Israel, invasor ou legítimo?

Sofia Afonso Ferreira
4 min readMar 18, 2023

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A incessante propaganda de que os judeus são os invasores, os colonizadores do território, e que Israel apenas existe a partir de 1948, data da fundação do Estado, é contraditória aos textos sagrados e às provas históricas e arqueológicas

I.

O Estado de Israel tem aproximadamente 22,145 km² e uma população de cerca de 9,5 milhões. Para termos uma noção em termos de comparação no território português, o território do Alentejo tem 27,772 km² e 537,556 habitantes.
A Palestina era uma área acidentada, seca e infértil. Ao longo da história, as pessoas que ali tentaram estabelecer-se sofreram de várias doenças, como a peste negra, tifo, cólera e malária. Por algumas centenas de anos, os Templários e os primeiros pioneiros judeus tentaram estabelecer-se a norte, perto de Nazaré e do Vale do Hula, apenas para desistirem devido às doenças, mosquitos e serem vencidos pela morte.
O território, uma região árida ou semi-árida sem nenhuma riqueza no solo — ouro, petróleo ou pedras preciosas –, sofria de uma escassez de água que só na última década foi resolvida com o processo de dessalinização da água do mar ao contrário de muitos países vizinhos ricos em recursos naturais. A única excepção foi a descoberta de gás natural há duas décadas. Está rodeado por 21 países na maioria países árabes e pelo Irão que é árabe e persa. Sob o domínio dos otomanos (1516–1917), e com o império a perder poder, o lugar era uma região periférica subdesenvolvida, com altas percentagens de analfabetismo e mortalidade infantil que num curto período de tempo chegou a atingir os 100%, sem agricultura ou indústria organizada. Era relativamente acessível comprar terras por um pequeno valor ao governo turco ou a proprietários privados árabes ou cristãos. Como era uma região com pouco valor em termos de recursos naturais, a migração foi permitida mas poucos se aventuraram. De facto, sempre existiram judeus e árabes, para além de cristãos e outras religiões, a viver no território mas a população era diminuta e insuficiente para formar um Estado.
Apesar de não ser um território atrativo em termos de recursos, acabou por firmar a sua importância no mundo ao tornar-se o local de origem de duas religiões monoteístas — Judaísmo e Cristianismo — e o terceiro lugar mais sagrado no Islamismo actualmente. De acordo com os textos bíblicos e vários estudos históricos, foi cerca de 1250 AC que surgiram os Hebreus e o território foi dividido pelas doze tribos judias iniciando no território a fundação de uma nação hebraica. Entre 1020 AC e 928 DC, o território tornou-se um reino judeu soberano, referido nas Escrituras como a Monarquia Unida de Israel e Judá. O reino abrangia a região montanhosa de Judá e de Efraim, cuja capital era Gibeá. Na era do rei Salomão, filho do rei David, é construído o Primeiro Templo em Jerusalém entre 930 AC a 970 AC. Mais tarde, o reino dividiu-se em dois — o Reino de Israel a norte e o Reino de Judá a sul.
Apesar de muitos historiadores contestarem que nem tudo é fiável na história do reino narrada nos livros sagrados, as descobertas arqueológicas confirmam que efectivamente o povo judeu habitava no território neste período, inclusive do Primeiro Templo. De facto, um dos livros sagrados que também corrobora esta versão de acontecimentos é o… Alcorão! É verdade e em várias passagens.
O primeiro reino judeu chegou ao fim quando foi conquistado pelo império Assírio cerca de 722 DC. O Reino de Judá sobreviveu mais 136 anos até ser conquistado pelo rei Nebuchadnezzar da Babilónia que destruiu o Primeiro Templo em Jerusalém e obrigou ao êxodo dos judeus para os territórios vizinhos. Este foi o primeiro de dois êxodos e diásporas judias.
A incessante propaganda de que os judeus são os invasores, os colonizadores do território, e que Israel apenas existe a partir de 1948, data da fundação do Estado, é contraditória aos textos sagrados e às provas históricas e arqueológicas.
Pelo contrário, a ideia de um território enquanto Palestina não encontra suporte nem nos textos sagrados ou historicamente. O território teve muitos ocupantes ao longo dos séculos, antes do estabelecimento do estado moderno de Israel, dos judeus passou para os persas, os gregos, a Casa dos Hasmoneus, os romanos, os bizantinos, os muçulmanos, os cruzados, os mamelucos, os otomanos e os britânicos, mas nunca foi um estado soberano chamado Palestina nem em qualquer outro lugar do Médio Oriente. O único estado soberano e os únicos povos indígenas naquela terra em particular que realmente governaram foram os judeus. Este ponto é particularmente importante esclarecer devido à insistente propaganda de que os judeus têm de entregar a terra que usurparam.

Texto seguinte:
Israel — Estado nazi?

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Sofia Afonso Ferreira

Portuguese living in Stockholm. Literature, politics, economy and Middle East.