Invisível

*Esse texto estará no livreto poético “Divagações de um Barbudo no Ócio”, que sairá no segundo semestre desse ano. Eu acho.

Piquete de obra
mala na mão.
A terra que ficou longe
junto à boleia do caminhão
Quilômetros distantes
apertos constantes
Seja dentro do peito
ou no aperto da lotação

José Santos Anunciação,
nome de identidade,
escrito com dificuldade
Mas na terra da oportunidade
Pra quê nome de registro?
Afinal, o baiano serve pra qualquer serviço

Bênção a minha mãe,
bênção patrão
Deus lhe dê boa sorte, filho.
O país tá em crise, vou pagar em prestação.
Chegue antes da janta,
Só sai após a finalização.
Volte logo meu filho
Se reclamar é demissão.

As somas que salvam os queridos
os gritos de “aqui não”
“Só podia ser nordestino”,
“só podia ser do sertão”
Adição ao orgulho ferido
Mais força no auxílio ao irmão
No lar dos que vencem
O sertão é apenas areia
Baiano não é da Bahia
Nordeste é apenas escória
A vida é apenas brinquedo
E José nem serve de memória

Tá vendo aquele prédio, moço?
É de lá que vou voar
Bater asas para o meu sertão
Mas sem antes defecar
Nessa terra onde eu faço tudo
E nem obrigado o povo sabe dar.

José Santos Anunciação,
nome de identidade,
homem de bom caráter,
Apenas com vontade de rever sua cidade
e ajudar de verdade,
aqueles que ama.

José Santos Anunciação,
Mais um resistente
Da crua realidade
Do Brasil da televisão.

Sanção Maia
24/10/2016