Pequeno Tratado Botânico
Na folhagem rente ao caule em que te percebo
e gasto horas num marear que não se compreende no Tempo
admito: quero ficar.
No tronco firme em que as crianças — verdugos tão cruéis — te deixaram em carne viva e retalhada
concluo que nada me prende aqui, mas quero ficar.
Nas flores que se espalham entranhadas do perfume que me enleva e como uma corda se amarra ao meu pescoço
(as mesmas flores que refletem fugidias o trágico vislumbre que eu não vi)
sinto todo o desavesso: quero ficar.
Na raiz que grita ao sol e na folha que mais solitária se desprende ao ver a lua
escalo e pouso
como a sombra de uma canção
e dela te canto só um verso.
Eu vou ficar.
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