Águas-vivas & Garotas que choram

JL
6 min readJun 29, 2024

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Eu tenho uma lista que costumo simploriamente chamar de Top XX animes preferidos que não tem um número fixo de verdade mas que serve para que eu possa elencar as melhores produções que não necessariamente são perfeitas mas que de alguma forma mexeram significativamente comigo em algum grau.

E foram assim Jellyfish Cant Swin in the Night (Yoru no Kurage wa Oyogenai no nome original) e Girls Band Cry nessa temporada.

Dois animes que essencialmente parecem até parecidos mas que semana após pareciam até “brigar” pra ver quem conseguia se destacar mais e por isso iam se diferenciando. Aposto que quem vê de fora acaba imaginando que são apenas dois animes de música, e de fato eles produziram músicas das mais alta qualidade, mas eu penso que a melhor definição pra esses animes são: pessoas, identidades e suas relações.

É um costume recente pelo visto usar o artifício das garotas fofas + música em histórias que você deseja falar sobre pessoas perdidas, assim foi com BanG Dream MyGo!!!!!, a mais recente produção em anime da franquia de jogos de ritmo pra celulares e um pouco menos recente o arrasa quarteirão Bocchi The Rock. Juntar garotas com perspectivas diferentes tentando alcançar um sonho em comum mas ainda assim com jeitos de pensar e histórias de vida tão distintas é o que faz desses animes tão especiais. São frustrações, inseguranças e fraquezas com as quais o espectador consegue se relacionar e gerar um vinculo com a audiência que faz você criar um carinho especial com todas as garotas (eventualmente alguma delas vai te capturar seja pela identificação que você tenha pela história e os problemas delas ou só porque você quer torcer pelo crescimento delas. Ou ambos mesmo.)

Falando primeiro especificamente de Yorukura, este um pouco diferente porque as garotas não são exatamente uma banda mas sim um projeto. Projeto Jelee. Um projeto multi mídia que envolve Twitter, animação, ilustração e claro música, na criação de uma Persona que serve como a figura central, no caso a Jelee a garota Jellyfish (medusa ou água-viva não sei como chama na sua região), você pode encontrar diversos projetos semelhantes na vida real na figura de várias vtubers famosas inclusive.

A Magia desse anime está justamente em como essas quatro garotas se encontram, especificamente Mahiru e Kano. Em um primeiro episódio lindíssimo focado especialmente nessas duas garotas, a direção e a sua condução são um show a parte, te fazendo ser fisgado imediatamente. Tudo é bonito demais, bem feito demais, mostrando logo de cara a que veio e ao que pretende contar esse anime, você é comprado de cara pelo relacionamento dessas duas e como as personalidades delas vão ditar os dilemas do anime nos próximos episódios. Acrescentam de maneira muito importante ainda à trama as personagens Kiui e Kimura, com seus próprios dramas muito particulares mas que se incorporaram também ao grupo. É nessa sensação de que juntas elas se fortalecem e que na divisão elas se perdem que a história alcança seu clímax. E isso reflete não apenas nelas mas nas pessoas que acompanham e veem o projeto Jelee crescer. Uma das imagens que mais me tocaram foi uma garota que apenas aparecia aos poucos no anime que era isolada, vivia trancada em casa e por fim acaba ganhando coragem e saindo para o mundo (justamente indo ver uma apresentação das Jelee), tudo graças a força que a música acabou lhe dando. Uma extrema coadjuvante mas que teve sua vida mudada, imagina as próprias quatro garotas como mudam e evoluem ao longo da história.

Um anime sobre busca de identidade e se encontrar no Mundo, não apenas vagar por sem ele rumo e sem brilho como uma água-viva. Eu poderia discursar sobre horas como os mínimos detalhes da história mostram desde a busca de Kiui pela sua própria persona, ou sobre o sentimento mútuo e claro de romance entre Kano e Mahiru, mas um colega de Twitter @banthisworld_p fez um excelente trabalho compilando em uma thread todas as letras e momentos que a música fala diretamente sobre as duas garotas, com todos os devidos clichés e declarações românticas, vale muito a pena conferir (isso que nem falei do meu próprio tweet no meio da série falando sobre como esse anime tava gabaritando todos os clichés de yuri com o já Mega Clássico encontro no aquário, passeio de moto e até declaração de amor com subtexto da lua bonita).

Falando em música, vamos ao anime número 1 do Japão nessa temporada, Girls Band Cry.

