Pichação e Runas

Ao viajar pela cidade de São Paulo do extremo sul ao centro, é impossível não notar o predomínio das pichações nas paredes das casas, edifícios, comércios, pontes e muros. Eles estão presentes em todas as regiões de São Paulo e fazem parte da estética urbana da cultura underground, juntamente com outras manifestações artísticas como grafismos, murais, estêncil, e os lambe-lambes ou stickers (adesivos).

Mas o que mais me chama a atenção são as transgressivas, as mal quistas e agressivas pichações. Os pixos não são feitos para agradar, muito pelo contrário. Os pichadores não estão preocupados com estéticas e padrões vigentes da sociedade, melhor dizendo, com o que é do gosto popular ou comercial. Mas eles carregam a sua própria codificação, a sua própria padronização, dentro da sua cultura.

Atualmente, a pichação é uma manifestação de pessoas que, geralmente, vivem em subúrbios e experienciam diariamente a desigualdade e a exclusão social. Essa forma de escrita ou marcação como forma de manifestação urbana ganhou espaço em Paris nos movimentos revolucionários em 1968. O graffiti surge também em Nova Iorque, como marcação de territórios dos moradores dos guetos a partir dos anos 60, e no Brasil, como forma de protesto contra a ditadura nos anos 60 . Indo mais a fundo e ampliando o campo investigativos, é tão ou quase tão difícil definir o local e a época exatas da origem dessa forma de marcação quanto definir o local e a época exatas da origem da escrita em si. Já que diversas civilizações desenvolveram tecnologias similares em lugares afastados uns dos outros. Mas há indícios de que haviam escritas nos muros de Pompéia, a cidade Italiana destruída por um vulcão por volta de 79 d.C. onde haviam poesias, manifestações políticas e anúncios de eventos.

As pichações como forma de manifestação urbana possuem traços característicos que lembram letreiros de bandas de rock/metal dos anos 80, que por sua vez remetem às runas e, a meu ver, também lembra outras formas de escritas arcaicas como a dos povos fenícios. Além de terem a estética influenciada por formas de escrita antiga, também trazem do mundo antigo, a marcação em muros ou pedras. E tudo isso traz a tona questões de como surgiu a escrita, como ela evoluiu ao longo do tempo, quais foram e quais são seus usos e como ela contribui para o conhecimento da humanidade sobre o mundo e a si mesma.