Como influenciar Stakeholders utilizando artefatos de produto

Roberto Fermann
8 min readFeb 23, 2022

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Uma vez o Rafael Auday me falou que Produto é “tudo aquilo que resolve uma dor da usuária e, ao resolver esta dor, entrega valor para o mercado”.

Se essa frase é verdadeira e se como um time de produto estamos unidas por um propósito comum de melhorar o mundo de alguém através das funcionalidades que criamos, então eu suponho que todas as pessoas envolvidas nesse processo estão buscando constantemente maneiras de aumentar o seu impacto e impulsionar os resultados do produto.

Um time de Produto é um time de super-heróis.

Gerar impacto não é uma tarefa simples. É preciso entender o mercado, entender a empresa, conhecer a visão do produto. Para gerar impacto é necessário conhecer muito bem o público-alvo para quem trabalhamos, suas dores, necessidades e dificuldades. Juntando tudo — a visão e os objetivos da empresa, as dores das usuárias e as pistas que o próprio produto nos dá — então podemos criar hipóteses e experimentar soluções. Entregar funcionalidades é só a pontinha final de um trabalho que pode e deve ser feito em equipe.

Fazer produto é um trabalho de equipe.

Eu estou absolutamente convencido de que fazer produto é um trabalho de equipe. Cada pessoa colabora com a sua especialidade, mas no fim só funciona se feito em equipe. Não existe atalho: para transformar uma Visão em um conjunto de Funcionalidades é preciso percorrer um processo que se feito em equipe reune habilidades e conhecimentos de todas, aumentando as nossas chances de sucesso.

Reação vs Proposição

Desde que entrei para o mundo da consultoria me pergunto como podemos aumentar a nossa influência sobre as decisões de um produto cuja propriedade não é nossa, e sim da nossa cliente. Muitas vezes a expectativa que recai sobre um time nesse contexto é sobre a eficiência da entrega — o Delivery. Focar no Delivery limita bastante a nossa capacidade de impacto, afinal se estamos unidas em torno de um propósito deveríamos usar todas as nossas habilidades e conhecimentos disponíveis para melhorar o mundo das nossas usuárias. Como um time de produto não queremos estar em um lugar de REAÇÃO respondendo às demandas e unicamente preocupadas com prazos e escopos. Queremos estar em um lugar de PROPOSIÇÃO, de colaboração, contribuindo para aquele propósito que nos uniu.

Então me peguei perguntando: como poderíamos, como time, criar mais espaços de proposição? Como poderíamos aumentar a nossa influência sobre as decisões que as nossas Stakeholders tomam em relação ao nosso produto?

A resposta provável é: ampliando o escopo das nossas conversas.

Ok. Precisamos codar, deployar e entregar. Agora, e se fizermos isso conhecendo bem a nossa cliente, as stakeholders, seus interesses e suas ambições? E se fizermos isso entendendo profundamente o cenário competitivo que nos rodeia, as dores das usuárias para quem estamos trabalhando e qual é a proposta de valor que temos a oferecer? E se pudermos contribuir com ideias, com pontos de vista diferentes e participarmos das apostas que são feitas no produto?

Usando artefatos de produto para influenciar Stakeholders

Existem inúmeros artefatos que podem ser utilizados não só como ferramenta de Gestão de Produto, mas também para criar uma aproximação vital entre o time de produto e as suas Stakeholders. Quando essa conexão acontece o jogo muda. Quando todas as pessoas do time e da cliente passam a conhecer as mesmas variáveis, a entender os problemas e a participar das decisões então a sintonia surge como mágica e o impacto aumenta. Aumenta também o envolvimento, o sentimento de pertencimento, a motivação e a realização com o trabalho de todo mundo.

Sem mais delongas, bora explorar alguns artefatos que vão nos ajudar a sair de uma posição de reação e nos levar para uma posição de proposição?

Stakeholder Mapping

Imagem de um típico Mapa de Stakeholders organizado de acordo com o nível de Influência vs Interesse.

Um bom primeiro passo para influenciar nas tomadas de decisão das Stakeholders é … conhecer as Stakeholders! Montar um mapa de Stakeholders e classifica-las de acordo com o seu grau de influência (poder) versus o seu nível de interesse (disponibilidade) nos ajuda a ter uma fotografia de quem é quem dentro da organização. Minha dica é a montar esse mapa com o time de produto junto para que todas possam entender o contexto no qual estão inseridas. Você pode usar qualquer ferramenta de colaboração virtual para montar um mapa como esse, como por exemplo o Miro, o Mural o o próprio Google Slides.

Value Stream Mapping

Imagem de um fluxo linear simples, representando uma sequencia de passos e processos executados para gerar valor.

Para ganhar mais contexto de como a sua cliente ou organização opera, eu sugiro mapear o Fluxo de Entrega de Valor, ou seja, quais processos são executados que fazem com que essa empresa consiga entregar uma proposta de valor para as usuárias. Conhecer bem a operação da empresa e o funcionamento do produto vai ajudar a elevar o nível da conversa com as Stakeholders. Assim você estará falando na linguagem da empresa.

Personas

Imagem de um modelo comum usado para representar uma persona.

Construir Personas é um exercício lúdico e divertido. Criar esse artefato junto das Stakeholders abre um espaço de troca incrível para entendimento, alinhamento e geração de ideias. Eu considero esse exercício muito mais rico quando a gente faz uso de informações coletadas por meio de pesquisas, tanto quantitativas quanto qualitativas.

