Análise do filme “Coraline”

Sol de Lótus
14 min readDec 10, 2023

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Após quase quatro anos de produção geral, o filme Coraline se materializa na adaptação da obra de Neil Gaiman. Pela direção de Henry Selick, o considerado primeiro stop-motion em 3D conquistou o público é, até os dias atuais, o maior longa-metragem com essa técnica já feito. O mesmo diretor de “O estranho mundo de Jack” conseguiu eternizar mais de sua arte no filme Coraline e, mesmo com um orçamento de 35 milhões de dólares, em apenas duas semanas em cartaz conseguiu ultrapassar, em lucro, essa quantia. Foi necessário, para dar vida aos personagens da narrativa, a criação de mais de 15 mil expressões faciais à mão e o apoio de aproximadamente 500 pessoas. A experiência de contemplar esse filme é única e funde o que há de melhor no universo fantástico e nos sentimentos de medo e admiração. O escritor da história, Gaiman, explica que é um filme que pode ajudar o público em momentos difíceis e que começou a escrita para sua filha Holly mas, devido a demora da produção, acabou sendo finalizado para sua outra filha mais nova. O filme, atemporal e para qualquer idade, é uma das mais memoráveis e inesquecíveis animações da história do cinema. Este trabalho, portanto, irá analisar os aspectos de direção de arte, fotografia, montagem, som e direção do filme.

A trama de “Coraline”

Coraline se muda para uma nova casa num local deserto e sente-se sozinha. Os seus pais, que trabalham arduamente, não têm tempo para ela e a sua casa é sem cor, em contraste à personalidade vibrante da protagonista. Ela, entediada, decide explorar a casa e encontra uma porta pequena que logo se transforma em um portal secreto: do outro lado tudo é mais colorido, ela vive a vida perfeita e seus outros pais, que agora atenciosos, possuem botões no lugar dos olhos. O local é chamado de mundo secreto ou outro mundo. Coraline então começa a revisitar o lugar no qual até seus vizinhos são idealizados e perfeitos, mas, como indicava a teimancia (oráculo com folhas de chá) que uma de suas vizinhas leu, os camundongos e o gato do local, um perigo estava por vir. Ela descobre tardiamente que esse lugar fantástico se tratava de uma armadilha de uma criatura chamada “Bela Dama”. Esse ser aracnídeo se disfarçava para escolher crianças insatisfeitas com suas vidas e, ao criar um mundo perfeito e costurar botões em seus olhos, come a vida dessas crianças e se apossa de seus destinos. Coraline, no entanto, a enfrenta com muita coragem e consegue vencer a vilã, voltando para sua verdadeira casa.

Direção de arte

Um conteúdo com grande presença no filme, tratando-se de um stop-motion, é o desenho de produção. Com uma equipe numerosa, cada detalhe dos bonecos que ganham vida pode ser enaltecido. O cenário e tudo que aparece em cena foi criado manualmente pelas mãos de alguém, o que enumera ainda mais o trabalho da criação artística do filme. Como aspectos em cena, existem particularidades da obra que nos introduzem a emoções conectadas à narrativa.

Coraline transita por dois mundos diferentes, o real e o fantástico, através de um portal que a mesma encontrou na sua nova casa. No real, a protagonista vivencia a solidão, a rotina monótona e a monocromia de sentimentos. Nesse cenário, Coraline é a única que possui mais cor, com seu cabelo azul e sua capa de chuva amarela. A casa é acinzentada, com aparência de desgaste e com quase nenhuma decoração. Já seus pais possuem roupas também pouco saturadas e aparências cansadas, que são explicitadas mostrando a rotina exaustiva de trabalho dos mesmos. O pai também possui o rosto com olheiras, confirmando a exaustão mental que se submete diariamente escrevendo ao computador em seu quarto, que também é sem cor e tem aparência apática. Outro demarcador da apatia do local é a presença de chuva constante no mundo real, isolando os personagens em sua casa e transmitindo um céu cinza, nublado, tons escuros e o tédio — que enfatiza ainda mais as cores insaturadas.

