coisas que eu aprendi numa startup (e que nenhuma faculdade te ensina)

Rodrigo Knoeller
9 min readJun 23, 2018

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ps: alerta de textão

ps2: você sente agonia ao ler um artigo todo em minúsculo, prevejo fortes emoções.

ps3: se também não suporta ver palavras em português misturadas com inglês, watch out.

ps4: se mesmo assim você tá aqui, i respect you.

essa é uma história sobre erros e aprendizados.

não erros mirabolantes e catastróficos — talvez também — mas pequenos erros que fazem uma baita diferença. já aprendizado é aprendizado, né?

antes de narrar essa história eu preciso te contar quem eu era antes dela.

entra vinheta “quem eu era antes dessa história” (a música você escolhe).

em agosto de 2016 o cara que te escreve não ia lá muito bem. tava atolado em dívidas, sem saber pra onde ir, sem perspectivas, emprego, dinheiro.

na época eu havia decidido que não trabalharia mais com comunicação, seja marketing ou jornalismo, e ignoraria uma experiência de 15 anos de correria, tropeções, erros e acertos.

meu último trabalho havia sido de 2011 a 2014 com trademarketing atentendo o mercado de cigarros. ci-gar-ros. em 2013 perdi um tio querido vítima do tabagismo, que só somatizou ao fato do meu pai também ter morrido pelo mesmo motivo 11 anos antes. tem erro mais catastrófico que esse?

quando a agência faliu resolvi que ia fazer o que eu sempre gostei de verdade: contar histórias.

caí de cabeça em estudo sobre storytelling e roteiros. fiz cursos on-line, presenciais, extensivos, comprei livros e comecei a escrever roteiros. esquetes, séries, curtas, longas. comecei a caçar a oportunidades nessa área. mas não tava sendo tão fácil quanto eu imaginava que seria… e só rolavam poucos free-las que pagavam pouco e exigiam muito.

de volta a 2016 eu colecionava boletos, roteiros que ninguém queria, lapsos de baixa estima e frustrações. muitas frustrações.

recebi o e-mail de um amigo escrito “esse cara é pica do poker, e é maluco que nem tu. tá tendo vaga lá”, junto com a indicação de uma vaga pra roteirista e outra pra social media.

“deus me livre social media. tô fora. aqui é roteirista, porra!”

o site tava escrito todo em minúsculo e com umas palavras em inglês misturadas com português. action, watch out!

era a high stakes academy, uma start-up educacional com uma mensagem muito forte sobre alta performance, formar os próximos melhores do mundo e hackear a performance humana. não tinha ideia do que era hackear, mas pirei.

o tal do “pica do poker” era o gabriel goffi. e o cara era foda mesmo. ex-jogador profissional que fez história no poker high stakes (jogos de limites altos, com valores estrondosos) e acabou desenvolvendo — com base em conceitos de grandes autores e experiências aplicadas com ele mesmo — o moving up, uma metodologia prática e eficaz de melhoria de foco, concentração, sono, saúde e um monte de coisas, baseado na harmonização dos cinco principais pilares da nossa vida.

uma puta doidêra. mas que fazia sentido (dos cursos que eu já fiz o moving up com certeza foi um dos que mais me impactou) e já contava com mais 3000 alunos altamente engajados e transformados. pirei de novo.

a data da aplicação era pro mesmo dia, e eu tinha 12 horas pra gravar um vídeo me apresentando, editar, subir no youtube e mandar o link. get shit done.

o vídeo chamou atenção e acabei participando do processo seletivo. fazendo os desafios (sempre com deadlines sufocantes) enquanto administrava uns free-las, cheguei até o call com o próprio goffi, pelo skype.

aí eu descobri o primeiro erro: a vaga não era pra roteirista, e sim pra social media, pra criação e publicação de conteúdo. a pessoa que escreveu a vaga errou a nomenclatura. se não fosse o erro de alguém você não estaria lendo isso agora.

pensei em declinar mas olhei pros boletos. no fim eu gostei, ele gostou, nós gostamos e eu fui contratado.

o que aconteceu depois disso foi bem difícil de explicar. mas o intuito desse texto é tentar.

de cara te adianto que evoluí 20 anos em quase 2. foi surreal.

me recriei, me descobri, me entendi. viajei, conheci pessoas incríveis, errei muito e aprendi mais ainda.

e são justamente esses erros e acertos que eu quero dividir aqui.

