DAR ADEUS

Roberta Nader
2 min readMay 31, 2017

--

A tarde cai. Todo dia a tarde cai. E é dolorido.

O lusco-fusco do fim do dia, apesar de lindo, é uma luminosidade triste. Pois algo está nos deixando…

Dar adeus é assim.

Não é tchau. Não é até logo. Não é até mais tarde.

É adeus.

Todas as línguas têm essa palavra? A palavra que define algo que se vai, para sempre?

Para o adeus nunca é a hora. Não adianta se preparar para ele.

Não há treinamento para o adeus.

Dar adeus prende o peito.

Dar adeus bambeia as pernas.

O adeus demora no abraço. O último abraço.

No adeus o beijo não é doce. É urgente. E demorado.

No adeus o outro vai. E você fica.

Nós sempre ficamos no adeus. Mesmo que sejamos nós que partimos.

O adeus dura muito.

E demos um nome para esse muito: luto

O adeus é preto.

Quando olhamos nos olhos de quem está nos deixando, a vida encurta. E a dor encomprida.

Os olhos de quem nos deixa são fundos. E os nossos, rasos

Quando damos adeus, o rosto fica molhado. O corpo se retrai. Os braços se apertam.

Dar adeus dói muito.

Nós ficamos imaginando a vida sem aquele adeus.

A vida poderia ser outra. Mais leve. Mais alegre. Mais nossa.

Nós sempre pintamos uma existência sem o adeus.

Mas ele está lá. E ele aparece quando menos esperamos.

Mas há quem antecipe o adeus. Sabe que ele chegará. Cedo ou tarde.

E quando ele chega, arrebenta.

Ninguém está pronto.

Dar adeus machuca o estômago.

Dar adeus dá raiva.

Dar adeus dá ânsia de vômito.

Dar adeus magoa

No adeus

Quem vai, parte. Quem fica, parte-se.

Originally published at semimundo.blogspot.com on May 31, 2017.

--

--