Anônima

Sarah R. Gonçalves
2 min readJun 24, 2019

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4:44 da manhã abro os olhos. |vou meditar. não, vou trabalhar depois medito.| Sento na frente do computador. |primeiro algumas notícias.| Depois disso, fiz um pouco de pesquisa sobre o meu último assunto de interesse do momento. No caso, o shutdown em autistas. Apagões. Nesse exato momento sinto o exitamento em escrever isso. Sinto a vontade de escrever. Ouço os carros lá fora. Já são 08:08. Niente trabalho.

Sempre quis escrever do jeito que penso. Da mesma maneira que as palavras surgem dentro da minha cabeça sem rodeios. No mesmo vocabulário que elas são criadas. A vergonha e a necessidade de se adequar a algo [bom] existiam sempre. Se ver como alguém que pode se expressar e não temer julgamentos é maravilhoso. Pegue essa palavra: maravilhoso. Eu mesma acho que ela não é exatamente o que eu gostaria de dizer sobre “não temer julgamentos”, mas ela apenas veio.

E é sobre isso: sobre como surge algo dentro.

A reprovação por coisas escritas num passado, por um escritor, é normal? “Escritor”. Alguém que escreve, não profissionalmente, assim como eu estou fazendo nesse momento. Dá pra chamar de escritor ou ofende a classe dos escritores de verdade?

Rogério Skylab. Eu sei lá porque sempre admirei ele. Acho que era a forma que ele colocava as coisas. A linearidade de pensamento. Achei ele no Facebook e o que ele escreve é tão familiar… está entre identificação e nostalgia adolescente. Matador de passarinhos. Com isso eu não concordava. Não queria exaltar matança de passarinhos. Mas eu, no meu íntimo, adorava aquelas letras que faziam os outros sentir um pouco de vergonha e falavam aquelas coisas todas meio sem sentido. Acho que porque dentro era meio assim.

Acho. Eu já notei que falo muito essa palavra. Deve ser |eu ia colocar “acho”| que raciocino demais sobre as coisas. Como se faz pra rir em textos sérios? Não pode usar “hehe”. Como faz pra expressar essa risadinha interna? “Risos” pode? Me parece meio ridículo. Não, desculpe. Não ridículo, porque deve ter gente que escreve “risos” em textos sérios. Me parece meio estranho. Nunca li um livro onde a pessoa escrevia “risos”. Será que se só eu rir aqui a pessoa que ler vai dar uma risadinha interna também?

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Sarah R. Gonçalves

Bióloga, ex-muitas coisas, atualmente front-end developer, 37 anos, ítalo-brasileira, mãe da Alice de 3, morando na Itália, sobrevivente do multiverso.