Um cheiro no rosto.

Samille Sousa
5 min readFeb 26, 2017

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Por mais que seja um pouco difícil para mim, as vezes eu preciso falar de Amor. Mesmo que esse amor tenha durado pouco mais de 24 horas e que tente manter o melhor de suas memórias em mensagens espaçadas entre o tempo e a tecnologia.

6 meses já se passaram e o que guardo em mim é a recordação mais doce do que eu não esperasse viver naquele caos de música, praia, sol, infinitas cervejas e gente louca numa ilha na Indonésia.

Rola sempre uma historinha clichê de que todo mundo vive um amor em Bali, faz muito sentido pois aquele lugar é feito de amor e erotismo. Sejam pelos peitos incríveis em suas diferentes estátuas ou pelos pênis espalhados por todos os lados.

Relaxa, que depois te conto mais sobre Bali, eu demoro, mas escrevo.

Só que hoje, eu quero falar do amor que eu me permiti viver nessa ilha no outro lado do mundo, mais especificamente em Gili Trawagan.

Gili e seu Azul de muitas faces.

Eu fui para Gili comemorar meus 30 anos, tinha um desejo de passar meu aniversário num lugar especial e fazendo o que mais me fascina: — Me jogar no desconhecido! E nada melhor do que fazer isso num lugar mágico, cheio de histórias e que em um pouco mais de duas horas você pode andar a ilha inteira.

E foi na noite do meu aniversário que tudo começou.

Holanda, França e Brasil.

Depois de algumas Bintangs, eu e minhas duas mais novas amigas voltamos para o hostel todas sem sono na madrugada e de repente, brincando, minha amiga holandesa disse: — Vamos olhar o Tinder? Vai que tem algum cara legal!

Eu que não abria o aplicativo desde o mês anterior, quando estava em Chiang Mai, achei que poderia ser engraçado olhar umas fotos. Passei várias fotos e vi uma foto de um alemão com alargadores e, claro, meu coração palpitou. Mas, ficou aí. Passaram-se 2 dias e eu não voltei a olhar o aplicativo, no terceiro dia, minha amiga holandesa viajou e eu fiquei umas duas horas entediada esperando o pessoal do hostel terminar de se arrumar.

Abri o aplicativo e tinham 3 mensagens do alemão-alargadores-sorriso intimista. Por um minuto, fiquei desesperada, me sentindo muito otária de não ter olhado o diacho do aplicativo antes, sendo que eu ia embora 2 dias depois, voltaria para Bali para encontrar minha amiga holandesa de novo.

Começamos a trocar umas mensagens e eu tinha uma festa para ir a noite, tentaríamos nos encontrar em algum dos bares com o pessoal do hostel. Não deu certo. Eu me perdi, meu celular não conectava a internet bem e fui curtir a festa com o pessoal do hostel. No outro dia, ele me escreve de novo e no dia seguinte eu tinha meu barco para sair da ilha. Era aquele dia ou nunca mais.

Agora, eu abro meu coração para falar sobre isso, posso sentir no meu corpo e rir comigo mesma de como eu tinha me sentido curiosa para conhecer o alemão-alargadores-sorriso intimista. Vestida com uma minisaia jeans, uma camiseta preta, meu par de havaianas, uma bolsa pequena e minha bike, fui pedalando pela ilha para encontrá-lo na praça dos cavalos em frente a feira noturna. Iríamos tomar um sorvete primeiro e depois uma cerveja. Os dois estavam cansados e o sorvete seria uma forma de poder sentar para conversar em um bar da praia.

Enquanto eu pedalava, uma mistura de sentimentos passavam no meu coração e nos meus pensamentos, nunca achei tão longo aquele caminho entre o hostel e a feira noturna. Quando eu o achei, ele estava em pé, com uma camiseta cinza, um boné cinza para trás, uma bermuda branca e havaianas.

Nos olhamos muito nos olhos e trocamos sorrisos. Passou um tempo até começarmos a conversar.

Compramos os sorvetes e sentamos num bar na praia, não importava toda aquela gente ao redor, a conversa era ali, entre um olhar e outro, entre as sensações de dúvida do que poderia acontecer dali para frente. Eu sempre tentava falar para mim: — fica menos nervosa e confia!

Eu realmente tinha gostado dele. O B. fala com os olhos e com seus gestos sinceros e inesperados.

Foram mais de 2 horas de conversa, ele me contou de quando morou na Bolívia, do seu trabalho como arquiteto, sua visão sobre a vida, o motivo de ter viajado para Ásia e aos poucos eu fui ficando mais tranquila. E ele gostava de perguntar coisas e isso mexia comigo ainda mais. Era gostoso sorrir com ele entre uma pergunta e outra.

Uma hora levantamos, compramos duas cervejas, ele brincou comigo: — Eu sei que você não deve gostar que um homem te pague uma cerveja, mas eu pago agora e você paga a próxima. Eu apenas sorri e olhei nos olhos dele.

Continuamos caminhando e uma hora paramos em outro lugar na ilha, o mar estava lindo, algumas pessoas ao redor, cada uma no seu canto e eu estacionei a bike. Já que fazer coisas inesperadas faziam parte do jeito dele de ser, foi terminando de estacionar a bike, que ele fez um carinho no meu cabelo, nos olhamos nos olhos, sorrimos, de fundo o único som ao redor era o das ondas do mar, e aí ele começou a cheirar o meu rosto. Naquele minuto, eu me perdi entre o tempo e o espaço, entre os cheiros e os beijos, eu só queria estar ali com ele e nada mais.

Não existiam mais palavras faladas, o B. já conversava comigo de outra forma, com uma forma de tocar tão terna e ao mesmo tempo tão excitante quando nossos cabelos se cruzavam entre um sorriso e outro. Era mais do que físico, era sobre estar presente um para o outro. Poucas vezes estamos presentes dessa forma e me deixei levar por tudo aquilo que surgia no meu caminho.

Cada vez mais íntimos como a maré que subia para se aproximar de nós dois, o B. sugeriu mudar de lugar.

Nesse outro lugar, descobrimos nossos corpos.

Eu precisava ir embora ás 7h30 da manhã para pegar o meu barco. Acordei, fiz um cafuné no cabelo do B. e falei no ouvido dele que eu precisava ir. Ele me abraçou forte e eu fiquei ali naquele abraço por uns minutos. Fui ao banheiro e na volta, mesmo com aquela cara de sono, ele sorriu e me abraçou de novo.

Nos soltamos. Nos olhamos. E em seguida, ele encostou o rosto dele no meu rosto e cheirou a minha pele. Essa era a nossa melhor conversa, cheirar nossos rostos.

Nos despedimos.

Voltei pedalando, para ir buscar minha mochila e pegar o barco. As ondas estavam altas, o barco se mexia muito.

E meu coração também.

O amor é também sobre isso. Um cheiro, B.

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Samille Sousa

Brazilian I Researcher I Traveller I Facilitator I Storyteller I Founder @outrasjanelas