Como se preparar pra uma entrevista de desenvolvedor para fora do Brasil.

Rodrigo Pinto
9 min readNov 22, 2016

Antes de qualquer coisa, não sou RH, nem mesmo Head Hunter. Sou desenvolvedor software há alguns anos e já tive a oportunidade de entrevistar muitos profissionais e também já estive muitas vezes na posição de entrevistado.

Resolvi escrever esse artigo para compartilhar experiências pessoais e de conversas com amigos.

Era para ser um artigo curto, mas infelizmente tinha muita informação que precisava ser compartilhada e que pode ajudar você na sua próxima entrevista para fora do Brasil e no Brasil também.

Pontualidade

Primeiro de tudo, pontualidade. É bem normal termos essa brincadeira da pontualidade brasileira. Marcamos o encontro com os amigos às 19h, mas sabemos que eles só chegarão depois das 20h, isso faz parte da cultura brasileira.

Quando criança, sempre que tinha uma festa para ir lembro de escutar minha mãe dizendo sobre o horário marcado:

Imagina sermos os primeiros a chegar, não sou pudim de festa.

Falando de uma entrevista, principalmente para fora do país, não é de boa prática deixar as pessoas esperando. Por isso vou listar algumas dicas relevantes:

  1. Se planeje, esteja ao menos 10 minutos antes do horário pronto. Fique em frente ao notebook, e mande um email e/ou uma mensagem para notificar que você já está preparado.
  2. Se o horário for inconveniente, muito cedo(6am) ou muito tarde(1am), solicite para remarcar, a empresa não ficará incomodada.
  3. Se for o caso de se atrasar, envie um email com certa antecedência avisando sobre o atraso.
  4. Se tiver dúvidas em relação ao fuso horário do local que você fará a entrevista, confirme. Pode ser que o horário de verão, ex.: CEST(Central Europe Summer time), BRST(Brasília Summer Timer), então confirme com antecedência para evitar algum atraso não intencional. Mande quantos emails forem necessários, mas confirme o horário.

Conheça a empresa

Certa vez, fazendo uma daquelas entrevistas de primeiro contato, aquelas para conhecer o candidato e apresentar um pouco mais a empresa, após o papo inicial perguntei ao entrevistado se ele tinha alguma dúvida sobre a empresa que ele gostaria de esclarecer, e a para minha surpresa a resposta foi:

Olha não sei sobre a empresa. Vi apenas o que está na página inicial do site, mas como está em Alemão não entendi.

Essa situação foi bem inusitada e me deixou meio desconcertado. Em tempos de Google, e considerando que a vaga era para um desenvolvedor de software, eu esperava ao menos que a pessoa soubesse o que a empresa fazia/em que mercado a empresa atuava.

Claramente a “mensagem” que o candidato passou não foi muito boa, mas fiz meu papel, expliquei em detalhes sobre a empresa, o negócio e etc.

Pra você evitar essa situação, existem algumas coisas que podem ser feitas para descobrir mais sobre a empresa.

  1. Entre no site, blog e plataformas e leia todas as informações possíveis. ps: Se você não sabe a língua, use o google tradutor. ;-)
  2. Faça buscas usando o Google do país que a empresa está sediada. Exemplo: google.de(Alemanha), google.com.au(Austrália) e outros.
  3. Entre no AngelList, CrunchBase, LinkedIn e todos os sites que possam te dar alguma informação sobre a empresa e procure.
  4. Descubra quem são os C-Levels da empresa(CEO, CFO, C..) e o que eles fizeram, é bem possível você achar artigos na internet pelo nome deles também.
  5. Cadastre-se na plataforma/aplicativo, navegue no produto como se fosse um usuário e procure entender como a empresa está resolvendo o problema.

Apresentação

Posso dizer que o mundo sabe que as Startups são bem flexíveis quanto a dress-code e isso não se aplica somente para o Vale do Silício.

