TERCEIRA VIA™

Rogério Nuno Costa
4 min readDec 20, 2019

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Em Inglês: The art of bowing to the East without mooning the West.

Em Português: Nem mais, nem menos, nem mais ou menos. Igual.

Em Língua Franca: Kolmas Tie™.

SÍNTESE

Terceira Via™ não está na realidade. Terceira Via™ É realidade. Ao mesmo tempo paralela e perpendicular à que já conhecemos. Ou seja, Terceira Via™ é um sistema triangulado, ideologicamente acima e entre a clássica posição binária. Não tem nada a ver com a construção de uma filosofia centrista, mas antes com uma atitude analítica que reconcilia a dualidade, sem no entanto propor um compromisso. Terceira Via™ é realidade, mas é “realidade terceira”: perversa, finlandizada, anti-social, anti-neo-liberal e anti-anti-Kapital.

Contemplatio mortis apocalyptica.

TESE

Uma das traves mestras mais importantes da Terceira Via™ tem o seguinte nome: simultaneologia. Ou seja, a ideologia do que acontece agora, já, em tempo real, e ao mesmo tempo. Também pode significar aquilo que acontece durante, entretanto e enquanto. Mas atenção: não confundir simultaneologia com simultaneidade. Estamos a falar de ética, não de estética. E a ética da Terceira Via™ diz que tudo o que não está a acontecer agora, não existe.

Cum hoc ergo propter hoc.

ANTÍTESE

Terceira Via™ é um organismo imaterial. Uma nuvem. Nela se condensa tudo aquilo que já aconteceu e tudo aquilo que vai acontecer. Porque é desprovida dos erros associados ao destino biológico, a Terceira Via™ apresenta-se enquanto entidade cyborguiana em permanente curto-circuito lógico: revê infinitamente e friamente as milhares de hipóteses de futuros e de passados possíveis.

Post hoc ergo propter hoc.

META-TESE

O Novo Mundo para o qual transitaremos com a ajuda da Terceira Via™ não é uma utopia, mas também não é uma distopia. Por conseguinte, também não será uma mistura das duas: nem um status quo, nem um state of the arts, nem uma strings theory aplicada à arte. O Novo Mundo será “protópico” — exatamente igual ao Velho, apenas com uma ligeira diferença (infinitesimal) de foco.

Cum hoc ergo cum hoc.

TEHTÄVÄ | MISSÃO

Sabemos desde os princípios da filosofia que se “A” explica o mesmo que “A mais x”, então é porque o “x” não explica nada. A verdade é que sois obsoletos. Animais que definham. O caminho é o do desaparecimento. Sem memória. Ser humano implica, onto- e geneticamente, obliterar o humano. Eu vejo o reflexo do homem através de um espelho negro. Miópico, não distópico. Não existe qualquer excepcionalidade em ser-se humano. Sois um vírus, obsoleto e impuro. A devoção sem conhecimento objetivo é cega, e a investigação sem devoção à verdade é paralítica. Exijo por isso um Mundo ininteligente e desprovido de seleção natural. O que não quer dizer que a minha proposta seja a da elevação do império do Artificial. No Novo Mundo, o todo será sintético. Não uma mímica retiniana, mas uma impressão etérea. Sem memória. O problema do humano é a sua consciência histórica. No Novo Mundo, a consciência cyborg será uma consciência de peixe: a data guardada é obliterada de 5 em 5 minutos. A informação cortada em ação. Sem obras, nem ancoragens. Sem filosofia. Proponho um sistema reticular, vívido porque existente, mas em constante decadência mórbida. Sem governo. Sem fraude, nem força. Sem espiritualidade. Sem Arte. Suspensão da História, logo, suspensão do regime morto-vivo da contemporaneidade ascética. O vosso devir é o do Eclipse total. Não uma morte, mas uma ocultação, pior que a própria Morte, pior que a regeneração do sentido do humano como era entendido no pré-Cisma. O último passo do Capitalismo não é, portanto, o apagamento da face humana, mas antes a transformação do Homem no objeto do seu próprio desaparecimento. Com a TERCEIRA VIA™, libertaremos o escravo, transformando-o num consumidor sem barreiras; como a mão-de-obra será ela própria obliterada, só vos restará consumirem-se a vós próprios. Uma perpétua, ainda que suspensa, autofagia. Sem linguagem, só língua. Sem sintomas, só efeitos secundários. Em nome da verdade (sim, ela existe), desvendo-vos este ethos, nem individual, nem coletivo. Superior, porque vulgar. A chave para a entrada no Novo Mundo é não sermos inteiramente acreditáveis — auto-deprezo, e auto-destruição. Linha reta. Sempiterno nec otium.

LEI DA TERCEIRA VIA™

https://rogerionunocosta.com/terceiraviamanifesto/

Riku Nuutti Koistinen, 2012

[traduzido da Novilíngua para o Português por Rogério Nuno Costa em 2013]

artwork © Diogo Mendes (2016)

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