Diferenças entre o mundo real e o mundo secreto

Já quando Coraline atravessa o portal e chega no mundo secreto, na realidade ideal para ela, tudo ganha vida e cor. As decorações do quarto da mesma, bem como o quadro com a foto de seus melhores amigos, ganham vida e conseguem falar e se mover. Os pais usam roupas mais saturadas, a casa tem mais iluminação, contrastes de cor e está com aparência de nova. Toda essa diferença de cenários emerge o que seria um local animador e de acolhimento e felicidade para a protagonista, que não se sente assim no mundo real. Em um determinado momento, no outro mundo, também há uma apresentação do jardim repleto de pássaros e flores coloridas e iluminadas que seu outro pai teria cultivado. Em uma vista panorâmica, de cima, as folhas juntas formam o rosto e o cabelo azul de Coraline.

Já os vizinhos de Coraline, em especial o Senhor Bobinsky, que prepara e cuida de camundongos para uma possível apresentação circense e se veste com roupas velhas e desgastadas, ganha mais cor também no outro mundo. Esse personagem, por exemplo, veste-se lindamente e comanda a real apresentação dos camundongos saltadores que, no mundo secreto, fazem shows incríveis. As outras vizinhas, que dispõem de cartazes de peças teatrais quando mais novas, revivem a atuação no outro mundo para uma plateia de cachorros, com a mesma raça dos que elas criam e dos que já se foram: Terrier Escocês. Na apresentação também há a adaptação da obra de arte do quadro “O nascimento de vênus”, de Sandro Botticelli e a citação de um trecho da obra Hamlet, de William Shakespeare. Todas essas ambientações artísticas retornam o espectador para o sentimento de mundo ideal e de uma fuga emocional para a própria Coraline, que passa por uma mudança difícil.

Como dito anteriormente, a cor da capa de chuva de Coraline é diferente de qualquer tom de cor que habita esse cenário que pode ser interno, dentro da casa, ou externo, nas ruas e nos jardins. Ela possui uma dimensão e um destaque emocional diferente dos demais, que demonstram menos alegria e vida. Além disso, a combinação do amarelo com o azul também transmite uma sensação dentro da narrativa. O amarelo traz leveza, otimismo e imaginação, nos levando ao mundo criativo e feliz da protagonista. Já o azul transmite força e coragem, aspectos também muito presentes na personagem.

A vilã, em contraste, mostra-se de uma forma faminta, com sua aparência magérrima e seu olhar cruel. A mesma se transforma em aranha ao sair de seu disfarce de outra mãe, como uma metáfora para alguém que faz armadilhas. Quando a Bela Dama se transforma em aracnídea, ela também têm as patas em formato de agulha, aludindo ao fato de que a mesma costura botões nos olhos das crianças. Em sua teia, o fundo é branco e super exposto, causando uma sensação de infinitude e criando um mundo único e com muito contraste.

Da última vez que Coraline está com a Bela Dama, após descobrir os feitios da vilã, os seres vivos do ambiente começam a morrer e as cores perdem a vida, simbolizando a passagem definitiva do que era ideal e do que, naquele momento, se torna um pesadelo. Os personagens idealizados começam a ter uma aparência medonha. Já quando Coraline consegue voltar para casa, o ambiente possui um pouco mais de cor e tonalidade com as flores que plantaram, trazendo a sensação de que as coisas estão começando a ficar felizes, para a protagonista, naquele ambiente. O céu, que era nublado, transforma-se em estrelado e logo em seguida, em uma dissolução, há a releitura do quadro “Noite estrelada”, de Vincent Van Gogh. O filme acaba com o mesmo enquadramento e cena inicial da casa, mostrando uma história cíclica, que teve seu desfecho no mesmo local do início.