1. estabeleça um ritual

na primeira semana que viajei pra sede da empresa já percebi umas coisas diferentes. todo dia a manhã seguia um mesmo roteiro específico e intencionado. o que beber, o que fazer, o que ouvir, o que sentir. cada um adaptava seu ritual matinal à seu modo.

quando comecei a adaptar o meu e ganhar o hábito de seguir o mesmo roteiro nas primeiras horas o dia, senti que tinha tempo sobrando pra me preparar pro dia que eu tinha pela frente. aprendi a colocar intenção nele, e percebi alguns benefícios na minha saúde e disposição.

logo eu que costumava acordar às 11h.

2. antes de mais nada, dá uma meditada.

taí uma coisa que eu sempre tive preconceito. esses loucos que ficam meditando horas.

como a meditação fazia parte do ritual matinal de todo mundo por lá (e o próprio moving up aborda esse assunto), acabei me permitindo descobrir também. game change.

ela foi parte crucial no meu processo de autoconhecimento, e pra descobrir valores, missão, propósito, ego… vou falar sobre tudo isso mais à frente.

enfim, algo que aprendi e incorporei 100% por conta da influência da hsa e não vivo mais sem.

3. sistemas, processos e frameworks

quer evoluir e ser promovido à um cargo maior que o seu?

então trate de procedimentar tudo que você faz, pra que qualquer pessoa aprenda de forma clara e rápida. claro que se você for um ceo, um diretor ou até mesmo um gerente vão existir funções bem complicadas pra ensinar em uma página.

isso serve melhor pra tarefas mais operacionais. além do mais, se você ensina, você aprende.

contávamos com uma ferramenta só pra procedimentar nossas principais atividades. sempre que eu precisava aprender uma coisa sobre alguma ferramenta que eu até então nunca tinha encontrado, era só acessar esse banco de dados.

checklists, frameworks, sistemas. isso tudo era levado à sério por lá. e eu, uma das pessoas mais desorganizadas que você um dia pode encontrar, acabei me organizando também e trazendo essas referências pra minha vida pessoal.

só preciso aprender a procedimentar a arrumação do meu armário.

4. liderança é conquistada no dia a dia.

liderança é assunto mega estereotipado. hoje em dia existem cursos, treinamentos e conteúdos sobre liderança. mas liderança é empatia, é se colocar no lugar do outro. dos outros. como isso se ensina?

não adianta se fechar no casulo e chorar como um bebê que as coisas têm que ser feitas do seu jeito. no mercado de start-ups a liderança pode ser rotativa, e às vezes volátil. muitos passam por líderes, nem que seja por um momento.

uns mostram que nasceram pra isso, outros nem tanto. líder que não conhece as forças do time e que recua das responsabilidades não é líder.

aprendi que ser líder é correr junto e sangrar a ferida do outro. se é pra jogar um liderado na fogueira, já tô errando feio. é assumir cagadas que não são suas, bater no peito, saber lidar com feedbacks e, principalmente, ter um ponto fraco. liderar é ser humano.

5. quem tem um time bom, tem tudo.

pô e como tem. pensa o seguinte…

o ritmo de mudança no mercado de start ups é acelerado demais. pivota aqui, pivota lá, pivota aqui, pivota lá. o que você faz hoje pode não ser o que é preciso fazer amanhã.

o time tem que ser versátil por conta dessas mudanças constantes, se adaptar rápido e exalar resiliência. se o líder muda ainda mais que o normal, esse superpoder se torna ainda mais importante.

quanto mais conhecimento um time tiver, mais chances de se adaptar à pivotagem ele tem. e a hsa era recheada de pessoas com essas características.

quem não tinha tanta versatilidade acabava sendo expert. e muuuuuuuuito foda na sua arte. sorte dos mais adaptáveis (como eu) que aprendiam sempre com os melhores. na real todo mundo aprendia com todo mundo. o tempo todo.

aprenda a usar seus colaboradores da melhor forma. conheça-os. entende seus momentos e explore suas habilidades. a peça de dama não tem utilidade no jogo de xadrez.

se o time veste a camisa, é só golaço. teve um momento que o time cortaria o pulso só pra continuar no exato lugar onde estavam, lutando pelo propósito de impactar pessoas e mudar o mundo.

alguns até cortaram, mas com a faca cega a dor é mais intensa.

