"Operação Avalanche" (EUA, 2016 — Dir.: Matt Jhonson), filme de abertura da 5a Edição do OLHAR — Festival Internacional de Cinema de Curitiba | (Foto — Divulgação)

Festival de Cinema de Curitiba: Opening

OPERAÇÃO AVALANCHE

Rômulo Zanotto

--

Apesar de cada vez mais complexo, o mundo está se tornando também um lugar cada vez mais atraente e instigante. Pelo menos para os aguçados, perplexos, inteligentes, curiosos e criativos. A pluralidade de perspectivas, narrativas, estilos, pessoas, vidas, pensamentos, crenças, teorias, tornou dificultoso discernir o falso do real, o verdadeiro do imaginário, o viável do inviável, o possível do impossível, a História da ficção.

Todos os dias, sites e jornais sensacionalistas compartilham sem esforços notícias falsas e absurdas. Ministro de Educação que recebe estuprador, agente federal condenado por contrabando conduzindo político condenado por corrupção, desobediência premiada.

É preciso, por parte dos veículos sérios de comunicação, muito esforço de seus editores para que não pareçam piadas as manchetes do dia. Por parte do leitor, é preciso muito discernimento, informação, apuração, senso crítico e leitura. Para criar parâmetros e separar o que é fato do que é boato, o que é real do que é imaginado, o que aconteceu do que é inventado.

Teorias da conspiração pululam de tudo, por todos os lados. Bastante comuns na História especialmente a partir da Guerra Fria, às vezes alguns fatos desconhecidos — portanto algumas verdades secretas — vêm à tona, por algum motivo, em algum momento, mudando toda a ótica e a perspectiva da História (como é o caso da interferência norte-americana no golpe militar brasileiro de 1964, por exemplo).

Outras, ao contrário, fulguram para sempre como teorias. A suposta simulação da chegada do primeiro homem à Lua, em 1969, é uma delas.

"Operação Avalanche": a conhecida teoria de que o pouso da Apollo 11 na Lua nunca existiu, vira farsa cinematográfica | (Imagem — Divulgação)

Valendo-se da conhecida teoria de que o pouso da Apollo 11 nunca existiu e que as imagens foram produzidas em estúdio, Operação Avalanche (EUA, 2016 — Dir.: Matt Jhonson) abriu a última edição do OLHAR, Festival Internacional de Cinema de Curitiba.

O filme vale-se dos recursos das narrativas modernas, que misturam ficção com realidade, e da linguagem artística contemporânea, que agrega elementos e referências intertextuais em suas narrativas. Criativo, inventivo, descontraído, o filme é um "falso documentário". E como falso documentário, está devidamente catalogado como documentário, lógico! Vamos a ele…

Em 1967, uma equipe de agentes da CIA disfarçados são enviados à NASA se fazendo passar por uma equipe de um documentário que registrará a operação. Ao descobrir que a agência não conseguirá pousar a nave sobre a Lua, propõe uma farsa cinematográfica. “Uma imagem é tudo o que as pessoas precisam para acreditar hoje em dia”, argumenta o diretor, Matt Jhonson, fazendo ele mesmo, himself, no filme. (“Hoje em dia” era década de 1960!)

O que acontece a partir daí, é muito divertido: intertexto, ficção em cima de história, referência em cima de referência, ressignificação. O braimstorm da criação daquela célebre frase, os reflexos no capacete, a bandeira, a ausência de gravidade, a posição da terra, a duração da transmissão… Todas as supostas falhas ou fragilidades apontas pelas teorias de conspiração são exploradas. O resultado é uma sucessão de inteligência criativa e inventividade fílmica.

Cena de "Operação Avalanche": reflexões sobre o reflexo | (Imagem — Divulgação)

Ao passo que a NASA e o governo, no filme, levam muito a sério a farsa, os agentes disfarçados querem apenas o prazer da farsa cinematográfica, de ludibriar e enganar, criar uma realidade através de imagens. O prazer hedonista de criar mundos.

Em um ponto alto do filme, os agentes disfarçados chegam, com muito custo, ao set de 2001: Uma Odisséia no Espaço, para copiarem a recriação do espaço. É que ao mesmo tempo que os norte-americanos desenvolviam a corrida espacial, Stanley Kubrick rodava seu lendário filme. E segundo a lenda, a NASA o ajudara na recriação cinematográfica espacial. “Que engraçado, não? Vamos enganar a NASA, usando a supervisão da NASA”, ironiza o diretor, em algum momento do filme.

Operação Avalanche é uma ode elegante e bem humorada aos realizadores de cinema, que se entregam à sério e com disposição, na tarefa absurda e despropositada de criar mundos que não são reais. De compor uma farsa.

Cartas do filme "Operação Avalanche"

No início da sessão, o filme foi descrito como “a cara desta edição do Festival”. Se for assim, promete!

Originally published at www.onecuritiba.com.br.

--

--

Rômulo Zanotto

Escritor e jornalista literário. Autor do romance "Quero ser Fernanda Young". Curitiba.