Liberatórios de prostituição

Roxo e Negro
2 min readJun 6, 2017

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Por Mujeres Libres
Traduzido por Roxo e Negro Publicações

A empreitada mais urgente a se realizar na nova estrutura social é suprimir a prostituição. Antes mesmo de nos preocuparmos com a economia ou a educação, desde já, em plena luta anti-fascista, ainda temos que acabar radicalmente com essa degradação social. Não podemos pensar em produção, em trabalho, em nenhuma forma de justiça enquanto permanecer a maior de todas as escravidões: a que incapacita para todo viver digno.

Que não se reconheça a decência de nenhuma mulher enquanto não possamos atribuí-la à todas. Não tem mulher de fulano, irmã de beltrano, companheira de ciclano, enquanto existir uma prostituta. Porque quem sustenta esses títulos de honradez, quem torna essa decência possível é precisamente a prostituta, destinada a suprir as respeitosas férias concedidas ao casto noivado, à santa lactância, à cuidadosa gestação da mulher “decente”; os clandestinos balbúcios sexuais dos adolescentes de famílias cristãs; as “saidinhas” dos honrados pais de família.

Deve-se acabar com isso rapidamente. E há de ser a Espanha que dará a norma ao mundo. Todas nós, mulheres espanholas, devemos nos pôr agora mesmo nessa empreitada libertadora. Chega de farsas das ligas e discursos “contra o tráfico de brancas”. Chega de sombrios conventos de arrependidas. Chega de passiva comiseração de mulheres distantes. Não é problemas delas, senão nosso, de todas as mulheres e de todos os homens. Enquanto ele existir não se poderá chegar à sinceridade no amor, no afeto, na amizade e na camaradagem.

Há de se fazer em seguida o que nunca fizeram as associações femininas que têm pretendido emancipar a mulher organizando algumas conferências amenas, alguns recitais de elegantes poetas e poetisas e capacitando algumas datilógrafas.

Em várias localidades que visitamos recentemente nos fizeram saber — como se fosse uma grande medida — que elas haviam “suprimido” a prostituição. Ao perguntar como e o que se havia feito com as mulheres que a praticavam, nos responderam: “Ah, elas que se virem!”. Desse modo, suprimir a prostituição é bem simples: se reduz a deixar algumas mulheres na rua, sem meio algum de vida.

Mujeres Libres está organizando liberatórios de prostituição, que começarão a funcionar em breve. Para este fim se destinam locais adequados em diferentes províncias e neles se desenvolverá o seguinte plano:

1° Consultas e tratamento médico-psiquiátricos.

2° Tratamento psicológico e ético para fomentar nas alunas um sentido de responsabilidade.

3° Orientação e capacitação profissional.

4° Ajuda moral e material em qualquer momento em que seja necessário, mesmo depois da saída dos liberatórios.

Dentro de alguns dias vocês verão nas ruas alguns cartazes com indicações precisas sobre informação e inscrição nesses liberatórios.

Esperamos que todas as organizações de trabalhadoras/es, associações femininas, partidos políticos e todas as mulheres e homens conscientes colaborem com esta obra, na qual Mujeres Libres põe todo o seu entusiasmo emancipador e construtivo.

Mujeres Libres”, 65 dias da Revolução [ou seja, desde 19 de julho, sendo agora dia 22 de setembro de 1936]

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Roxo e Negro

Material Anarquista e Feminista. Traduções, textos históricos e escritos. Arriba las que luchan!