Síndrome do Impostor e Evolução Pessoal

Ricardo Dias
7 min readMar 18, 2017

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Introdução: O que é que eu tô lendo?

Vejo muitas pessoas reclamando que, mesmo conseguindo entregar projetos e executar suas tarefas, se sentem estagnadas no tempo — sem conseguir sentir uma evolução real em suas habilidades, tanto nas que tangem algum conhecimento específico (como uma linguagem nova de programação, uma técnica de desenho ou capacidade organizacional) quanto em objetivos mais abrangentes (como capacidade de falar em público, aumentar conexões profissionais ou melhorar a forma como você apresenta seu trabalho).

Pensando nisso, resolvi escrever esse texto para contar um pouco como eu tenho lidado com a síndrome do impostor que sinto desde que fui contratado pela RIOT, causada principalmente quando você está em um ambiente cheio de pessoas brilhantes que você admira. Se você se identificou com algum dos sintomas que mencionei, continue lendo!

DISCLAIMER: As técnicas e rituais que vou comentar aqui foram aprendizados que coletei ao longo de alguns cursos de Agile e métodos que aprendi na própria RIOT. Eu não inventei nada. Apenas separei o que funcionou pra mim e resolvi dividir com vocês.

A mentalidade do crescimento

A primeira coisa que me ajudou nessa jornada de auto aperfeiçoamento — que, aliás, nunca termina — foi uma pequena mudança na forma de pensar e encarar o mundo, o Growth Mindset. É uma teoria bem completa e que toca em vários aspectos de aprendizado — mas, resumidamente, esses são os pontos mais importantes:

  • Ninguém nasce sabendo. Não saber algo não é motivo para deixar de aprender alguma coisa… Muito pelo contrário!
  • Valorize o esforço para alcançar resultados mais do que os resultados em si.
  • Críticas são o seu MAIOR aliado.

Alguns desses pontos podem parecer contraintuitivos, mas quantas vezes você já se desmotivou ou se sentiu “travado” quando, ao tentar inúmeras vezes fazer algo, não produziu resultado algum? O ponto aqui é mudar a sua atenção para questões como “o que você aprendeu em cada tentativa?” e “como você consegue usar esse aprendizado para aperfeiçoar ainda mais a próxima?”.

Escute o Jake!

Abrace as falhas

Outra armadilha que é causada pelo foco excessivo no objetivo é o medo de falhar. Ouso dizer que é no erro que existe maior oportunidade de aprendizado. Precisamos abraçar mais nossos erros. É claro que não vamos errar propositalmente, mas é necessário ter a mentalidade que falhas VÃO ocorrer — e que se o caminho que tomamos não é o correto, queremos que o fracasso chegue o quanto antes para, assim, acelerar seu aprendizado.

Quando estiver aprendendo algo novo, evite entrar em um ciclo onde você só vai ter um aprendizado real depois de dedicar muito tempo e esforço. Comece em escalas pequenas, onde o impacto da sua falha não é muito grande mas o aprendizado ocorre do mesmo jeito. Exemplo:

- Charmander Jr. quer usar uma técnica nova para organizar seus projetos. Ele pode:

A) Usar essa técnica inovadora no seu principal projeto do ano

B) Organizar a lista de livros que quer ler

Obviamente, opção A vai tomar muito mais tempo do nosso amigo Charmander Jr., e provavelmente os resultados desse aprendizado vão demorar para aparecer. Além disso, pelos riscos que uma falha no seu principal projeto pode causar em sua carreira, ele vai ter dificuldades em prestar atenção nesses aprendizados — enquanto na opção B ele rapidamente poderia entender quais os pontos fracos e fortes dessa nova técnica e rapidamente aplicá-la (ou abandoná-la por completo).

Com um pouco de esforço, dá para pensar em várias formas que deixamos de aprender algo novo pelo medo de falhar — e como poderíamos aproveitar essa oportunidade se buscássemos um modo rápido de errar de maneira controlada.

A chave do problema

Ter essa mudança na sua mentalidade é de extrema importância, já que frustrações sobre sua própria evolução são — na maioria dos casos — consequência da falta de atenção que damos ao processo do crescimento e na ansiedade que sentimos em querer resultados finais imediatos. Ficamos tão fixados na linha de chegada que esquecemos de notar cada passo que damos em direção à ela.

É muito fácil cair na armadilha de olhar para uma pessoa que você considera super talentosa e pensar “nunca vou chegar nesse nível… Olha só tudo que ela já fez!” quando, na verdade, a abordagem mais saudável seria “o que eu consigo aprender com os feitos dessa pessoa? Que tipo de desafios ela enfrentou?”.