Customer Journey Map

Imagem de um mapa da jornada de consumo simples.

Esse artefato tem um potencial enorme para ajudar o time a identificar oportunidades para o seu produto. Isso por que, ao conhecer as usuárias e as atividades que elas executam em uma jornada de consumo, é possível mapear pontos de atrito (pontos de dor). Em Gestão de Produto, se há dor então há oportunidade.

Value Proposition Canvas

O Canvas de Proposta de Valor pode ser encontrado para download no site da Strategyzer.

Uma vez que a gente conheça mais sobre as usuárias então podemos utilizar esse Canvas de Proposta de Valor e ter uma atividade extremamente produtiva. Com ele nos provocamos a pensar em como oferecer um “remédio” para a dor da nossa usuária. É forma simples e fácil de colaborar com as Stakeholders na construção de boas ideias e dar voz a todas.

Opportunity Backlog

O Backlog de Oportunidades é um repositório de evidências acompanhadas de uma hipótese. Quando priorizadas, as oportunidades devem se transformar em iniciativas de impacto nos resultados.

À medida que as ideias vão surgindo e as evidências de oportunidades para serem exploradas vão aparecendo, eu gosto de organizar tudo em um Backlog de Oportunidades. Esse tipo de documento (que pode ser uma planilha de Excel normal) sempre me ajuda a ter conversas em outro nível com Stakeholders. Isso porque o foco passa a ser entender o tamanho das oportunidades de impacto que existem e, de forma colaborativa, decidir por qual caminho seguir. Dica: você pode acrescentar na mesma planilha uma ferramenta de priorização, como a R.I.C.E., e com isso olhar com mais atenção para as maiores oportunidades identificadas.

Team OKR Canvas

Template de escrita e acompanhamento de OKRs para uso do time.

OKRs é uma metodologia de Gestão de Desempenho que nasceu no Google no final dos anos 90 e se popularizou em todo o mundo. Através de uma estrutura poderosamente simples esta ferramenta vem ajudando muitas equipes a perseguirem seus resultados de forma eficaz. Apesar da popularidade da ferramenta muitas pessoas fazem mau uso. Esse Canvas simples nos permite enxergar o Objetivo perseguido, os Key-Results, a conexão com a estratégia da empresa e fazer acompanhamento mensal dos avanços que o time vem alcançando. Dica 1: publique os objetivos da sua equipe em algum lugar acessível facilmente, por exemplo, no Confluence ou junto da documentação de produto. Dica 2: atualize o status de cada OKR em uma cerimônia com todo o time e Stakeholders. Conversar sobre os avanços é uma forma de colaboração poderosíssima.

Radar de Métricas

Template do Radar de Métricas.

Criado pelo Bernard De Luna, o Radar de Métricas é uma ferramenta maravilhosa que nos ajuda a quebrar uma métrica focal em outras mais acionáveis, mantendo a relação de causalidade entre elas. Ou seja, é uma forma de entender como eu consigo impactar uma métrica importante do produto com o meu trabalho. Essa conversa com certeza vai aproximar bastante os Stakeholders do time.

Criando espaços de proposição

Existem muitos outros artefatos que podem nos ajudar quando queremos ter conversas mais produtivas e aumentar o nosso poder de influência. O User Story Map, do Jeff Patton, nos ajuda a enxergar os rumos do produto sem perder de vista a “big picture”. Um bom Dashboard de Dados montado em uma ferramenta de logs ou analytics nos ajuda demais a gerar discussões, criar hipóteses e embasar nossas ideias. A Teresa Torres com o seu famosíssimo Opportunity Solution Tree nos ensinou como envolver todo o time na busca por uma solução potencial através do uso de experimentos. E quem sabe montar um Roadmap Adaptativo, baseado na perspectiva de horizontes?

Usar um artefato ajuda, mas a verdade é que o mais importante é criar espaços de proposição para interagir, ganhar contexto e influenciar. Algumas coisas que eu já apliquei e funcionaram para mim:

  • Backlog Building: envolver o time e stakeholders na construção de cada elemento do backlog, desde as iniciativas até as User Stories.
  • Daily Meetings temáticas: em geral os times de produto acabam realizando uma cerimônia diária de acompanhamento. Que tal criar duas ou três dailies temáticas? Na segunda-feira, após conversar sobre as user stories, podemos aproveitar o restante do tempo e fazer um acompanhamento de RISCOS juntas. Na quarta-feira, podemos falar sobre DADOS. Na sexta, sobre ESTRATÉGIA.
  • Conversa com a PM/PO: que tal ter uma agenda recorrente de aproximação com a Product Owner? Uma reunião no estilo “Ask me Anything” é um bom começo.
  • Radar de Ideias: crie um espaço onde qualquer pessoa possa documentar uma ideia. Assim o time constrói junto um belo Backlog de Ideias que podem virar boas oportunidades
  • Hack-Day: e quem sabe dedicar um dia por mês para trabalhar em algo completamente diferente do backlog? É uma grande oportunidade para testar ferramentas, frameworks e tecnologias. Daqui podem sair ótimas iniciativas aplicáveis ao produto.

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Roberto Fermann

Product Manager, mergulhador, cachorreiro e agora tentando compartilhar conhecimentos aqui no Medium.