Qual o objeto da lógica?

Schola Scotistarum
4 min readMay 17, 2024

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The Franciscans Santa Croce

Vimos antes se a lógica é ciência, veremos agora qual o objeto da mesma.

Para lidarmos com esta questão devemos fazer algumas distinções, primeiro: o que é objeto formal e material, adequado e inadequado da lógica; segundo: a definição.

O objeto é tudo aquilo que é proposto ao intelecto daquilo que deve ser conhecido. É dito também sujeito, não que seja algum acidente que inere ao mesmo, mas atribuição de propriedades sobre os quais a ciência age, e para aquilo que é referido.

Portanto, o que seria objeto formal e material?

Objeto material não são corpos ou materiais (como areia por exemplo), mas propriamente analogia que tem com a matéria, ela é indiferente para várias formas, e estas para muitas ciências. Neste sentido, o homem pode ser objeto da Metafísica na medida em que é ens; na Física na medida em que é corpo natural; na Moral na medida em que é o bem a ser governado (bonum dirigendus).

Objeto formal é aquela formalidade a ser encontrada no objeto material, a qual é determinada para alguma ciência específica, ou seja, a corporeidade determina o objeto formal à Física, a entidade à Metafísica. Assim, se o ente é objeto material da Metafísica, a entidade será o objeto formal da mesma ciência, etc.

Com efeito, é necessário responder o que é objeto adequado, ou total, e objeto inadequado, ou parcial. O primeiro diz respeito a tudo aquilo a ser discutido, seja das partes essenciais, integrais ou subjetivas; ou propriedade e efeitos; ou tal qual os acidentes em serviço para aqueles complementos, conservação e conhecimento de algo. O parcial considera apenas partes de tal ciência.

Há uma dupla divisão a se considerar, a saber: a mais proeminente, e a menos proeminente. A primeira trata da parte mais nobre do objeto total, assim o homem na Física; e a segunda que é do objeto total a parte menos nobre, assim a pedra na Física.

Qual a definição do objeto adequado da lógica?

O objeto de toda a lógica é o modo de conhecer, que é diretivo das três operações da mente, e é descrita como oratio ignoti manifestativa, isto é, a lógica torna manifesto aquilo que é desconhecido. Com isso, o modo de conhecer possui três espécies, dos quais sobre qualquer discurso é sempre oratio ignoti manifestativa: estas são a definição, divisão e argumentação, no entanto, entre si diferem e cada uma possui sua própria particularidade. Ademais, constituem um e total objeto adequado da lógica.

Pode-se justificar o referido, ainda, da seguinte forma: compete ao modo de conhecer a distinção de três condições para o objeto. Desta forma, a lógica pressupõe que o modo de conhecer algo é ignoti manifestativa, com efeito, a mesma é distinta em partes e propriedades: a definição, a divisão e a argumentação, são ignoti manifestativa, portanto são modos de conhecer.

Nada na lógica é ensinado de modo que seja retirado do que se segue da forma como é conhecido; o que é ensinado na lógica espera-se do modo de conhecer que seja definitivo, divisivo, ou demonstrativo, ou tal qual as partes, o complemento, ou o conhecimento destes, mas estas espécies do modum sciendi é formado e integrado em geral, o que dos mesmos é comum. Logo, o modo de conhecer em geral é o objeto adequado da lógica.

Antes de concluir, convém lembrar que o fim não é o objeto. O modo de conhecer é objeto adequado da lógica; o fim primário de fato é a mesma especulação, o secundário porém é dirigir as operações da mente.

Vimos, portanto, que objeto é tudo aquilo proposto ao intelecto, e que o objeto material é tomado por analogia com a matéria, assim sendo o homem, na medida em que é ens, é objeto material da Metafísica, e formal na medida em que a formalidade daquele objeto material é tomado, como a entidade. Vimos também a distinção entre objeto adequado e inadequado, mais proeminente e menos proeminente. Em seguida, o objeto da lógica que é o modo de conhecer.

Um breve apêndice.

Neste artigo, tanto Frassen quanto Rapinaeus defendem que o modo de conhecer é o objeto da lógica, conceito este retirado de Scotus em lib. I, priorum quaest. 2, por outro lado, tem-se o silogismo como objeto da lógica no mesmo Scotus na quaest, 3. universal. Esta discução pode ser ajustada da seguinte maneira de acordo com Poncius e Boivyn: Scotus entende por lógica os livros dentro dos predicamentos, a saber, priorum, posteriorum, topicorum e elenchorum, estes livros são apenas sobre silogismo e suas partes, Scotus deseja com isso que o silogismo seja o objeto da lógica, todavia na schola scotistica a lógica do Doutor foi trasmitida e ficou conhecida como o estudo dos termos da lógica e assim também sobre a definição, divisão e argumentação que é o modum sciendi, porém estes três conceitos pertencem tanto ao modo de conhecer como ao silogismo, uma vez que o mesmo é composto de termos; a definição e a divisão são úteis para a explicação dos termos e remover qualquer confução que neles possam referir, portanto aquela distinção precedente pode ser omitida, e isso pode ser estabelecido. Em outro momento será tratado mais sobre a lógica.

Referências:

Nucleus disputationum in universam philosophiam. Ad mentem subtilis R. P. Doctoris Ioannis Duns Scoti, ordinis minorum. Quaestio, IIII, pag 6 — Carolus Rapinaeus.

Philosophia academica, Tomus primus — Quaestio III, conclusio III, pag 45 — Claude Frassen.

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