Fotografia

O filme possui amplos aspectos fotográficos e, por ser o primeiro stop-motion em 3D já feito, foram necessárias duas câmeras, uma de cada lado, para cada fotografia que compõe a animação. Nesse estilo de gravação, cada pequeno movimento dentro da história precisa ser fotografado para depois ganhar vida na pós-produção, na qual as fotos irão, em sequência, compor a ação. Na introdução do filme, quando a boneca de Coraline é criada pela Bela Dama, podemos ver em plano detalhe a costura e o processo de produção. Isso permite o acesso a apenas uma informação sobre a vilã, que no caso seriam suas mãos de agulha, aumentando ainda mais a tensão e o mistério do filme.

Logo em seguida, é mostrado um plano geral aberto com o movimento de câmera tilt, de cima para baixo, na nova casa, a fim de nos inserir na geografia do ambiente que explica, resumidamente, o início da história: o momento em que Coraline se muda. O foco da câmera nos permite enxergar, do lado direito, uma placa escrita “Pink Palace apartments” e, ao lado esquerdo, um caminhão de mudanças. Portanto, nesse subtexto há a explicação da introdução narrativa. Na introdução, ainda podemos perceber, em close-up, um gato preto, que no futuro fará muito sentido para o filme. Todas essas ambientações de câmera e planos servem para nos dar pistas do que acontecerá e introduzir a história.

Ao longo da narrativa, movimentos de câmera tilts e zoom-in são muito presentes no filme. Várias vezes em que algo é mostrado, a câmera aparece filmando, de início, de cima para baixo, demonstrando o olhar humano vertical quando observa algo também por essa perspectiva. Quando os personagens aparecem em cena, também é muito comum eles virem acompanhados de um zoom-in de câmera, que demonstra uma aproximação física com o personagem e uma maior compreensão do ambiente em que ele se insere. O movimento de zoom, se tratando de várias fotos sequenciadas, serve também para distanciar o espectador de uma filmagem parada, que poderia ser presente no contexto de fotografias únicas, trazendo o olhar para a movimentação de câmera e uma gravação contínua.

Por conta da grande quantidade de planos próximos e close-ups, a expressão facial de cada personagem é muito bem explorada e, principalmente, bem feita. Por ser um stop-motion, cada movimento facial foi pensado, articulado, e feito manualmente, sendo portanto necessariamente enfatizado. Em algumas cenas, também, a câmera inclina e filma a imagem não alinhada e torta, causando maior imersão na imagem e imitando com proeza como os olhos humanos, em diferentes posições, conseguem enxergar. Muitas vezes também podemos ver os acontecimentos pela perspectiva dos personagens, nos trazendo ainda mais para seus mundos e criando uma conexão empática maior através de seus pontos de vista.

A iluminação também é muito presente no longa-metragem e analisamos bem as sombras e os pontos de luz, que aparecem, por exemplo, através de lustres, abajures e outras fontes. Quando Coraline está no mundo real, tudo é um pouco mais escuro e mal iluminado, principalmente através do clima nublado e chuvoso. Já no mundo secreto tudo é mais iluminado. Por fim, outro aspecto fotográfico importante é que em um momento da trama, curiosamente, um trem circula pela mesa de jantar levando molho para a protagonista. Em um breve instante temos um enquadramento de traveling, por ciima dos trilhos desse pequeno trem.

Som

Logo na primeira cena temos contato com as músicas de Coraline, que dispõem de uma linguagem única e uma composição exclusiva. Também aparecem, na introdução, foleys e efeitos especiais de vento, caminhada, miados, trovões e barulho de moto. Esses efeitos estão presentes em toda extensão narrativa. Já no momento em que a protagonista atravessa o portal para o mundo secreto, músicas que trazem a sensação de mistério e encantamento aparecem e, assim como os sentimentos presentes em cada pequena ação, os sons de fundo se adaptam e são tocadas músicas coerentes com o que acontece no momento. Se a cena é de medo e suspense, a música que escutamos também será. Geralmente essas sensações sublinham o sentimento de Coraline e nos conectam ainda mais à narrativa.

