Arnaldo Jabor está atrasado
Em 2016, o jornalismo literário comemorou 50 anos. Nascido de uma não-entrevista com o cantor Frank Sinatra, a matéria Sinatra está resfriado — marco inicial do estilo que une as técnicas do jornalismo com a literatura — publicada na revista americana Esquire e escrita por Gay Talese, traz um eloquente perfil do entrevistado, sem que a entrevista tenha acontecido.
Quando recebeu do editor da Esquire, Harold Hayes, o convite para escrever um perfil do cantor, Talese relutou. Era seu primeiro trabalho para a revista, Sinatra costumava tratar mal a imprensa e o jornalista temia ser confundido com um repórter de celebridade.
Mas, quando Sinatra confirmou que aceitaria o convite para uma entrevista, Talese largou a hesitação e voou para a costa oeste — Los Angeles — atrás do cantor. Na hora marcada, o assessor de Sinatra, Jim Mahoney, chegou ao local do encontro e disse que Sinatra não poderia recebe-lo tão cedo — talvez nunca — porque estivesse resfriado.
Para um jornalista convencional, “a pauta caiu”. Mas Talese escreveu uma reportagem que já dura cinco décadas. O fato é a prova de que o quê não acontece também faz história.
Cinquenta anos depois, no Teatro Positivo (Curitiba/PR), cinco dias antes da votação do impeachment de Dilma Roussef na Câmara dos Deputados, Arnaldo Jabor proferiu uma palestra: Brasil, Presente e Futuro. O conferencista subiu ao palco dando uma de Tim Maia: reclamando, pedindo mais luz para a plateia. Nisso, já foi aplaudido, simplesmente como quem é aplaudido por falar o que quer. “Vocês estão me vendo, né?”, perguntou ele.
Mas a “luz” que a plateia tanto queria com a sua palestra, Jabor começou de cara dizendo o óbvio: que não viria. “Eu também estou perplexo. Não sei as soluções. Ninguém sabe o que vai acontecer. É uma novela de suspense”, disse ele, ao que interrompeu de novo para pedir luz.
Antes da palestra, a imprensa seria recebida por Jabor para uma conversa. Ele não estava resfriado, mas chegou atrasado. “Está na hora, já!?”, perguntou para o assessor assim que a imprensa entrou no camarim. “Cinco minutos. Já tocou o segundo sinal”, respondeu a assessoria. “Eu preciso destes cinco minutos”, disse ele. Entrou no banheiro, saiu do banheiro, passou pela imprensa e foi para o palco, pedir e não dar a luz.
Nós, a imprensa, ficamos lá, no escuro, olhando para as coxinhas que Jabor não comeu, para as bebidas que ele não bebeu, para as câmaras que ele não fotografou, para as perguntas que ele não respondeu.
Como o que não acontece também faz história, como a ONE tem uma forma diferentes de fazer jornalismo, como toda interlocução determina o rumo de uma conversa, como toda pergunta, mesmo sem resposta, pode esclarecer alguma coisa, e como não estávamos atrasados, compartilhamos com você, leitor, a nossa conversa de um lado só.
Panegírico
- Você está adaptando para o cinema o conto O Livro dos Panegíricos, de Rubem Fonseca, e que não vai se chamar assim porque (segundo você mesmo) as pessoas nem sabem o que é um panegírico. O que mais as pessoas deveriam saber e não sabem?
- Seus textos são sempre muito niilistas — do ponto de vista social e político –, pragmáticos e detratores. Para quem você proferiria ou escreveria um panegírico?
- O que diria este panegírico? (Pelo menos como começaria)
- Voltando à detratação e ao niilismo, sua crônica semanal desta semana, O Sim, O Não e O Mesmo fala que o Brasil sempre volta ao Mesmo, personificado em várias “desgraças” de nossa história. Como remover “O Mesmo” do Brasil?
- Você realmente pensa que o Brasil pode não sair deste caos em que está, como escreveu ou disse recentemente, ou exacerba isso nos seus textos como uma “licença poética” para alarmar e despertar os leitores? A sua visão pragmática é uma provocação à reflexão ou é realmente algo intrínseco?
- Seu objetivo, ao escrever, é tirar o Brasil d’O Mesmo? (Se “não”: por quê escrever?)
- E o Jabor, no que é o mesmo: o mesmo cineasta, o mesmo jornalista?
Cinema
- Por que você escolheu O Livro dos Panegíricos para voltar ao cinema? Que temas você quer abordar?
- Esteticamente, o que podemos esperar do filme?
- Na matéria da semana passada, que fala de seu retorno ao Estadão, você diz que dois filmes que chamaram sua atenção nos últimos tempos foram Birdman e Chatô. Eu gostaria de saber por quê e, em relação ao Chatô, como você avalia também (especialmente porque conhece os mecanismos de produção de um filme), em termos de produção, incentivo e realização, toda a “novela” que acompanhamos para sua finalização.
República de Curitiba
- Artisticamente, o que você conhece da “República de Curitiba”?
- Antes da Lava Jato, o que você lembrava ou conhecia de Curitiba?
- Hoje, isso mudou?
Impeachment
- Onde você vai assistir a votação do impeachment no domingo?
- E com quem?
- Embora defenda a queda do PT, você diz que não sabe se é melhor impeachment ou não, e diz que tem medo do PMDB, que eles são ainda mais solertes que o PT, que tem receio que eles destruam a Operação Lava Jato. Então, porque defender que eles cheguem ao poder e desta forma, no mínimo, controversa? É a incapacidade de crer que a oposição consiga desbancar o Lula se deixarem na mão do povo?
- Quem sai ganhando com o impeachment? E o quê?
- Quem sai perdendo?
Fala que eu te escuto
- Tem alguma coisa que você não tenha oportunidade de falar na Rede Globo?
- Aqui, na ONE, o que você falaria de Curitiba, para os curitibanos?
- Se você estivesse no meu lugar, o que você perguntaria ao Arnaldo Jabor?
- E o que você responderia a ele?
Luxo ou Lixo
- Deus: luxo ou lixo?
- Alcunha de “República de Curitiba”: Luxo ou Lixo?
- Michel Temer Presidente: luxo ou lixo?
- Cinema: luxo ou lixo?
- Política: luxo ou lixo?
- Jornalismo: luxo ou lixo?
- E a última: cinema ou política?