Avraham Stern, o judeu que apoiou o Eixo

Roberto Panoff
6 min readDec 7, 2016

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Avraham “Yair” Stern

Quando falamos acerca da Segunda Guerra Mundial, um tema bastante recorrente é o do holocausto judeu (embora não apenas judeus fossem supostamente perseguidos, outras minorias seriam igualmente taxadas). Um tema bastante fascinante, intrigante e complexo mas que a historiografia tratou de forma simplista e binária. Nos últimos anos, entretanto, uma gama imensa de material bibliográfico tem sido compilado de maneira a conferir um revisionismo e reescrita crítica da história vigente que é ensinada nos materiais didáticos. Alguns destes são surpreendentes quando não reveladores. É comum pensarmos no povo judeu apenas como um povo perseguido e indefeso que não oferecia resistência tal qual como ovelhas no abate. Porém, nos anos 30 e 40 nos territórios que conferiam ao Mandato Britânico da Palestina o negócio pegava fogo e estava simetricamente oposto.

Para compreendermos isto, temos que voltar e examinar o contexto e situar-nos nas condições e situações daquele tempo.

Estado Judaico, Sionismo e Oriente Médio

A ânsia por um estado judaico era compartilhado por judeus da diáspora desde tempos mais antigos. Há indícios dessas iniciativas desde o século XVI. Entretanto, foi no século XIX que o movimento ganhou mais corpo, sobretudo aos esforços de dois homens: Moses Hess e Theodor Herzl. O primeiro foi um pensador e teórico socialista, tendo inclusive sido parceiro de Karl Marx e Friderich Engels no movimento comunista tendo abandonado pela discordância e o surpreendente antijudaismo de Marx mesmo ele sendo de ascendência judia (para mais detalhes confira a obra “Sobre a Questão Judaica” aqui). Herzl por sua vez, se baseava nos movimentos nacionalistas europeus, sobretudo o nacionalismo germânico quando elaborou sua obra Der Judenstaad(O Estado Judaico). Organizações judaicas se formaram para a empreitada e um forte lobby com governos de diversos países foram realizados.

De 1914 a 1918 aconteceu a primeira guerra mundial, fato esse que mudaria a geopolítica mundial, pelo fim dos impérios e inicio dos estados nacionais. A região da palestina estava então sob o controle do Império Turco Otomano. Com a derrota dos turcos na guerra, o Reino Unido foi incumbido pela Liga das Nações (pré Onu) concedeu um mandato a Palestina. A Liga ficou com a responsabilidade de redesenhar o mapa da região, o resultado não foi menos terrível pois juntaram-se povos e regiões conflituosas. Parecia a oportunidade perfeita, tanto que em 1917, foi emitida uma carta do então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, dirigida ao Barão Rothschild, líder da comunidade judaica do Reino Unido, para ser transmitida à Federação Sionista da Grã Bretanha. A carta se refere à intenção do governo britânico de facilitar o estabelecimento do Lar Nacional Judeu na Palestina, caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império Otomano, que, até então, dominava aquela região. O documento é conhecido como “Declaração de Balfour”.

Declaração Balfour

O movimento sionista até então já estava bem articulado, auxiliados pela ideia do retorno a terra ancestral (a Allyah), diversas imigrações de judeus (sobretudo do leste europeu) foram realizadas ao território palestino. Movidos pela ideologia socialista de uma vida coletiva, estes formaram os famosos kibutzim nos territórios ocupados. Com o tempo, os britânicos passaram a impor quotas e restrições a imigração dos judeus pois esta já ultrapassava os 100.000 em população com as terceira e quarta Allyah. Há de salientar que a população árabe e muçulmana era majoritária sendo que a população judaica era majoritária nos centros urbanos.