Algumas músicas não pertencem ao universo diegético, ou seja, só o espectador tem acesso a esses sons. Porém, em alguns momentos do filme, podemos perceber uma música diegética — que em alguns cortes, dentro da cena musical, também passam por off screen, causando tridimensionalidade. Esses cortes acontecem, por exemplo, quando a câmera mostra Coraline em uma tomada. Quando o outro pai de Coraline toca uma música para ela, isso aparece em cena. Há também a aparição de músicas diegéticas nas apresentações artísticas de seus vizinhos no outro mundo. Em uma, as vizinhas cantam e conseguimos ver a origem de parte do som, mas apenas as suas vozes, não o som instrumental. Já na outra apresentação, os camundongos tocam instrumentos e criam a música.

O filme, tratando-se de uma animação em stop-motion, não dispõe de sons gravados ao mesmo tempo, necessitando, então, de uma criação sonora exclusiva da pós-produção, que é responsável por dublar as falas dos personagens e criar, sonoramente, cada pequeno gesto que está presente no filme, como o barulho de chuva, seus pingos e a porta abrindo, por exemplo. Não há captação de som direta, já que o filme é uma mescla de diversas fotografias, portanto não existe, também, uma pré-produção sonora.

O silêncio, que também tem sua função narrativa, também é presente dentro da mesma. Mais comuns em filmes de suspense, Coraline veste bem essas funções. Quando a mesma chega pela primeira vez ao mundo secreto, ela observa o ambiente ao seu redor e existe um silêncio quase absoluto, porém com barulho de grilos presente — também simbolizando o vazio que existe naquele espaço inicialmente. Só se percebe uma presença humana na cozinha, onde o silêncio se dissipa quando a protagonista chega lá. Os outros cômodos vazios e o silêncio traz para o espectador a sensação de que algo está prestes a acontecer, aumenta a tensão e traz a sensação de vazio espacial.

Também há a presença de leitmotiv, um tema-assinatura que se repete durante todo o filme. Geralmente quando Coraline está descobrindo as coisas, uma música tema se repete. Não coincidentemente, o nome da música é “Exploração”, indicando que o momento em que a mesma toca em momentos de explorações e vivências da protagonista. As músicas presentes na trilha sonora também têm um idioma próprio e secreto, criado para o filme. Ele se chama Gibberish. Como exemplo, o trecho da música assinatura “suli au len, le je le fanilé jenti” significa, traduzido em português, “cantando na chuva, vivendo em pouca felicidade”.

Montagem

O tempo narrativo acompanha os dias, sem serem presentes, na história, grandes elipses. Portanto, o que demarca o fim de um dia para o início de outro é quando Coraline dorme e acorda. Nas vezes em que a protagonista dorme no mundo secreto e acorda no mundo real, são presentes dissoluções de imagem para mostrar a mudança de cenário. A narrativa acompanha os 4 dias de história dessa aventura.

Logo no início do filme nota-se a presença de raccord de olhar. No momento em que Coraline escuta um barulho e direciona o olhar para algumas pedras, em seguida o ponto de vista aparece para o espectador, que olha para onde a personagem também olhou. Em alguns outros momentos esse raccord também está presente. O filme também respeita, impecavelmente, raccords de ação, técnico e de objetos, possuindo uma continuidade linear em cada corte de cena e mantendo os personagens e objetos na mesma posição anterior, bem como possuindo iluminação, som e movimentos constantes em cada tomada.

A teoria do piscar de olhos, na qual define que o corte ideal deve ser feito ao fim de cada frase, coincidindo com o piscar de olhos dos personagens, é presente pouquíssimas vezes no filme. Os cortes, no entanto, são feitos quase sempre no meio de uma ação, bem como presente no conceito de montagem invisível, existente várias vezes em toda a narrativa. Além disso, em todos os diálogos, a regra dos 180º é respeitada e a câmera se mantém nesse eixo. Não há a presença de montagem paralela, quando são intercalados dois eventos que acontecem simultaneamente, nem de montagem intercalada, quando se intercala duas ações que acontecem em tempos diferentes.

