Mulheres negras de grande influência na formação da história brasileira

Roda das Minas
4 min readOct 12, 2020

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O apagamento epistemológico é uma das estratégias racistas de omissão e deslegitimação da produção de conhecimento do povo negro. O esquecimento dessas mulheres é proposital e acontece devido ao caráter racista e colonial na nossa cultura, que reproduz o sistema discriminatório e de opressões excludentes. Precisamos reafirmar nossas interculturalidades e interseccionalidades que são diversas em nosso país!

Mulheres negras de grande influência na formação da história brasileira que tiveram suas lutas não reconhecidas pela produção eurocêntrica:

Carolina Maria de Jesus: Uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do brasil, cursou apenas as séries iniciais do primário. Reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” um clássico da nossa literatura, traduzido em 13 idiomas. Em 1960, quando lançado, vendeu mais de 80 mil exemplares, um best seller!

Dandara: Heroína do período colonial do Brasil, era uma das lideranças femininas negras no quilombo dos Palmares. Lutava e elaborava estratégias de resistência do Quilombo, contribuiu com toda a construção da sociedade de Palmares e para sua organização socioeconômica, política, familiar.

Benedita da Silva: Primeira Senadora negra do Brasil. Seus mandatos foram marcados pela defesa das mulheres e dos negros. É de sua autoria o projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no Panteão dos Heróis Nacionais. Tornou o 20 de novembro o “Dia nacional da consciência negra”, além de outros projetos que propõem a inclusão de negros nas produções das emissoras de televisões, filmes e peças publicitárias. Auxiliou na criação de delegacias especiais para apurar crimes raciais, cota mínima em instituições de ensino superior; propôs obrigatoriedade do quesito “cor” ou “etnia” em documentos e assinou a lei contra o assédio sexual e direitos trabalhistas extensivos às empregadas domésticas.

Tereza de Benguela: Sabe a mulher que representa o 25 de Julho no Brasil, dia internacional da Mulher Afro-latinoamericana? Então, é ela! Liderou o Quilombo de Quariterê, em Cuiabá, onde a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas durante o século XVIII. Recusou-se até o último instante a uma situação de escravizada, suicidando-se.

Lélia González: Intelectual, política, professora e antropóloga brasileira, defensora de um feminismo afrolatinoamericano, também atuou como desencadeadora das mais importantes propostas de atuação do Movimento Negro Brasileiro.

Marielle Franco: Socióloga com mestrado em administração pública, ativista, vereadora, presidente da Comissão da Mulher da Câmara e cria da Maré. Iniciou sua militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré. Marielle foi executada por peitar a milicia do RJ em 2018. Após 5 meses de seu assassinato, a Câmara do Rio de Janeiro aprovou 5 projetos de lei da vereadora, são estes: Espaço Coruja (PL 17/2017); Dia de Thereza de Benguela no Dia da Mulher Negra (PL 103/2017); Assédio não é passageiro (PL 417/2017); Efetivação das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (PL 515/2017) e o Dossiê Mulher Carioca (PL 555/2017). Mais de dois anos sem Marielle e ainda não se sabe quem a matou!

Antonieta de Barros: Já ouviu falar de Antonieta de Barros, a primeira deputada estadual negra do Brasil? Foi também a primeira deputada mulher de Santa Catarina. Catarinense e filha de ex-escravos, foi pioneira no combate à discriminação dos negros e das mulheres, atuou como professora, jornalista, escritora e fundadora e diretora do jornal ‘’A Semana’’ (entre 1922 e 1927).

Tia Simoa: Foi do Grupo de Mulheres Negras do Cariri, o Pretas Simoa, ícone na história da Abolição da Escravidão no Ceará. Teve um papel impactante na luta contra a escravatura, liderou a “Greve dos Jangadeiros” onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto.

Sueli Carneiro: Filósofa, doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP), escritora e ativista do Movimento Feminista e do Movimento Negro do Brasil. Uma das contribuições mais expressivas da carreira de Sueli está na fundação do Geledés — Instituto da Mulher Negra em 1988. O nome Geledés foi escolhido justamente para dar força e demarcar raízes: Geledé é uma sociedade secreta feminina de caráter religioso existente nas sociedades tradicionais iorubás. Ela expressa o poder feminino sobre a fertilidade da terra, sendo uma forma de culto ao poder feminino. Sueli Carneiro é uma das personalidades que tem muito a nos dizer sobre a vivência da mulher negra brasileira e como o feminismo antirracista do Brasil pode contribuir para as lutas feministas do mundo inteiro.

Por Natália Castro

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Roda das Minas

Mulheres que acreditam no afeto como ferramenta política para melhorar o mundo. Coletiva feminista e Projeto de Extensão da Universidade de Brasília.