Desacelere e viva um dia de cada vez

Sabrina Neto
4 min readAug 13, 2022

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Viver o aqui e agora, desfrutando de mais qualidade na sua rotina, pode ajudar a perceber que o mundo é um reflexo das coisas que passam na nossa mente.

Quando vivemos um dia de cada vez, as coisas ganham um significado diferente (Foto: Julio Detefon)

Se me pedissem para escolher uma das muitas coisas que eu aprendi a valorizar depois que me tornei mãe, certamente, minha primeira resposta seria: tempo. Mas, pensando melhor, substituiria minha primeira resposta por uma segunda: a qualidade na qual aproveito o meu tempo.

Embora as duas respostas tenham o “tempo” como essência, percebo que aplicado no contexto da rotina (principalmente quando se trata da maternidade), elas conseguem ter um peso bem diferente. Explico!

Logo nos meus primeiros meses lidando com os desafios do “ser mãe”, me vi imersa em milhares de tarefas. Era a roupa para lavar e passar, a casa para organizar, os brinquedos para guardar, a louça para lavar e secar, a comida pra fazer, a hora do mamar do meu filho, a hora do soninho, o dia para fazer compras no supermercado, o dia de consulta no médico, dia de vacina, ida à farmácia, as horas do dia em que brincava com meu filho e por aí eu seguia.

Depois que o período da licença-maternidade terminou e voltei a “trabalhar fora”, além de todas essas atividades, ainda tinham as tarefas e compromissos do meu emprego. Quando me permitia “descansar”, em alguns raros momentos do dia, eu percebia que estava pensando no que eu não tinha feito no dia anterior, o que eu precisaria fazer no dia seguinte e nas coisas que já havia planejado para fazer naquele mês. Via o meu tempo como um momento em que eu precisava fazer o máximo de coisas possíveis. Afinal, na minha cabeça, eu tinha que aproveitar todas as horas do dia para fazer tudo.

Com o decorrer dos meses, analisando essa rotina, notei que “aproveitar o tempo” não era bem o que eu estava fazendo. Comecei a me questionar se, de fato, eu usufruía dos meus momentos com qualidade, de forma plena, vivendo um dia de cada vez. Perguntei-me até quando eu aguentaria viver nesse ritmo acelerado. E foi a partir desse momento que as coisas, ou melhor, o meu olhar para as coisas começou a mudar…

Certo dia, enquanto navegava pelas páginas de um desses grandes sites do varejo, me deparei com o livro As coisas que você só vê quando desacelera: Como manter a calma em um mundo frenético, escrito pelo mestre zen-budista sul-coreano Haemin Sunim. Achei o nome do livro curioso e a capa — ilustrada com uma árvore que me lembrou muito a árvore da vida — lindíssima! Chamou a minha atenção. Cliquei para conferir a sinopse e me convenci de que, naquele momento, era o livro que eu deveria ler.

E é muito engraçado quando nos permitimos fazer algo novo, seja uma leitura, um esporte, um novo projeto etc. Parece que começam a abrir várias caixinhas dentro da nossa cabeça e, saindo delas, algumas respostas, muitos questionamentos e a percepção de que algumas atitudes precisavam mudar. Ao ler o livro, comecei a enxergar as coisas à minha volta de um jeito diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.

Mais do que acalmar os pensamentos, o livro foi uma oportunidade para descobrir que a forma em que percebemos o mundo é um reflexo do que se passa em nossa mente. Se achamos tudo caótico, veremos as coisas dessa forma. Se conseguimos enxergar as tarefas com mais leveza, encarar os desafios como oportunidades e entender que conseguimos fazer o nosso melhor, no nosso tempo, a nossa percepção muda.

Desde então, percebi que a minha inquietude para aproveitar o tempo, fazia com que eu vivesse boa parte do meu dia num piloto automático, num ritmo frenético, intenso e em constante aceleração. Muitas vezes, prendendo-me a coisas que já tinham passado ou que ainda nem tinham acontecido. Não estava vivendo o momento, o agora, o presente.

“Apenas quando desaceleramos é que finalmente vemos com clareza nossos relacionamentos, nossos pensamentos e nossa dor. Quando vamos mais devagar, não ficamos mais presos neles. Podemos nos distanciar e apreciá-los pelo que são.” (trecho do livro)

E foi justamente o que fiz. Ao terminar de ler o livro, tirei um tempo para refletir. Avaliei de que forma eu lidava com as situações do dia a dia, as tarefas e os meus relacionamentos. Fiz uma reflexão ainda mais profunda sobre a minha relação com o meu filho. Se o tempo em que estávamos juntos era bom (e com qualidade) para nós dois. Confesso que foi bem difícil me questionar sobre isso, mas tinha que ser feito.

A partir daquele momento tentei desacelerar. Tentei acalmar os pensamentos, para compartilhar o tempo com o meu filho da melhor forma que eu poderia fazer. E confesso que tenho me surpreendido, dia após dia, com o resultado desse exercício fascinante. Porque o reflexo disso extrapola as nossas relações, impactando tudo que está ao nosso redor.

Cada vez que assistimos algum filme juntos, desenhamos aviões juntos, dançamos ou cantamos cantigas juntos, brincamos de super-heróis juntos, andamos de bicicleta juntos, lemos juntos, fazemos as tarefas de casa juntos e tantas outras coisas que ele inventa e fazemos juntos, sinto a nossa conexão mais fortalecida. Enxergo um novo significado a cada momento da nossa parceria de mãe e filho. Percebo que desacelerar, embora seja um exercício muito difícil na prática, vale a pena.

Hoje, eu consigo ter uma nova postura em relação a todas aquelas tarefas que listei no começo do texto. Apesar de ainda viver uma rotina intensa, sinto que também consigo manter um equilíbrio e investir qualidade no tempo em que me dedico a cada uma delas, em especial aos momentos em que fico com o meu filho.

E você, tem aproveitado o seu tempo com qualidade? Pense nisso! 😉

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Sabrina Neto

Sou jornalista, mãe e uma admiradora eterna da natureza. Valorizo​​ as coisas simples e, por meio das palavras, expresso narrativas da vida. Muito prazer! (: