O que são dados Google Trends — e o que eles significam?

Simon Rogers
7 min readJun 8, 2018

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Há pouco mais de um ano, nós disponibilizamos dados Google Trends em tempo real; e, de maneira crescente, isso está ajudando pessoas ao redor do mundo a explorar reações globais a grandes eventos.

A vasta quantidade de buscas — trilhões são feitas todos os anos — faz do Google Trends uma das maiores bases de dados do mundo. Examinar o que as pessoas buscam dá uma perspectiva única sobre os assuntos que despertam interesse e curiosidade.

Então, quando há uma grande história, como você pode interpretar esses dados?

O que são dados Trends?

Dados Trends são uma amostra neutra e imparcial dos nossos dados Google. Eles são anonimizados (ninguém é pessoalmente identificado), categorizado (é determinado um tópico para a consulta de pesquisa) e agregado (agrupado de maneira conjunta). Isso nos permite medir o interesse em um tópico particular por meio das buscas, de todo o mundo, por cidades.

Você pode fazer isso também — a ferramenta de dados de Google Trends permite que você busque por um tópico em particular no Google ou por um conjunto de termos. Use a ferramenta e você pode checar o interesse de busca em um assunto ou termo de pesquisa ao longo do tempo, descobrir onde ele é mais buscado ou o que as pessoas buscam em conjunto com aquele tema.

Há dois filtros para os dados de Trends: em tempo real e histórico. Os dados em tempo real são uma amostra aleatória das buscas dos últimos sete dias, enquanto os dados históricos são uma outra amostra da base de dados completa do Google, que pode retroagir a qualquer ponto, desde 2004 até há aproximadamente 36 horas. Os gráficos vão mostrar ou um ou outro, mas não ambos, porque essas são duas amostras aleatórias, separadas uma da outra. Nós tiramos uma amostra das trilhões de buscas do Google, porque, do contrário, seria algo muito grande para processar rapidamente. Ao trabalhar com uma amostragem dos nossos dados, podemos, em minutos, encontrar insights de um acontecimento no mundo real.

Trends é uma base de dados única e poderosa, que pode complementar outras, como dados demográficos do Censo, como nessa reportagem do The Washington Post. Por ser uma amostra, ela nos dá a possibilidade de analisar o que as pessoas buscam em tempo real, no desenrolar dos acontecimentos. Mas combinar bases de dados pode ser delicado — por exemplo, não faz sentido comparar dados de Google Trends com os de outras bases do Google, que são mensurados de outra maneira.

Por exemplo, AdWords destina-se a insights sobre a média mensal do volume de buscas, especialmente para anunciantes, enquanto o Google Trends é desenhado para as pessoas se aprofundarem em dados granulares em tempo real.

O que os números querem dizer?

Google Trends é uma ferramenta poderosa para contar histórias porque ela nos permite explorar a magnitude de diferentes momentos e como as pessoas reagem a esses acontecimentos. Podemos olhar para o passado e comparar diferentes assuntos — por exemplo, ranquear diferentes esportes desde 2004. Nós também podemos usar o número total de buscas sobre um evento para entender sua completa magnitude. Quando divulgamos nosso Year in Search, em 2015, descobrimos que, quando Adele voltou aos palcos com “Hello”, houve um espantoso volume de 439 milhões de buscas no Google.

O mais útil para contar histórias são nossos dados Trends normalizados. Isso significa que, quando olhamos para o interesse de busca em um determinado tema ao longo do tempo, estamos olhando para aquele interesse como uma proporção de todas as buscas em todos os tópicos pesquisados no Google naquele local, naquele momento. Quando olhamos para o interesse regional ao longo do tempo, nós estamos olhando para o interesse de busca — naquele tópico na região escolhida — como uma proporção de todas as buscas em todos os tópicos no Google, naquele mesmo local e período de tempo.

Por exemplo, se olharmos para Trends sobre Bernie Sanders, vemos que Vermont é onde há o maior interesse pelo senador. Isso ocorre porque, de todos os estados, Vermont é aquele com o maior percentual das buscas por Sanders considerando todas as buscas feitas naquele estado. Se olhássemos para os números brutos, ao invés dos dados normalizados, nós veríamos estados maiores, com mais habitantes, subir para o topo do ranking.

