Eu costumava estar sempre com tanta pressa, tudo era tão urgente.
Mas agora eu percebi, as coisas vão acontecer quando tiverem que acontecer.— How I Met Your Mother
Navegando pelas redes sociais vi esse trecho da sitcom HIMYM, que ressoou profundamente em mim. Nos últimos tempos, percebi que sempre vivi com pressa, cultivando a impaciência e por consequência tratando com urgência assuntos eletivos.
Creio que você já tenha ido a uma unidade de urgência e emergência ao se sentir mal. Lá, antes de ser atendido, passamos por uma triagem que lhe classifica conforme o grau de gravidade do caso, a urgência significa risco à vida, deve ser resolvida a curto prazo enquanto casos eletivos, sem risco iminente, podem esperar sem prejuízo para a saúde. O desconhecimento da população e a utilização indevida da equipe de saúde dessa classificação acaba contribuindo para a lotação e sobrecarga do fluxo de pacientes, aumentando o tempo de espera e prejudicando a eficiência do atendimento.
Do mesmo jeito são as pessoas impacientes e que vivem com pressa, elas acabam não sabendo dividir sua atenção classificando prioridades erroneamente, por vezes tratando o que é eletivo como urgente. Isso pode resultar em falhas tão graves quanto alguém com uma virose ser atendido antes de quem tem uma reação anafilática.
Após tantos motivos e frustrações causadas pela minha precipitação, finalmente entendi a necessidade de me encontrar. Me senti como Clarice Lispector em “A descoberta do mundo”:
“É preciso parar
Estou com saudades de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim — enfim, mas que medo — de mim mesma.”
A pressa não é só inimiga da perfeição, mas melhor amiga da frustração. Ela rouba a beleza do processo e assalta a presença e vivência no agora. A pior coisa é passarmos por algo sem realmente vivencia-lo, pois aquilo que não nos atravessa, não é digerido. E o que não é digerido, não é absorvido, não é lembrado, aprendido, nem visto.
Quando o sofrimento não encontra sentido, ele se torna um fantasma que nos persegue, pois vaga no limbo à procura de um lugar que o satisfaça e lhe dê senso de pertencimento. Ignorado, ele se transforma em um incômodo sem explicação, um parasita que consome nossa alegria e energia nos momentos mais inesperados.
Aquela urgência que eu costumava atribuir a tudo na minha vida, como se cada pequeno detalhe demandasse uma resposta imediata, acabou me afastando da verdadeira essência de viver o presente. A pressa me cegou para o que realmente importava. No afã de querer resolver tudo ao mesmo tempo, eu perdi a capacidade de distinguir o que merecia atenção imediata do que poderia esperar.
Assim como no sistema de saúde, onde a triagem identifica o que é urgente e o que pode aguardar, na vida também precisamos fazer essa triagem emocional. É fundamental aprender a olhar para o nosso interior e discernir o que realmente merece a nossa energia e o que pode ser deixado de lado, sem pressa, para que possamos focar no que realmente importa. Priorizar ao invés de apressar se torna, assim, um ato de autocuidado.
Afinal, viver constantemente pressionado pela urgência nos priva de desfrutar dos pequenos momentos, de respirar com calma e de absorver as lições que o tempo nos oferece. Ao tratamos tudo como urgente, nos tornamos reféns de uma ansiedade perpétua, sempre correndo, mas sem nunca chegar a lugar nenhum. E, assim, nos desconectamos de nós mesmos, das pessoas ao nosso redor e do presente. Como diz Michel de Montaigne:
“A melhor coisa no mundo é saber pertencer a si mesmo.”
Esta afirmação me faz refletir que a verdadeira paz se manifesta quando deixamos de perseguir coisas externas e passamos a nos dedicar a nós mesmos. Pertencer a si mesmo é encontrar equilíbrio, é dar atenção ao que realmente importa e desacelerar para viver com mais presença. Anseio pelo dia em que isso se torne uma realidade para mim.