E o que Caetano pensa sobre ‘Caetano estaciona carro no Leblon’?
Um título, três fotos e suas legendas. Há cinco anos, “Caetano estaciona carro no Leblon”, uma notícia no site Terra, não mudava a vida dos leitores, mas mudava a percepção sobre o jornalismo online brasileiro: qualquer banalidade de uma pessoa minimamente conhecida viraria informação. Bastava ser flagrada.
Na web, sem as limitações de uma edição de jornal ou revista, a abundância é a característica mais evidente. Os sites de celebridades assinam serviços como os da agência Agnews, autora das imagens de Caetano, e recebem diariamente flagras de vários fotógrafos. Por que não publicá-los? Bem, se você respondeu “relevância jornalística”… O fato é que, cinco anos depois, a quantidade de notas do tipo só aumentou. Eu pessoalmente acho perda de tempo lutar contra isso. As pessoas clicam. Em vez de reprimir, melhor estimular a popularização do oposto: boas histórias com esforço de precisão nas informações e bem contadas. Notícias úteis para o dia a dia dos leitores com trabalho para obter clareza e exatidão.
Mas o que Caetano, alguém que sempre teve algo a dizer sobre os temas mais diversos, pensa da nota da qual foi protagonista e de sua repercussão? Mandei algumas perguntas e ele gentilmente me respondeu através dos seus assessores, aos quais também agradeço.
“Vi essas fotos com certo atraso. Pessoas amigas me mostraram e rimos sempre muito com o absurdo. Havia um pouco de indignação também nesse riso. Depois percebi que um número imenso de pessoas ria e se indignava com esse show de banalidade. Achei que há suficiente consciência do ridículo dessas coisas.
Caetano lembra então que a curiosidade do público sobre a vida privada das celebridades não é de hoje:
“Pessoalmente não estou em rede social e nunca vejo sites de celebridades. Mas basta eu abrir o Yahoo! para entrar no meu email que eu vejo notícias de nada sobre pessoas que são conhecidas. Fico meio perdido. Sempre houve curiosidade sobre a vida particular de pessoas famosas. Me lembro da Revista do Rádio mostrando toda a casa de Angela Maria e detalhando seu cotidiano. Entendo que se queira achar distração olhando a vida dos outros. Mas vivo longe desse mundo de curiosidade maluca”.
Ele diz que não liga muito para a atenção dada a esse aspecto da vida de personalidades, mas que é importante manter o espírito crítico sobre o que é produzido no jornalismo hoje.
“Claro que [esse tipo de publicação] deve ser criticada. E é. A própria reação a essa ‘reportagem’ sobre mim mostra que um grande número de pessoas percebe a maluquice. E aponta para a burrice inerente. As pessoas famosas sabem que suas vidas são objeto de curiosidade. Eu não me importo tanto com isso. Mas não se pode perder a dimensão crítica”, escreve ele.
Caetano pensa que atualmente sua opinião recebe mais atenção do que sua produção artística? “Talvez. Não ligo muito. Mas me importa mais o que acontece com ‘A bossa nova é foda’ do que com uma reportagem minha sobre Israel. Embora opinar, discutir e analisar estejam entre as coisas que me estimulam. Mas cantar é melhor ainda.”
E, em defesa do interesse por detalhes fúteis e banais (até certo grau) e da curiosidade de como vivem as pessoas, o que inclui as celebridades (também até determinado ponto), perguntei: “Afinal, como é estacionar um carro no Leblon?”.
“Aprendi a dirigir quando já tinha 35 anos. Não tenho intimidade com automóveis. Adoro dirigir na madrugada, dar carona a meus amigos até suas casas e voltar ouvindo a Roquette Pinto ou a MPB FM. Mas não sou bom de estacionar, fazer manobras, nada disso. Me viro e não causo problemas a ninguém. Mas não sei nem reconhecer um carro meu no estacionamento. Quando dizem nomes de marcas ou modelos de carro minha cabeça fica em branco.”
Um obrigado a minha amiga querida Liv Brandão por ter ajudado nos contatos.