Ofensiva Judaica na Palestina

Com as restrições à entrada de judeus pelos britânicos e seu apoio aos governantes muçulmanos locais, os judeus viram que seria melhor partir para uma ofensiva mais contundente. Na década de 30 a população judaica triplica (de 11% em 1922 para 33% em 1940) o que incomodou os árabes causando inúmeros conflitos entre ambos. A Grã Bretanha em 1939 publicou um texto denominado Livro Branco, no qual recusava a divisão do estado e favorecia um estado único com judeus e muçulmanos governando em comum.

Os líderes sionistas rejeitaram a proposta britânica do livro branco e um conflito entre ambos estava mais próximo do que nunca. A partir de 1940, formaram-se grupos paramilitares judaicos que tinham por finalidade a libertação da palestina dos britânicos. Eram eles Palmach, Haganah e suas divisões: Irgun e Lehi.

Avraham Stern e o Lehi

O Lehi (acrônomo hebraico para Lohamei Herut Israel, לח”י — לוחמי חרות ישראל; Lutadores para a Liberdade de Israel, também conhecido como Stern Gang — como chamavam as autoridades britânicas na Palestina. foi um grupo armado sionista que operava clandestinamente no Mandato Britânico na Palestina entre 1940 e 1948. Seu principal objetivo era expulsar os britânicos da Palestina para permitir a livre imigração de judeus para a região e criar um Estado judaico (Israel). Quando o Irgun desistiu de realizar a luta armada este se subdivide formando assim o Lehi.

Monumento em Petah-Tikvah, Israel
Atiradoras guerrilheiras em treinamento
Cartaz de procurados no qual se encontram membros do Lehi (aka Stern Gang), entre eles o ex PM israelense Itzhak Shamir no meio.
Documento alemão atribuído ao Lehi no qual se oferecem a uma aliança com a Alemanha Nazi datado de 1941

Ideologicamente, o Lehi se diferenciava do sionismo de esquerda trabalhista com o revisionista de direita de ordem liberal que acabaram se formando. Eles buscavam uma terceira via entre ambos, num estado de principios totalitários, identitários, anti imperialistas e nacionalistas. Com morte de Stern, o grupo passou a apoiar o regime stalinista na URSS e a incorporar o Nacional Bolshevismo.

Avraham Stern, que usava o codinome “Yair” acreditava plenamente na ideia de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Tentou realizar alianças com a Alemanha Nazista e a Itália Fascista junto com a promessa de lutarem pelo Eixo em troca do envio da população judaica para as terras estabelecidas. As relações entre oficiais alemães e judeus do Lehi teriam sido cordiais, o governo Nacional Socialista alemão, todavia, recusou-se a reconhecer tais “aspirações nacionais” judaicas, pois isto discordava com a política de seu aliado Mohammed Amin al-Husseini que era oposto ao estabelecimento de um Estado Judeu na Palestina. Assim, a tentativa de colaboração judia falhou.

O Stern Gang também é conhecido por seus atentados contra os britânicos e árabes residentes e pelo assassinato de representantes como Lorde Moyne e Folke Bernadotte, sendo que Bernadotte teria auxiliado judeus a fuga para a Inglaterra num momento em que britânicos e americanos recusavam a entrada de judeus. Posteriormente quando o estado judaico foi estabelecido o grupo passou a ser considerado ilegal e terrorista, como já era considerado durante o mandato britânico. Apenas nos anos 1980 que o nome do grupo foi reabilitado.

Todo o estatuto do Lehi está contido no documento “18 Princípios do Renascimento” que está aqui.

Fontes:

Triumph of Military Zionism: https://books.google.com.br/books?id=hlIBAwAAQBAJ&pg=PA218&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

Lehi: http://lehi.org.il/?p=3318

https://en.wikipedia.org/wiki/Lehi_(group)

The Hope Fullfied: The Rise of Modern Israel: https://books.google.com.br/books?id=OUPSrjZfcm8C&pg=PA238&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

Isto É, Do Hagganah ao Hamas: http://istoe.com.br/5325_DA+HAGANA+AO+HAMAS/

A nova Democracia http://anovademocracia.com.br/no-12/1052-a-historia-dos-lideres-do-terrorismo-sionista-israelense

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