depressão com d minúsculo.

Ronald Rios
3 min readJun 11, 2016

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Não há nenhum glamour em depressão. Não é doença de tumblr. Não é doença de rico. Os tiozinho bêbado em boteco, acredite, boa chance dali ter uma pá de deprimido. Não há glamour em depressão. Pelo contrário, há vergonha. Não poderia ser assim. Ninguém tem vergonha de ter asma. Quer dizer, eu acho. Eu não teria. Mas eu vejo as pessoas com suas bombinhas e elas parecem ok — desde que haja a bombinha.

Não há nenhum glamour na depressão. Em momentos ela vem em forma de dor física. Seu estômago, sua cabeça, seus olhos. Em outros ela vem em forma de ansiedade. Na maior parte do tempo é só uma tristeza que funciona como a correnteza no mar. Não aquela evidente, visível da areia, que exige uma placa “Não entre. Cuidado com a maré”. Não, a depressão é a correnteza que parece que não tá te puxando. E quando você pára pra ver, já está perdido na praia. “Onde está todo mundo?” E você só foi embora.

A depressão pode te fazer ficar acordado 3 dias. Ou dormindo 3 dias. Ela não tá nem aí para você e como cê se sente. Esse é justamente o trabalho dela: cagar na sua cabeça. Eu fui diagnosticado há quase 4 anos, mas eu já sabia que tinha antes disso. Você está com catarro no nariz, mas não precisa esperar o médico falar que você está gripado.

Tem dias bons e dias ruins. Tem truques para driblar. Se manter ocupado ajuda. Mas não é tudo. Rola um leve mito ao redor disso. Inclusive é um fator que pode sair pela culatra. Não raramente, você simplesmente não consegue se ocupar porque você não vê sentido em fazer nada. Você entra num virtual estado vegetativo. É quase como se você tivesse se descolado da felicidade e tanto faz. Deixa de ser a busca pela felicidade e vira só o conforto pelo “blergh”. “Eu mereço isso aqui ó”, enquanto aponta para uma folha em branco.

Fármacos ajudam — e muito, ainda que te passem aquela sensação de que você não se conhece mais porque você ingere tantos miligramas daquilo pra dormir, daquele outro pra acordar, desse aqui pra encarar o dia e daquele outro para quando a DEPRÊ bater pesada mesmo. E você sente um pouco de culpa de precisar tanto de química para existir. E você sente culpa quando esquece de tomar os remédios. Imagina viajar e esquecer a cartela? É o meu maior medo.

A depressão é uma inimiga. Mortal. Portanto, se você já sentiu algo assim, procure um médico. Você não está sozinho e não merece passar veneno.

Algumas coisas me alegram e me ajudam. Mais que terapia e remédios. Eu sou muito agradecido pela minha companheira. Ela não só me completa. Ela me cobre, como um cobertorzinho quente nesse inverno. Ser agraciado com amor e companheirismo de alguém que você admira é um baita remédio. As vezes não consigo evitar que ela veja quando estou num estágio mais agudo da doença. Antes eu tinha vergonha. Pensava que ela podia me ver como um fraco. Mas há um tempo eu entendi que eu só… tenho uma espécie de asma, só que no cérebro.

Não há nenhum glamour na depressão. Mas não pode haver vergonha. Há tratamento. Como diria o ET Bilu, uma das maiores canalhices da televisão brasileira: “busque conhecimento.”

Good night.

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