A camisa estilosa, assim como a bermuda ou um boné não são um problema, já fazem parte da cultura. As pessoas vestem o que elas são. Até porque, capacidade não se avalia pela roupa que se veste, mas pelo resultado que se entrega.

Capacidade não se avalia pela roupa que se veste, mas pelo que se entrega.

No entanto, quando estamos falando de uma entrevista, a primeira impressão é importante, e ter uma boa apresentação faz diferença sim.

Por algumas vezes e mesmo quando ainda estava no Brasil, reparei que nas entrevistas remotas(Skype, Hangout e etc) as pessoas tem menos cuidado com a apresentação.

Já vi profissional com camisa rasgada, com fisionomia e voz de quem tinha acabado de acordar, e até mesmo com o ambiente ao fundo "inapropriado".

Não quero parecer hipócrita nesse ponto, mas eu imagino que se a mesma pessoa estive fazendo a entrevista presencialmente a postura seria outra. O que sugiro é se preparar como se fosse fazer a entrevista na sede da empresa. E para isso listo algumas dicas abaixo:

  1. Se a entrevista for em horários muito cedo, acorde com uma hora de antecedência. Faça seu ritual diário, tome seu café, tome banho e vista-se como se estive-se indo para a empresa.
  2. Se você não tiver um escritório e/ou ambiente apropriado, prepare o ambiente ao fundo. Se estiver no quarto, arrume a cama, teste a câmera em uma posição que não fique estranho, ou faça na sua sala se for o caso. Tentar evitar ruídos como buzinas, latidos e coisas do tipo é algo bom, mas nem sempre é possível.
  3. Se estiver em horário de trabalho, programe-se para tirar um tempo e ir para um CoffeeShop ou co-working onde você possa fazer a entrevista de forma tranquila.
Print Screen do Appear.in

Ligue a câmera

Já se foi a época onde se escolhia o profissional pela foto no currículo, e hoje em dia isso nem faz mais sentido.

No entanto, esse tópico não é sobre seu CV, mas sim sobre comunicação .

É importante você ter em mente que a pessoa do outro lado quer conhecer você e quer se apresentar para você também. Mesmo que seja por pouco tempo, ligue-a ao menos para dar um Olá.

Além de ser uma boa prática, ligar a câmera ajuda a criar uma conexão com o entrevistador, traz proximidade. Sabendo disso, da próxima vez que você fizer uma entrevista remota, ligue a câmera.

Coloque energia na sua fala

Conversando com um amigo, ele mencionou que entrevistando um profissional para uma vaga que requeria mudança de país, em uma fase já avançada do processo seletivo ele perguntou ao entrevistado duas coisas:

O que acha dos desafios da empresa? Você está animado para mudar para cá?

A resposta do profissional que estava aplicando para vaga foi:

é… legal. Estou sim. (e somente isso)

Esse amigo disse que na hora ficou em dúvida se a pessoa realmente tinha interesse na posição, porque não sentiu firmeza na resposta.

Imagina você entrando em uma loja para adquirir um produto, logo procura um vendedor e pede explicações sobre o produto.

Ele começa a explicar meio de cabeça baixa, aquela voz de quem não queria estar fazendo aquilo, só responde com meias palavras e sem qualquer motivação.

Você : O produto XPTO é bom?

O Vendedor: É bom.

Você : Toca mp3?

O Vendedor: Toca.

E assim por diante…

Na entrevista, você que é o vendedor. Imagine você falando desanimado ou sem qualquer energia na sua fala. A mensagem que você está passando é que você não está empolgado, não está interessado.

Talvez seja esse o caso, mas então é melhor sair do processo o quanto antes. Mas se esse não for o caso, prepare-se para colocar energia na sua fala. Entusiasmo é uma boa forma de criar conexão com interlocutor.

