Por que criei um Curso de Negócios de Impacto Socioambiental (NIS)?

Ruth Espinola Soriano de Mello
3 min readJun 17, 2020

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Já me perguntava, há tempos, como criar um programa com menos “amarras” para trabalhar o tema dos NIS com propriedade, considerando um público mais maduro e a realidade do Brasil contemporâneo.

Sou professora da PUC-Rio (Universidade [Comunitária] Católica do RJ), desde 2012, em disciplinas eletivas com um pegada socioambiental e desenvolvimento local. As turmas são sempre heterogêneas! É lindo ver estudantes de direito, economia, teologia, serviço social administração, design, dentre outros, reunidos em uma jornada de construção coletiva do conhecimento. Isso sem falar que tenho a grata oportunidade de atrair muitos alunos bolsistas (a PUC-Rio tem cerca de 50% dos alunos têm alguma bolsa), o que enriquece ainda mais o processo. Em geral, o perfil é de alunos que querem uma certificação adicional (minor) em empreendedorismo, além do seu título de graduação.

Sou mesmo sortuda em poder ministrar conteúdos que me mobilizam há décadas, desde que me entendo por gente, já que escolhi ser economista e ir de encontro aos mecanismos nefastos de produção e reprodução sistêmica e estruturante de pobreza e desigualdade. Sim!, colegas economistas, sou da galera “pobrista” como alguns nos intitulam com um tom pejorativo. Me chamem como quiserem!

É lindo aprender junto com essa juventude que vai ficando cada vez mais afiada em fazer perguntas certas para respostas problematizadoras. Sim, dar aula é ajudar a criar caminhos autorais para os alunos verem e enxergarem a vida; problematizar a realidade; rever a história e projetar futuros desejáveis.

Foram três as provocações para criar um curso mais livre para trabalhar questões-chave no campo dos NIS:

  1. Uma de minhas ex-alunas, Beatriz Velho Figueiredo, daquelas que nascem prontas!, topou desenhar comigo um curso totalmente EAD considerando o conhecimento dela (como aluna) em boas-práticas em educação digital mundo afora, além de outros atributos de conhecimento e empatia que só quem conhece ela entende.
  2. A Rede Academia ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), a qual sou membro há anos, também nos provoca a rever práticas de ensino - pesquisa - extensão (articulação indissociável para qualquer instituição de ensino em nível mundial) em prol do desenvolvimento de competências técnicas e socioemocionais na formação de profissionais de propósito para novas organizações.
  3. Os três anos de vigência do Programa Students for Change/Erasmus + o qual integrei a coordenação pela PUC-Rio junto a outras 15 universidades (cinco europeias e dez latino-americanas) e cujo objetivo era justamente o de rever práticas de ensino para qualificar (com métodos ativos) o desenvolvimento de alunos vistos como agentes de mudança no campo da inovação social. Tal feito nos rendeu o prêmio de melhor prática universitária de ensino de 2018 do Pacto Global da ONU no Brasil em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Pois bem, a oportunidade estava mesmo batendo a porta. Estamos na terceira edição do Curso NIS, sempre fazendo questão de equilibrar, por diferentes meios, a representação da turma quanto à classe social e econômica, dentre outros aspectos. O novo curso também é diferente porque é remoto e dispõe de recursos gameficados de aprendizagem.

A tecnologia associada à educação é mesmo um caminho sem volta. Não temos que ter medo de perder espaço para algoritmos. Temos sim é que revisitar práxis de sala de aula, com menos downloads e mais uploads.

A extensão universitária já tem sido menosprezada há tempos, eis oportunidade de redefinimos sua natureza e potência. Urge romper e ultrapassar os muros da Academia visando estabelecer uma relação dialógica e constante com a sociedade, como por exemplo, dando mais espaço para a “pesquisa aplicada” de modo a resolver problemas reais e imediatos de territórios, de populações e de cadeias de valor desfavorecidas.

Falei de mais? Desculpem. :) Prometo ser mais concisa na próxima.

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