a minha amiga voltou

Sarah R. Gonçalves
2 min readSep 1, 2019

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Photo by JC Dela Cuesta on Unsplash

Esse post escrevo enquanto minha filha e meu marido vêem tv e eu trabalho em um computador logo atrás deles.

A minha amiga voltou.

A minha amiga é aquela que quis fazer amizade comigo na adolescência, e que talvez até estivesse por perto antes sem que eu percebesse. A minha amiga não é bem alguém ~legal~, mas ela me faz olhar pra dentro. A minha amiga me desanima em cuidar de mim, cuidar da casa, sair, fazer exercícios, meditar. A minha amiga faz a minha rotina se tornar vazia.

Quando éramos bem amigas (e não me pergunte porque… porque mesmo sem eu querer ela gruda em mim) eu descobri o Silêncio. Ele me trouxe muitas novas amizades e a vida era tão divertida com ele que quando me dei conta, ela tinha ido embora. E que na verdade, a vida sem ela brilha mais.

Vez ou outra ela bate na minha porta, eu esqueço como faz pra distrair ela e mandar ela embora e ela acaba ficando. Eu sirvo biscoito, chá… ás vezes convido ela pra ficar alguns dias. Nesses dias que ela fica eu acabo não fazendo mais nada e fico dedicada a ela. Estranhamente perco interesse por todo o resto e as pessoas me vêem sorrir menos. Amizade tóxica que chama, né?

Ela me faz pensar tanto que não consigo fazer outra coisa que não o foco da minha preocupação. Normalmente é o trabalho. Então os dias se passam e eu nem vejo o Silêncio… e os outros amigos que sempre andam com ele vão embora. Fico sem amigos, só com ela. Toda vez que penso em procurar o Silêncio ela me diz pra deixar pra depois… e assim os dias se repetem. Acho que ela é ciumenta.

Um dia eu acordo determinada em falar com o Silêncio. E no outro também. E no outro também. A gente fortalece nossa amizade e quando olho pela janela tá tudo colorido de novo. Então eu me esqueço de como ela é, até que ela bata na minha porta de novo falando que voltou.

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Sarah R. Gonçalves

Bióloga, ex-muitas coisas, atualmente front-end developer, 37 anos, ítalo-brasileira, mãe da Alice de 3, morando na Itália, sobrevivente do multiverso.