No filme, a maioria dos planos de diálogo acontecem de forma rápida, com diversos cortes. Nessas cenas, existem planos que não passam de um segundo de duração, mas em alguns momentos de diálogo os planos são estendidos também. No entanto, em alguns outros momentos, os cortes são feitos de forma demorada e cada plano tem uma duração média de 9 segundos, existindo planos de 20 segundos ou mais. O tempo narrativo tende a acompanhar os acontecimentos em tempo real, porém, no mundo secreto, tudo ocorre de forma mais rápida e acelerada, com muitas ações em um curto período temporal e uma maior presença de movimentações de câmera. Essa rapidez acontece em contraste ao tédio do mundo real que, no mundo secreto, é dissipado.

Também é muito comum, por vezes, dissoluções de câmera que conectam um momento a outro. Por exemplo, em um momento Coraline vira o rosto na diagonal e, por cima, é dissolvido o rosto da personagem na mesma posição, mas em cenários diferentes. Isso também acontece quando se dissolve o rosto de Coraline com o rosto de sua boneca, demarcando uma troca de plano.

Além da diferença de cenários, podemos perceber a transição do mundo real para o mundo secreto através do portal que Coraline sempre passa para chegar ao mundo secreto e dos olhos de botões dos personagens.

Direção

Henry Selick, também diretor de “O estranho mundo de Jack” e “James e o pêssego gigante”, dá vida a histórias e as materializa, majoritariamente, em stop-motion. Suas obras compartilham uma estética única e contém um estilo de terror muito característico. O diretor usa tons escuros em seus filmes mas, geralmente em um outro cenário de fantasia nas narrativas, também utiliza cores vivas com tons quentes, como vermelho, laranja, amarelo e rosa. Os seus personagens e bonecos também possuem traços mais delicados e minuciosos.

Uma característica também muito presente em sua obra é contar a história de alguém que vive em seu mundo infeliz, mas descobre um universo encantador que, após um tempo, perde o seu brilho, fazendo com que o personagem valorize, perceba as partes positivas e se sinta bem no ambiente que anteriormente lhe fazia mal. Como são filmes infantis, a “lição de moral” é que a insatisfação é quase sempre a desvalorização do que a pessoa já possui e que, às vezes, o que é idealizado, pode não ser tão perfeito assim.

Segundo Joe Ranft, Henry Selick tem um dom: “Ele pode articular através da animação coisas que as pessoas não conseguiriam de outra forma”. Com a direção de Henry Selick, temos contato com um mundo fantástico no qual também nos identificamos e há a possibilidade de inserir a fantasia sem precisar utilizar a suspensão da descrença, muito presentes em filmes infantis live-actions de ficção. Com a animação ele consegue criar um universo só dele e muito autêntico e único.

Selick também afirma, em uma entrevista, que a técnica 3D que ele usa não serve apenas para uma estética ou como um truque, mas para melhorar a história e atrair o público para o filme, como o som e a cor eram para o cinema inicialmente. Ele também afirma que construiu tudo com profundidade no mundo secreto, já que o mesmo quer encantar Coraline, trazendo uma sensação de liberdade. Já no mundo real parece limitado e com menos profundidade.

De acordo com David Bordwell, interpreta-se que o diretor usa a técnica de plano de composição volumétrico no mundo secreto, que dispõe de elementos em diagonal e traz mais profundidade de campo. Já no mundo real, utiliza composição planimétrica, com elementos em cena horizontais, com imagens achatadas.

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Sol de Lótus

Poeta, multiartista e estudante de Cinema e Audiovisual. Aqui compartilho pensamentos <3