A saga do gordinho safado - parte 1

Saulo Arruda
3 min readOct 22, 2014

Eu nunca fui do tipo esportista. Na verdade sempre prefiri a pose de músico — mais inteligente, menos físico. Desde os tempos da escola eu não gostava de esportes.

Nunca vi graça nenhuma em esportes coletivos como futebol, basquete e coisas do tipo, mesmo tendo vários amigos que me convidavam, eu não topava.

Com o tempo a vida vai tomando seu rumo, casamento, 2 filhas, e uns 25 kg a mais acumulados ao longo de 10 anos. E esse peso excedente cobra seu preço: cansaço, stress, doenças secundárias (sinusite, unha encravada, caspa, miopia, e coisas do gênero) e total falta de disposição para quase qualquer coisa que não seja trabalhar e assistir algo em uma tela de LCD grande.

Não cheguei a ter nenhum problema de saúde mais grave, mas, por recomendação médica e da sociedade me inscrevi no que chamo de "plano do gordinho safado para tomar jeito na vida":

"Vou me inscrever na academia e fazer uma consulta em uma nutricionista"

Como todo gordinho safado, minha disposição durou mais ou menos umas 8 semanas. Tempo o bastante para perceber que só um psicopata pode ter sucesso com esse método. Sério.

Você tem que acordar cedo todo dia pra sofrer em uma academia que toca música ruim com TVs para todo lado e várias outras pessoas na mesma condição de safadeza que você — sim, de manhã bem cedo não tem as gostosas, só tiozinho(a) e gordinho(a).

E pior, a dieta que a nutricionista de indica é o fim do mundo para o gordinho acostumado a vida fácil do fast food de cada dia. Sério, ninguém merece comer "alpiste" 6 vezes por dia.

Birdseet in Bulk photo from Scorpions and Centaurs at flickr

Na minha opinião essa é a pior forma de tentar emagrecer que existe. Além de radical é bastante humilhante pois você acaba envolvendo várias pessoas no processo: um profissional de educação física saradão te mostrando como fazer seu treino, uma nutricionista gostosa dizendo o que você não pode comer, sua família orgulhosa no começo e frustrada como (e com) você algumas semanas depois e seus amigos.

E por falar em amigos, geralmente eles não são muito solidários com seu nobre ato de assumir que é gordinho e safado, e que agora quer mudar de vida se tornando saudável e saradão. Não mesmo.

Naturalmente eu não desisti na primeira tentativa. Logo depois tentei dietas insanas como "não comer carboidrados pelo resto da vida". Devo admitir que funciona para perder peso, mas você perde sua vida junto, então pra mim não rola. Carboidrados são a alegria do gordinho, ninguém merece um gordinho depressivo, certo?

Eu tinha que descobrir um jeito de emagrecer sem deixar de tomar cerveja, sem praticar atividade física na frente do espelho com várias pessoas em volta e sem me tornar o chato "não como isso porque estou de dieta".

Nessa altura do campeonato, mais ou menos no fim de 2012, eu estava pesando 106 kg e estava com 30 anos de idade. A Jera não estava no seu melhor momento e eu estava viajando muito mais do que gostaria.

A primeira atitude que tomei foi conversar sobre o assunto com várias pessoas aleatórias: gente que perdeu 50 kg, gente que ganhou 20 kg, gente que nunca mudou ou se preocupou com o peso.

Essas conversas são bem interessantes. Você aprende várias coisas que as pessoas também tentaram e que não funcionaram com elas também. Isso foi bom. Me senti mais normal, tipo "ser humano", saca?

E de fato descobri que emagrecer não é fácil pra ninguém, eu mesmo achei que seria mais fácil pra mim, afinal nunca tinha tentado de verdade. Foi quando eu começei a realmente me interessar pelo assunto.

A primeira descoberta foi: alimentação importa. Só na casa dos meus pais, e consequentemente na minha casa depois, nunca houve muita consciência sobre a tal da alimentação saudável.

Foi quando começei a levar mais a sério minha vocação para cozinheiro (não sou chef) e a partir daí começei a ter mais resultados preparando todas minhas refeições em casa. No próxima parte falo mais sobre isso, até lá.

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Saulo Arruda

Hoje estou fazendo umas coisas por aí: empreendendo, cozinhando, fazendo música, programando um bocado, curtindo minhas filhotas e sendo feliz.