Que é agora de fato um anime de música mas também um anime de “cry”, é no choro que vemos muito das emoções e histórias (pesadas) de vidas de cinco garotas que juntaram para formar uma banda.

E choro também agora de uma parcela da audiência conservadora que se recusa a assistir esse anime por puro preconceito estético do uso do 3D. Como fã de outros animes do gênero como D4DJ e BanG Dream eu nunca tive problemas com isso, muito pelo contrário, mas admito que deve ser um choque grande pra quem tem uma percepção fechada do mundo da animação japonesa. Contudo até essas pessoas deveriam dar o braço a torcer porque GBC faz um trabalho que eu só consigo resumir como a evolução do gênero de animes de CGI. É tudo muito bonito, fluído, as expressões faciais são extremamente tão mais carismáticas desse modo e existe uma alternância do uso da animação clássica com a 3D que só enaltece ainda mais a produção. O gênero de anime musical se favoreceu muito com isso tudo, já que as apresentações das bandas são um espetáculo visual (e sonoro claro) à parte.

Mas obviamente que nada disso seria suficiente se a história não estivesse a altura. E é nisso eu acredito que é onde o anime ganhou toda a audiência que possui. Tal qual Yorukura o anime tem em suas personagens principais dramas que são familiares para todos nós, mesmo sendo do ramo musical ou não, acabamos pegos por alguma desavença familiar, uma angústia sobre o futuro ou a incerteza sobre nós mesmas, então é normal que vibramos com cada conquista das garotas ou sofremos com cada revés que eles passem.

Meu destaque em especial fica para a protsgonista Nina. Como falei mais cedo, as histórias que esse anime se dedica a contar são pesadas e envolvem alguns gatilhos que, infelizmente, na cultura japonesa acabam sendo até banalizados por conta de diversos fatores culturais inclusive. Imagino que todos saibam e não pretendo falar sobre. Ainda assim o modo como a garota de aparecia frágil mas de gênio forte Nina lida com todos os revezes de sua vida é algo que nós faz mais e mais torcer e afeiçoar por ela. Digo, eu mesma já falei várias vezes no Twitter como considero-a como uma força da natureza ou simplesmente uma enérgica caótica infinita. Ela nos diverte e nos emociona em questão de pouquíssimas cenas e é na reta final que vemos todo o potencial dessa garota quando conhecemos mais de seu passado e tudo que tem que lidar. Para mim ela consegue o posto de melhor protsgonista da temporada com certa folga.

Agora se for pra levantar um pouco a minha própria esperança, diferente de Yorukura que vi muitos arcos sendo devidamente encerrados, em GBC eu já consigo ver diversas possibilidades de uma continuação orgânica e natural da história. A banda de Nina e suas amigas tem muito a que evoluir seguindo seu próprio caminho mais tortuoso e acompanhar isso tudo seria precioso demais.

Agora vou falar por uma ótica mais pessoal minha e das minhas experiências com esses dois animes.

Já falamos das semelhanças de ambos mas o que é mais curioso, além do fato de ambos serem animes NÃO licenciados no Brasil (GBC nem fora do Japão foi licenciado…) e que ambos se ambientam em uma Tokyo contemporânea e isso foi um “choque” bastante representativo pra mim. Esse anime estava acabando de estrear bem no exato momento que estava justamente viajando e conhecendo essa mesma cidade, um sonho de quase 3 décadas de vida e que não vou negar foi o auge da minha existência enquanto consumidor de cultura asiática. Então andar nas ruas de Shibuya e ver diversos cartazes, telões e até carros de som divulgando tanto GBC quanto Yorukura e depois disso assistir nos episódios de ambos os animes as personagens interagindo em locais que agora eu pude conhecer era no mínimo extremamente emocionante (curiosamente um carro de som da Diamond Dust, a banda concorrente em GBC, aparece no último episódio do mesmo jeito que vi os carros de som de diversos animes e bandas em Shibuya pessoalmente).

Assim, logo eu já não conseguiria analisar esse anime apenas com o lado racional. A emoção sempre vai pesar forte quando for analisar esses dois animes.

Mas não é isso que justamente o fator primordial pra um anime estar na minha famosa lista de Top XX Animes? Então, tá aí, requisitos cumpridos, parabéns Jellyfish Cant Swin in the e Girls Band Cry, vocês agora são parte dos animes inesquecíveis para mim.

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