Paixão de metrô

Matheus Salustiano
textos para ler antes do café
2 min readMay 11, 2018

Já até perdi as contas. A de hoje aconteceu na linha vermelha, por volta de 18:40. Eu estava ouvindo a mesma música que sempre opto em ouvir. Olhei meu reflexo e constatei o que veio à minha cabeça pela manhã.

— Estou com uma aparência horrível de um adulto acabado.

A única que salvou minha pele fora Clarice, estampada na minha camiseta branca, com o seu olhar Modernista de sempre.

Mas vamos à paixão de metrô, afinal. Sim, era linda, igual às outras paixões. Usava roupas dos anos 80 e tinha em seu olhar uma profundidade de emoções que fiquei tentado a experimentar. Seu cabelo castanho-escuro tinha uma franja que cobria parte dos belos olhos cuja cor fiquei na dúvida entre azul-noite e castanho-talvez-claro.

E sim, essa paixão de metrô percebeu que virou a paixão de metrô de alguém que escreve. Encarou-me por cerca de 10 segundos. Após isso, desviei meu olhar para não perpetuar meu desejo. Cinco segundos e voltei lentamente meu olhar para aquela garota. Fato, ela estava me olhando ainda. Senti um início de infarto, mas era só o coração mostrando sua timidez e presença dentro de mim.

Ela entrou no vagão do trem e permaneci estático do lado de fora dele. As portas do trem se fecharam e minha paixão de metrô foi embora. No fim, não soube dizer se seu olhar estava voltado para mim ou para Clarice. Com certeza escolheu Clarice. Todos amam Clarice.

(Maio do ano par 2018)

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Matheus Salustiano
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Autor de “De Angola ele é” |Jornalista não objetivo|Umbandista |Escreve para A Oficina| https://www.facebook.com/matheussalus/