Extra: Deixa uma garrafa de água próxima, a boca vai secar durante a entrevista devido a conversa e ao stress normal da situação. Ter uma água ao lado definitivamente vai te ajudar.

Parte Técnica

Print Screen do Counter exemplo do Redux

Deixei a parte técnica para o final propositalmente. Como desenvolvedor sei que muitos de nós focamos em se preparar para a parte técnica e esquecemos de todo o resto.

Considerando que já falei o que acredito ser importante, vamos para a parte técnica.

Desafio técnico

Normalmente o desafio técnico é a segunda etapa das entrevistas. Na maioria das vezes, é o desafio que define se você está no perfil que a empresa está procurando, e passa uma ideia de seu conhecimento.

Particularmente eu sou do estilo menos é mais. Em todo desafio técnico que participei procurei ser pragmático e resolver o problema que foi pedido, sem ser presepeiro. Alguns pontos importantes para se manter em mente são:

  1. Primeiro de tudo, resolva o problema. Antes de colocar qualquer framework, Design Pattern ou qualquer coisa extra ao problema, resolva o problema. ;-)
  2. Se você está aplicando para uma vaga onde a empresa trabalha com uma linguagem OO, resolva o problema com Orientação a Objetos, se for para uma vaga mais funcional, resolva de forma funcional,
  3. Se o desafio não deixar explícito que você precisa resolver com algum framework, resolva ele com a menor quantidade de dependências possíveis, se não foi pedido nada, use isso como argumento para sua solução.
  4. Documente sua solução. Quando resolvemos um problema sozinho(que é o caso do desafio de um processo seletivo) é fácil saber porque determinado caminho foi seguido ou solução foi tomada, mas isso está claro para você e não para quem recebe a solução. Quando a pessoa que for avaliar a sua solução tem uma descrição disponível dos "porquês" da solução, isso ajudará no julgamento.

Documentar as decisões é uma excelente prática de explicar porque o caminho seguido foi X e não Y, e também passa a mensagem de experiência/senioridade. E veja só, um simples README no projeto resolve.

Sessão de "pairing"

A sessão de pair-programming pode variar bastante. Algumas empresas trazem um problema genérico, outras pedem pra você trazer um pedaço de código que pode ser melhorado e algumas trazem até problemas reais do dia à dia da empresa de forma simplificada.

Nas sessões de técnicas que eu estive como entrevistador, me preocupei mais com o todo do que somente com a solução do problema.

Um bom exemplo que pude observar durante as sessões é que a maioria dos profissionais com mais experiências procuravam pela suíte de teste para rodá-la antes de qualquer outra coisa. Não estou dizendo que isso foi 100% dos casos, mas era interessante a preocupação em descobrir se havia algo no código que poderia explicar o código.

A maioria dos profissionais com mais experiências procuravam pela suíte de teste para rodá-la antes de qualquer outra coisa.

Alguns dos pontos que eu tento seguir e também observar são:

  1. Verifique se existe uma suíte de teste, execute, e se estiver quebrada resolva os testes.
  2. Pense em voz alta. Quando estiver resolvendo o problema, converse com os entrevistadores, explique o raciocínio que você está seguindo e pergunte para eles também, afinal não é um reality code e sim uma pair- session.
  3. Nem sempre é possível resolver o problema no timebox definido, tente passar a ideia de como seria sua solução explicando o design com o máximo de detalhe.

E pra fechar

Não existe fórmula mágica, cada empresa e pessoa que avalia tem uma regra própria. Esses são alguns pontos que reparei estando dos dois lados e de conversas com amigos que passaram pelo mesmo.

Alguns "nãos" podem aparecer no meio do caminho, não desista se isso acontecer. Tenha em mente que você não é o único no processo seletivo.

Lembre-se que o Romário para fazer 1000 gols, perdeu muito mais que o dobro deles.

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Rodrigo Pinto

💻 Software Engineer; 🎯 Lean mindset; 🌍 Avid traveler; Opinions are my own.