6. foque em ser 1% melhor a cada dia.

seja hoje melhor do que foi ontem. juro que é simples assim.

aprenda alguma coisa nova, melhore um pequeno detalhe no seu trabalho, reconheça o erro de ontem. meio autoexplicativo.

se o time que tá jogando o mesmo jogo que você faz isso, subindo a barra every fucking day e sendo melhor 1, 3 ou 5% a cada dia… quem é você pra ficar estagnado na mesma porcentagem?

7. se reinventar é bom, mas pera lá…

foi o jack welch quem disse: “se o ritmo das mudanças externas for mais rápido que o das mudanças internas, é sinal de que o fim está próximo”.

tá perfeito, jack! é isso mesmo. a zona de conformo traz a estagnação, que por sua vez te deixa em séria desvantagem perante os concorrentes, sobretudo num ritmo alucinado de evolução tecnológica. mudar é preciso.

mas se eu reinventar a roda o tempo todo chega uma hora em que ela pode deixar de ser redonda. e aí não roda mais.

legal mudar os caminhos, mas desde que haja o movimento. nenhuma ideia não funciona até que se prove.

a vida é cíclica e o mercado também, saiba disso. mas saiba também o momento certo de mudar.

quem muda de rumo o tempo todo se perde.

8. quando eu digo “eu controlo o meu ego”, foi o meu ego que disse.

“ego” era uma palavra que eu não tinha ideia do real significado. mas era um assunto muito falado pelo goffi, e acabei me interessando mais.

já tinha lido algumas coisas do pierre weil e do james redfield, mas foi lendo o eckhart tolle que realmente vi que não sabia nada de ego.

ele existe mesmo. tá aí, com você agora mesmo. talvez ativo, talvez sonolento. mas está.

o que você está pensando sobre esse texto nesse exato momento pode nem ser você. já parou pra pensar nisso? se você responder “eu não preciso”, pode que ser que seu caso já seja grave.

a verdade é que não é fácil entender, lidar ou dominar o ego. na minha humilde opinião dominá-lo 100% é praticamente impossível, e eu sinceramente não sei se você vai querer fazer isso. ele é tão benéfico quanto traiçoeiro.

num mercado milionário onde os grande líderes ainda nem completaram 30 anos, o terreno é perfeito pra que o ego faça estragos. dinheiro, sucesso, reconhecimento. ele se alimenta disso.

é ele que te diz o que é certo ou errado. que procura defeitos onde não têm. que julga. que culpa. que te diz que não tá bom e é hora de mudar de novo.

reconheça seu ego. aceite que ele faz parte de você e o convide pra tomar um vinho.

mas com intenção.

9. conhece-te a ti mesmo.

descobri o quanto é importante saber quem eu sou e pra onde eu vou. definir meus valores, ter clareza das minhas paixões, me entender. autoconhecimento foi das coisas mais extraordinárias que me aconteceram, e era uma busca que norteava todo mundo dentro da hsa.

pelo que eu me importo? o que eu gosto de fazer? no que eu sou bom? quais os valores que eu não abro mão?

isso tudo soava uma grande bullshit pra mim. mas hoje vejo que nada faz tanto sentido.

o goffi é um cara muito evoluído nessa busca constante por autoconhecimento, e serviu como um grande aprendizado pra mim. e aconselho que seja pra você também.

existem vários caminhos pra se obter autoconhecimento, não tem jeito certo ou errado, e não julgar a forma como alguém segue essa busca pode ser um bom sinal de que você está no caminho certo.

meditação, estudos, fóruns, seminários, coachs, retiros de meditação, plantas de poder e ayahuasca.. fui bem longe nessa minha busca. e sinto que é só o começo. tenho muito pra descobrir ainda.

descobrir sobre esse novo cara que eu sou depois de passar por uma jornada profunda como essa.

hoje estou voando pra longe, com asas mais fortes, alongadas e direcionadas.

tenho um grande desafio pela frente e nunca antes nos meus 35 anos eu me senti tão preparado como agora.

posso respirar e olhar pra trás, rever os amigos que fiz, reconhecer essa transformação que tive e ser grato por essa oportunidade. sigo em frente 200% melhor.

thank you gg. thank you team. thank you tribe.

e bora pra action.

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