp” existe desde 2015 e com pesquisadores, professores e alunos de pós-graduação da Universidade, busca ser um meio de divulgação científica.

Neste ano, o blog relacionou filmes, séries, desenhos, games, livros e HQ’s e até música com a Ciência, e assim, com a Física, no projeto Ciência na Cultura POP que deu início em abril deste ano.

Afinal, a Ciência, às vezes, é mais arte do que Ciência?

Essa frase saiu de um desenho animado que, por mais fictício que seja, aborda Ciência e muito (se não sempre) Física. “Rick e Morty (título original: Rick and Morty)” é um desenho norte-americano que aplica, muitas vezes, fantasiosamente, conceitos científicos e, assim como o blog da Universidade Estadual de Campinas, aproxima o público de uma compreensão mais visível e prática da Ciência.

Além do artigo sobre Rick e Morty, textos como: “O que o Guia do Mochileiro das Galáxias tem a dizer sobre mecânica quântica?”, de Eduardo Akio, explica didaticamente para o público geral, utilizando a prática e a cultura POP, diversos conceitos e teorias de Física de difícil visualização e compreensão, como a mecânica quântica.

Para Akio, mestre e doutorando em Física pela Universidade, uma dos trechos do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” têm profunda relação com a Física e, segundo ele, “poderia tranquilamente ter sido retirado de um livro de mecânica quântica”.

“Assim que o gerador da espaçonave atinge a improbabilidade infinita, ela passa por todos os pontos do Universo.” É a frase que o pesquisador retira do livro e começa a explicar questões sobre a mecânica quântica como às Integrais de caminho de Feynman e o experimento da dupla fenda de Young.

Como notamos, a divulgação científica é uma prioridade na Física. Por fim, na USP, temos o projeto Masterclass hands on particle physics realizado no IF (Instituto de Física) que aproxima alunos do ensino médio da física de partículas e, até, do acelerador LHC.

Para a USP, sim. A Comissão de Cultura e Extensão do IQ (Instituto de Química) organizou, em 2017, um projeto com foco nos vestibulandos, mas aberto ao público geral, desde idosos até crianças. “Química é Vida” abrange novidades e curiosidades sobre Química.

São palestras feitas por especialistas em cada tema abordado, referente á matéria, abertas ao debate para questionamentos e comentários. Assim, os participantes trazem novos conceitos sobre o tema. O objetivo é a divulgação de conhecimento científico e das produções acadêmicas da Universidade.

Além disso, o projeto tenta desmistificar a imagem estereotipada, e até negativa, da Química. Ela é muito mais do que decorar elementos da tabela periódica ou questões difíceis de se resolver em vestibular, a Química é vida.

Entendida como uma Ciência central, ou seja, muitos outros campos de estudos são permeados por ela, a Química é vida pois auxilia a compreensão de diversas outras áreas que explicam questões que envolvem a vida, como o surgimento do Universo até o desenvolvimento de medicamentos.

Os encontros são gratuitos e abertos, acontecem no terceiro sábado de cada mês na Biblioteca Mário de Andrade, localizada na região central da capital paulista, Rua da Consolação, 94, Centro. Neste ano, serão feitas oito palestras, os encontros do primeiro semestre foram até o dia 15 de junho. Os próximos ainda não foram divulgados.

Por outro lado, a Química pode explicar a vida, ou os porquês dela funcionar como funciona. Afinal, ninguém sabia o porquê das abelhas africanas serem tão ferozes, até os pesquisadores da UNESP de Rio Claro explicarem, através da Química, como tudo isso funciona.

Em 2018, pesquisadores descobriram as substâncias químicas que são relacionadas, e podemos dizer que causavam, a ferocidade nas abelhas. O estudo revelou o mecanismo de produção dessas substâncias presentes nos neuro-hormônios do cérebro de abelhas africana.

Durante a pesquisa, rastrearam e identificaram que certas substâncias estavam mais presentes, em índices mais elevados, no cérebro das abelhas africanas do que em abelhas melíferas e nas criadas por apicultores.

O artigo foi publicado no Journal of Proteome Research e demonstra como tais compostos químicos podem fazer com que abelhas menos agressivas se tornem tão ferozes.

O professor Mario Sérgio Palma, no Centro de Estudo dos Insetos Sociais do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Rio Claro, foi quem organizou a equipe de pesquisa e o trabalho tem apoio da FAPESP- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Outra matéria de Exatas de maior importância e que mais cresce, sem dúvida alguma, é a Engenharia, que, atualmente, conta com uma grande diversidade de especializações que vai desde civil à ambiental.

Na UNESP, a Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB) vem ganhando um grande destaque com seus projetos de engajamento social, que cada vez mais contribuem para criar uma forte ligação entre o âmbito acadêmico com a comunidade local.

Anualmente, a Universidade organiza uma Semana de Engenharia, a qual é responsável por trazer novidades de mercado, experiências e cursos para um melhor preparo dos futuros engenheiros.

Além disso, uma das principais iniciativas da FEB, intitulada “Ao Vivo e em Cores”, realiza um serviço voluntário. Ela surgiu em 2012 e até hoje mantém ativas as suas atividades voltadas à população local.

O projeto tem como principal intuito ajudar na revitalização de espaços públicos e, principalmente, de escolas públicas de bairros carentes da cidade, propondo a pintura e a reconstrução desses, além de criar um vínculo por meio de ações entre as crianças e os voluntários.

A UNESP Bauru também conta com um Programa de Educação Tutorial específico para o curso de engenharia de produção, intitulado como PET Produção, com o intuito de ajudar a comunidade local. Atuando junto com organizações sem fins lucrativos (ONGs), o projeto realiza ações que envolvem desde doação de sangue, roupas e alimentos à adoção de cartinhas do Papai Noel.

Na era tecnológica que vivenciamos, estamos cercados cotidianamente por softwares e aplicativos que surgem com o intuito de não só facilitar a rotina, mas a vida em si.

Na área da saúde, por exemplo, dois projetos da USP vem proporcionando um melhor auxílio e entendimento de duas especificidades que acometem dois públicos que necessitam de atendimentos diferenciados.

O primeiro deles pretende ser um forte aliado na prevenção de doenças crônicas, ao analisar um banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) de determinado paciente, descobrindo assim qual é a probabilidade e os riscos deste desenvolvê-las.

Só para se ter uma ideia do quão importante é a existência de um aplicativo desses, segundo uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas são responsáveis pela morte de aproximadamente 41 milhões de pessoas em todo o mundo.

A iniciativa que envolve o desenvolvimento desse aplicativo faz parte da parceria de dois alunos da USP com um administrador. Nomeada como Blue, a tecnologia realiza uma análise a partir de um banco de dados laboratoriais e hospitalares permitindo assim tomar medidas preventivas para evitar uma doença desse caráter no futuro.

Um outro aplicativo criado com o intuito de facilitar a vida de um específico grupo, é o SofiaFala, que ensina pessoas com Síndrome de Down a melhorar a sua dicção e fala.

O software desenvolvido pelo Departamento de Computação e Matemática, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, é uma tecnologia totalmente gratuita e interativa que pretende promover uma aproximação entre familiares, fonoaudiólogos e pacientes, rodando, até o momento, apenas em aparelhos com o sistema Android.

Com a finalidade de ser uma tecnologia assistiva, o aplicativo captura a sonoridade e as imagens que são emitidas no processo de exercitação fonoaudiológica, analisando-os e dando uma resposta a respeito do desempenho do paciente.

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