Resumindo: a sensação de estagnação pode muitas vezes ser combatida com uma pequena mudança de perspectiva, onde prestamos mais atenção nas pequenas evoluções que temos e como elas ajudam a pavimentar o caminho pro teu objetivo final.

Como prestar atenção nas pequenas evoluções que temos e como elas ajudam a pavimentar o caminho pro teu objetivo final

Na realidade, existem muitas formas de fazer isso — e a sugestão que vou dar não é uma resposta final. Para algumas pessoas, o simples fato de refletir que precisam olhar mais para seus pequenos progressos já é o suficiente. Para outras (como eu), um método mais focado em deixar evidente as conexões entre pequenas vitórias e um objetivo final é necessário.

O segredo para manter esse progresso sempre na sua vista é um PDP — Personal Development Planning. Existem vários modelos de PDP, mas esse é o que eu costumo usar. Para fazer o seu, você vai precisar de:

  • Excel
  • Reflexões profundas sobre seus pontos fracos e fortes
  • Alguém que te ajude a validar suas premissas
  • Reflexões profundas sobre “qual seu objetivo” e “o que você quer melhorar”
  • Tesoura sem ponta

O primeiro passo (e para alguns é o mais difícil) é refletir e listar quais são seus pontos fortes e pontos a melhorar. Isso é extremamente importante para conseguirmos entender em que pé estamos. Sem entender esses pontos, é difícil saber onde focar e o que priorizar no seu crescimento pessoal. Portanto respire fundo, pense bastante e faça sua listinha:

Os exemplos a seguir são meramente ilustrativos.

Você também pode pedir ajuda para um colega de trabalho próximo ou alguém que te conheça bem para validar esses pontos. Não peça pra ele listar pra você, mas sim ajudar na validação. Inclusive, também é bom anotar caso você receba feedbacks constantes sobre algum aspecto.

Segundo passo é — pensando nos seus pontos fortes e de melhora — traçar seus objetivos. É muito importante aqui não só entender o QUE você quer melhorar, mas também POR QUE você quer melhorar. Quando você tem uma razão por trás dos seus objetivos é mais fácil se motivar a alcançá-los e ficar sempre observando se você não está se afastando das suas reais intenções. Também é o momento de decidir escopos de melhoria a curto, médio e longo prazo. Aqui é onde é legal pensar em formas de “falhar rápido”. Pense em como podemos controlar o ambiente onde vamos aprender a melhorar.

Mantenha as ideias sempre relacionadas!

Usei cores para deixar bem claro a “cadeia” que mantém todos os pontos ligados. Também é importante lembrar que nem sempre você precisa focar só nos seus pontos de melhora — às vezes você pode pensar em formas de aproveitar melhor suas forças!

Terceiro e último passo é definir um plano de ação. Literalmente fazer um backlog de tarefas/ações que você vai fazer para alcançar os objetivos listados. Algumas ações podem já estar bem óbvias pelos objetivos que você definiu — principalmente os de curto prazo — mas outras podem exigir um pouco mais de esforço e até ajuda de outras pessoas. É importante deixar as tarefas bem específicas e simples de serem realizadas. Lembre-se que queremos controlar nosso PROGRESSO e APRENDIZADO em relação ao objetivo. Esse é o foco!

O backlog é uma lista VIVA e você pode (e deve!) acrescentar novos objetivos sempre que pensar em alguma coisa importante ou tiver algum aprendizado. Além de listar as ações, você precisa priorizá-las por importâncias, bem como deixar claro quanto tempo você pretende gastar com cada uma delas.

Depois de que o PDP estiver pronto, é colocar a mão na massa — começar a fazer as coisas com que você se comprometeu e ir marcando conforme elas forem realizadas. Pessoalmente, também gosto de manter uma documentação de retrospectiva, onde reflito e anoto aprendizados (quem sabe falo sobre isso em um outro texto).

Basicamente é isso! Sei que, muitas vezes, nos sentimos desmotivados para seguir com esse tipo de técnica — mas acredite que, mudando um pouco sua forma de encarar progressão e evolução e traçando objetivos coesos e simples de serem realizados, aos poucos chegará no seu objetivo — e a melhor parte, vai ter uma prova viva de que você evoluiu (e muito) nesse caminho.

Obrigado Rafael Sales por compartilhar modelo de PDP e Karoline Kaczorowski por revisar o texto.

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Ricardo Dias

Garoto maroto, ousado sem ser vulgar, introvertido, gerente de produto na RIOT Games. Opiniões dessa conta são só minhas!!! MINHAS!!!! *egoista*