Essa normalização é muito importante: o número de pessoas buscando no Google muda constantemente — em 2004, o volume de buscas era muito maior do que ele é hoje, então números brutos não permitiriam comparação entre passado e presente. Ao normalizar nossos dados, nós podemos extrair insights mais profundos: comparar períodos de tempo diferentes, países distintos e até mesmo cidades diferentes.

O contexto dos nossos números também importam. Indexamos nossos dados para 100, onde 100 significa o interesse máximo de busca para o momento e localização selecionados. Isso significa que, ao olharmos para as eleições norte-americanas de 2016, desde o começo de 2012, vemos que março de 2016 registrou o interesse de busca mais alto, com valor 100.

Se olharmos para o interesse de busca apenas em março de 2016, podemos ver que o dia 16 daquele mês foi o de maior interesse de busca, porque reindexamos nossos valores apenas para aquele mês.

Como colocar os números em contexto?

Como os dados de Google Trends são apresentados em um índice, geralmente as pessoas nos perguntam: “O quão importante é isso?”.

Há algumas maneiras de avaliar essa questão. A primeira é compreender o interesse de busca relativo em um tópico comparado a si mesmo — ou o que chamamos de “pico”.

Assim que os resultados para o referendo sobre a União Europeia começaram a chegar, Google Trends mostrou aquilo as pessoas estavam inerentemente curiosas a respeito. O interesse de busca pela gravata de David Dimbleby atingiu seu ápice, e as buscas por “como conseguir um passaporte irlandês” dobraram. Entender o aumento percentual em determinado assunto pode ser útil para entender o quanto o interesse em determinado tema cresceu. Esse aumento percentual é baseado na alta do interesse de busca durante um período de tempo comparado ao período anterior.

Esses “picos” são súbitas acelerações de interesse de busca num tópico, comparado ao volume de busca habitual. Nós sabemos que esses picos são interessantes porque, normalmente, eles são um reflexo do que está acontecendo no mundo real — houve, de fato, uma alta por requisições para passaportes irlandeses desde o referendo.

Para ter uma ideia do tamanho relativo, nós podemos tecer comparações com outros temas, que ajudam a colocar os resultados em perspectiva. Por exemplo, após o Cleveland Cavaliers ganhar a NBA Championships, vimos o Cavaliers ultrapassar Taylor Swift no interesse de busca, apesar de Swift ser, de maneira consistente, um tópico com alto volume de pesquisas no Google. Isso nos ajuda a colocar em perspectiva o quão grande era o volume de pessoas interessadas no Cavaliers quando o time atingiu seu pico nas buscas.

Nós já vimos muitos repórteres utilizarem esse método. Após o tiroteio de Oregon, o Huffington Post percebeu que o interesse de busca em controle de armas subiu e ficou acima do interesse de busca por compra de armas. Ao olhar para esses dados no ano anterior à tragédia, eles descobriram que esse era um padrão para outros tiroteios recentes nos Estados Unidos.

Examinar buscas relacionadas também pode ajudar a compreender quais condições podem estar na causa dos picos de busca em Google Trends. Durante o especial Pessoa do Ano, a revista Time levantou o interesse de busca para cada um dos candidatos. Para entender o contexto ao redor de cada pico, a Time destacou as buscas relacionadas para cada tópico no momento em que ele atingiu seu ápice, como uma forma de demonstrar o que despertou a curiosidade das pessoas naquele momento específico.

Revista Time

Dados Trends podem oferecer uma lente poderosa naquilo que os usuários estão curiosos a respeito e em como as pessoas ao redor do mundo reagem a acontecimentos importantes. Estamos comprometidos a tornar mais fácil o uso, entendimento e compartilhamento de Trends. Nós estamos empolgados para continuar esse diálogo.

Eu sou o editor de dados do Google News Lab. Para receber as notícias mais recentes do time, siga nossa publicação no Medium aqui.

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Simon Rogers

Data journalist, and Data Editor at Google. Launch editor of Guardian Datablog. Author, Facts are Sacred http://t.co/bL5erqoI7z. All views my own