Por que Fernando Diniz quer que você emagreça? E por que torcemos por ele?

Rodrigo Saad
3 min readApr 11, 2023

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Porque nós gostamos de alguém que inventa, mas longe de nossos times (que certamente são os maiores rivais do seu). Pronto, se é isso que você queria ouvir, está feito. Apesar de que esse discurso talvez esteja começando a sair de moda com o título carioca do Fluminense. Afinal, ele ganhou algo. Ele passou na prova que as barrigas de cerveja um pouco para fora da camisa altivamente impõem a todo técnico brasileiro que está começando sua carreira. Porém, diga-se, a perseguição a Fernando Diniz é mais atroz. E o motivo disso é o mesmo que faz seus fãs parecerem parte de um culto (temos que nos enxergar, galera…): ele é diferente.

Encorpado — e como! — a uma barriga de cerveja um pouco para fora da camisa está um homem acomodado. Ele não quer mudar. Ou, se quer, tem medo. Afundado em seu sofá cometendo suas afrontas diárias aos direitos humanos, ele diz a alguém mais novo: “Você tinha que ver como era antigamente. Aquilo sim era futebol de verdade”. E a vida segue. A mediocridade do futebol brasileiro como um todo é maravilhosa para esse nobre barrigudo, que pode continuar arrotando sua arrogância. Que o time continue com laterais mais preocupados em não comprometer do que em colaborar. Que os pontas continuem focados em ajudar os laterais não-comprometedores. E que o meia, “que tem talento, mas não tem vontade”, siga sua sina de lampejos solitários. O bom futebol presente até poderia ser divertido, mas nem se compara a se vangloriar de ter visto o bom futebol passado.

Eis que nesse marasmo o Audax chega à final do Campeonato Paulista enchendo os olhos de quem o vê. O técnico do time traz ideias que sempre foram julgadas como impossíveis de serem aplicadas em um time de baixo orçamento. Seu nome? Fernando Diniz. Naturalmente, ele começa a sua ascensão para a Série A. Com seu toque, a mesmice vai sendo quebrada. Matheus Ferraz aprende a sair jogando sob pressão. Caio Henrique revitaliza sua carreira na lateral esquerda. Gabriel Sara e Igor Gomes deixam por um momento de serem “meninos com talento, mas ‘sei lá’” para ajudarem o São Paulo a liderar o Brasileirão. No entanto, essa mostra de que é possível melhorar qualquer jogador era demais. “Imagina se esse maluco convence os outros de que ele tá certo?”. Era necessário um contraponto. Então, já diria outro tricolor que certamente estaria muito feliz hoje, aparecem os “idiotas da objetividade”. Não é idiota cobrar resultados. Mas é idiota brigar com o campo, como muitos fizeram. E sempre em prol da objetividade tosca que um cabelo ralo gosta de exigir. A objetividade que implora pelo jogo vazio que tem tomado as rodadas do Brasileirão. A objetividade que tem horror à evolução porque ela demora e não é “eficiente”.

No entanto, por mais que tenham tentado podar todas as flores, não têm conseguido deter a Primavera (frase de Pablo Neruda; por mais que o lado poeta da bola aflore com o Dinizismo, obviamente temos limitações). E o Fluminense fez um 2022 de altíssimo nível, sendo 3º colocado do Brasileirão e semifinalista da Copa do Brasil. Ficou no quase? “Haha, mas esse é o Diniz, ele sempre fica no quase”. No momento em que Abel Braga foi demitido, isso não seria tratado como aquém, mas sim bastante além das expectativas. Porém, com um futebol tão bom sendo apresentado e superando expectativas, era preciso achar algo para desmerecê-lo. Então ele ganhou a Taça Guanabara com uma grande virada sobre o Flamengo. “Não valeu, tem que ser um título de verdade”. Agora, ele ganhou um Carioca com uma virada maior ainda sobre o time da Gávea. E, sim, surgiram algumas falas estúpidas de que “é só estadual”. Mas essa oposição em prol da mediocridade parece diminuir. Porque, aos poucos, Diniz aparenta comprar sua libertação das críticas cegas que recebia. E o que me faz admirá-lo ainda mais: ele não quer mandar ninguém engolir nada. Até porque, meu consagrado, é melhor dar uma maneirada nesse chopp…

Reprodução: Fluminense F.C.

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Rodrigo Saad

Medium para postar algumas reportagens autorais além de textos criativos. Publicações anteriores ao dia 04/03/2023 haviam sido veiculadas previamente no Revue.