LGBTQ+fobia na sociedade e na mídia

Uma análise histórica e social do fenômeno da LGBTQ+fobia

Revista Torta
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4 min readMar 22, 2019

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Por Arthur Almeida

Fotógrafo: Vinicios Rosa | Modelo: Giovanne Ramos representa a comunidade

A homofobia ou LGBTQ+fobia (em termo mais inclusivo) é um fenômeno social complexo em constante transformação. Análogo ao racismo, ao machismo ou à xenofobia, a LGBTQ+fobia é o preconceito e a intolerância sócio-estrutural para com a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Transexuais, Travestis, Queer, entre outros.

Apesar da popularização do termo “homofobia” só ter começado a partir de 2008 no Brasil, o fenômeno já é um antigo problema enfrentado pela comunidade desde o surgimento datado na Idade Média ou no século XVIII.

Segundo o Professor Doutor em História William G. Naphy, o fenômeno LGBTQ+fobia está ligado à ascensão das instituições religiosas cristãs, judaicas e islâmicas e aos seus dogmas contrários à homoafetividade.

O filósofo francês Michel Foucault, por sua vez, defende que o fenômeno surgiu no século XVIII, culpabilizando a burguesia industrial e apontando a heterossexualidade compulsória como parte da cultura de massas que mantém a reprodução de novos trabalhadores.

A homofobia manifesta-se de forma explícita pelas violências de natureza física, verbal e psicológica, ou implícita, pela descredibilidade da existência e da luta pelo reconhecimento social da diversidade de gênero e sexualidade.

A homofobia no dia a dia

Recentemente, dois casos de homofobia ganharam repercussão nas mídias sociais e reforçaram o debate, já quente, dado o contexto, acerca da necessidade de uma lei que criminalize a intolerância para com os LGBTQ+s.

O primeiro deles é de preconceito explícito e envolve a polêmica do professor da FD-USP (Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo), e o segundo é implícito, a declaração do presidente no Twitter.

Modelo Rafael Nerrera representa a comunidade

No dia 25 de fevereiro de 2019, na aula inaugural da matéria optativa “Direito Administrativo Interdisciplinar”, ministrada pelo Professor Associado Eduardo Lobo Botelho Gualazzi entregou um documento aos universitários, escrito e assinado, pelo docente no qual ele manifesta discriminações.

Referindo-se às populações lidas socialmente como “minoritárias”, formadas por negros, mulheres, classes economicamente desfavorecidas e LGBTQ+, como “submundo que se recusa a trabalhar e produzir”, “escrófula da sociedade”, “aberrações”, “energúmenos”, “tarados e taradas”, entre muitos outros termos de natureza pejorativa.

Logo no dia 26, foi instaurada uma investigação criminal apurada pela DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) contra Gualazzi. Atualmente, o professor encontra-se afastado da USP, podendo somente responder por crime racial, uma vez que a homofobia não configura crime federal.

Já no dia 5 de março de 2019, sob o pretexto de “expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades” — aqui tratando do carnaval — Jair M. Bolsonaro publicou em sua página oficial no Twitter um vídeo de conteúdo pornográfico, protagonizado por duas figuras LGBTQ+s.

Para além do debate acerca da postura do presidente, com o controverso “golden shower”, a postagem também mostra-se problemática na questão de reforçar estereótipos de promiscuidade da comunidade, um exemplo de ação homofóbica implícita em que a violência não fica tão evidente, por não ser física ou verbal, como no caso do professor da FD-USP, mas não deixa de ser uma agressão social.

A relação mídia-homofobia

Modelo Isabelle Scavassa representa a comunidade

Segundo o Relatório de Jornalismo Digital de 2017, do Instituto Reuters para a Universidade de Oxford, 60% dos brasileiros confiam nas informações noticiadas nos veículos comunicativos, utilizando desses meios para formar suas opiniões e entrar em contato com perspectivas de assuntos diversos.

Nesse sentido, a mídia tem, sobretudo no cenário brasileiro, o potencial de tanto perpetuar tabus e preconceitos, quanto o de impulsionar debates acerca da luta dos movimentos sociais, entre eles da comunidade LGBTQ+.

Assim, pode-se afirmar, a partir do mapeamento de dados presente no livro “Jornalismo e Homofobia” de Bruno S. Leal e Carlos A. de Carvalho, que, historicamente, os veículos informativos brasileiros tenderam a tratar a questão LGBTQ+ de maneira conservadora.

Com poucas notícias atreladas à comunidade programadas, sendo a grande maioria delas acidentais, isso é, ocorridas em função de eventos não planejados, como agressões ou casos de discriminação; com abordagem jornalística majoritariamente desfavorável ao ativismo desse grupo; e problemática quanto à visibilidade integral da diversidade da população LGBTQ+, representando, muitas vezes, somente uma parcela da comunidade, os gays, por exemplo, e deixando de lado as pessoas trans.

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