Porque é que danço?
Esta é a pergunta que me centra. Sempre que tenho qualquer dúvida ou insegurança relativamente a alguma escolha no trabalho que estou a desenvolver no momento, volto sempre, sempre a esta pergunta. E a resposta que lhe dou é o meu farol.
Não tenho apenas uma razão, é claro. Danço porque gosto, porque tenho prazer a executar os movimentos e danço também para transmitir algo a quem me vê. Danço para o público. No entanto, há uma razão que parece que se sobrepõe às outras, e que justifica todo o esforço físico e psicológico; todas as dores de cabeça que surgem; todo o investimento de tempo e dinheiro.
Comecei a ter aulas de dança em 2015 porque queria experimentar alguma coisa diferente através do movimento. Fui para a Dança Oriental, para as aulas da professora Catarina Branco, porque era a dança com os movimentos de que mais gostava (antes de entrar nas aulas lembro-me que adorava os oitos verticais e horizontais!).
Com 2 anos de dança, ao fazer a minha segunda coreografia para um festival de Dança Oriental, percebi a razão que ainda hoje me parece ser a principal para solar. O que eu mais gostava na dança era a criação.
O processo é sempre o mesmo: ouço uma música árabe super interessante, começo a ver várias imagens na minha cabeça e sinto uma pulsão incontrolável para as traduzir visualmente e construir um todo coeso, uma terceira coisa. Passar o pensamento do movimento para a realidade.
A criação. Ainda hoje é ela que me move. É por ela que danço. Seja Improvisação ou Coreografia. Amo as duas.
Há uns meses, em conversa com uma bailarina, ela disse-me (de forma nada preconceituosa, esclareço) uma coisa do género: ‘Pois, tu gostas muito de ir a competições!’. Como tive receio de ficar catalogada como a bailarina de concursos (porque sim, na comunidade artística — não só de DO — em geral há um enorme preconceito para com os concursos), rapidamente tive a necessidade de explicar porque é que costumo ir.
Vou a competições… para apresentar as minhas criações. Para conseguir apresentar o meu trabalho, no contexto em que ele, pela sua especificidade, precisa de ser apresentado para transmitir uma mensagem específica.
Este é o único contexto performativo regular que tenho para apresentar as minhas criações em palco. Não há assim tantas oportunidades para quem não trabalha em eventos, como é o meu caso, e por isso agradeço muito a todos os organizadores pelo trabalho hercúleo, que resulta nesta oportunidade para nós.
Os concursos têm também outras componentes que fazem todo o sentido para mim enquanto artista. Por exemplo, quando participo, tenho a oportunidade de ser vista por alguns dos meus artistas nacionais e internacionais e receber feedback dos mesmos. Isto é um absoluto privilégio que acho que muita gente pode não perceber que tem. Eu também canto e sei que a probabilidade da Beyoncé algum dia me dar feedback, não é alta. Mas na Dança Oriental, posso dizer à boca cheia que já obtive feedback da Dariya Mitskevich.
Os concursos dão-me também liberdade criativa.
Eu não gosto de dançar com acessórios (em Oriental). Eu não gosto particularmente de dançar em grupo. Eu não quero ser bailarina e professora de prática... gosto de dançar a solo os estilos que eu quero, as músicas que eu adoro, dentro da duração que me faz sentido. E é verdade, sim, nos concursos, nem sempre apresentamos a música com a duração que queremos. No entanto, também tenho vindo a perceber que para pessoas como eu, criadoras, (e com um trabalho full-time, aulas de canto, casa para cuidar, tarefas domésticas etc etc etc) não é possível fazer 30 coreografias de 10 minutos num ano. Mas posso trabalhar os estilos de que mais gosto e apresentar este meu trabalho nas várias categorias dos concursos. Ou seja, na vida nunca conseguimos o pleno, mas, de momento, os concursos são uma plataforma que serve perfeitamente o trabalho que desenvolvo na dança.
Para onde quero levar as minhas criações?
O meu objectivo a curto-médio prazo é que achem o meu trabalho tão valeroso que me convidem o apresentá-lo em galas de Dança. Também tenho outros que se prendem com apresentá-la ao público em geral mas não são para agora.
Bom mas… e se não me convidarem? Se não se der, a pior coisa que pode acontecer é continuar a apresentar o meu trabalho nos concursos. E continuar a criar, criar, criar. Afinal, é por isso que danço. 🧡