A Negligência de Tomás de Aquino à Imaculada Conceição — Uma Defesa do Postulado
Por O Feitosa — Pedro Victor Feitosa da Silva
Introdução
✝️🛡️Neste Artigo de Defesa de uma visão do Protestantismo, abordaremos os seguintes temas:
- Será que Tomás de Aquino defendeu a Imaculada Conceição de Maria?
- Quais as evidências escritas que temos para afirmar tal coisa?
- Existe discussão acadêmica sobre o tema?
- A Defesa Romana para a Imaculada Conceição de Maria está correta?
Compreenda tudo neste Artigo de Apologética Protestante!
A Imaculada Conceição
A Imaculada Conceição ou Concepção da Virgem Maria (chamemo-na assim) é um Dogma da Igreja Católica Apostólica Romana, oficializado em 8 de Dezembro de 1854 pela Constituição Apostólica Ineffabilis Deus. O termo Dogma nos traz significado de Doutrina a qual todos os membros desta Igreja devem aceitar, e isto não necessariamente é algo ruim.
Em suma, os Romanistas sustentam que algo puro deve vir de algo puro (Jó 14:4), e que, por necessidade, Maria deveria ter sido santificada em sua conceição, para que assim, estando fora do Pecado Original, pudesse conceber à um Jesus tão Santo quanto ela.
Para os romanos, se Maria não fosse santa, mas pecadora, seu pecado contaminaria também a Jesus, e isto não faz o menor sentido lógico. Por ordem de necessidade, é mister que Maria seja Pura e Santa desde a sua concepção por Santa Ana, sua mãe. E para isto, atentam-se à alguns textos bíblicos como Lucas 1:28 e Lucas 1:49.
A questão em si, à respeito do uso destes trechos Bíblicos na formulação de argumentos favoráveis à Imaculada Conceição não será discutida, mas apenas a tradição escolástica quanto ao tema. Uma das justificativas para a oficialização deste Dogma é a sua repetição pela Tradição da Igreja, e para isto, os Teólogos Católicos voltam-se à história da Igreja, analisando se, em seu passado, a Igreja defendeu algum Dogma e, se até hoje, ele é defendido.
Com base nisso, acreditam que o Dogma da Imaculada Conceição já era defendido pelos Pais da Igreja e também por Tomás de Aquino, o pai do Escolasticismo Medieval e que originou o Tomismo. Isto é o que justificaria sua oficialização como Dogma da Igreja. Porém, Tomás de Aquino nunca defendeu a Imaculada Conceição de Maria, e para dizer que sim, os romanistas geralmente se debruçam em alguns textos do Teólogo e Frade, tentando falsificar uma ideia de favorabilidade de Aquino ao recente Dogma da Igreja Romana.
É isto que irei desmentir.
A Bula Ineffabilis Deus diz:
Posição e privilégios de Maria nos desígnios de Deus -
2. Assim Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pré-ordenou para seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-la alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender.
3. E, certamente, era de todo conveniente que esta Mãe tão venerável brilhasse sempre adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e, imune inteiramente da mancha do pecado original, alcançasse o mais belo triunfo sobre a antiga serpente; porquanto a ela Deus Pai dispusera dar seu Filho Unigênito — gerado do seu seio, igual a si mesmo e amado como a si mesmo — de modo tal que Ele fosse, por natureza, Filho único e comum de Deus Pai e da Virgem; porquanto o próprio Filho estabelecera torná-la sua Mãe de modo substancial; porquanto o Espírito Santo quisera e fizera de modo que dela fosse concebido e nascesse Aquele de quem Ele mesmo procede.
Bula “Ineffabilis Deus” — Dogma da Imaculada Conceição, Pio IX, § 2, 3. Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/documentos/decretos/20060220/. (grifo nosso).
Segundo Cardeal Angelo Sodano:
A verdade sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria insere-se num longo caminho de fé e de afectuosa devoção do Povo de Deus pela Mãe de Jesus. Na realidade, já nos Livros inspirados do Antigo Testamento se manifesta uma figura feminina, destinada a colaborar de uma certa maneira com o futuro Messias. Esta Mulher revelará plenamente o seu rosto nos Livros do Novo Testamento onde, na pessoa histórica de Maria de Nazaré, é possível reconhecer a discípula perfeita do Filho. Nela manifesta-se ao máximo nível a plenitude dos valores anunciados por Jesus. Em escuta contínua do mistério de Deus e do seu plano de salvação, a Igreja jamais cessou de contemplar Maria, buscando nela as manifestações mais significativas de uma experiência autenticamente humana e cristã. Deste modo, a abordagem amorosa dos diversificados aspectos do mistério da Bem-Aventurada Virgem Maria desenvolveu-se cada vez mais, até se tornar um verdadeiro e próprio corpus doutrinal no âmbito da teologia: A mariologia. Toda uma história de veneração e de reflexão precede, por conseguinte, a proclamação dogmática por parte do Papa Pio IX, em 1854, orientando-a na sua formulação e enriquecendo-se ulteriormente por meio dela.
SODANO, Angelo. Exposição sobre a Imaculada Conceição. Secretaria de Estado, § 1, 2 e 3 (grifo nosso) Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/2005/documents/rc_seg-st_20050212_sodano-mostra-immacolata_po.html)
E novamente, a Bula Ineffabilis Deus diz:
Declaramos, pronunciamos e definimos que Deus revelou a doutrina segundo a qual a santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio que lhe foi concedido por Deus Todo-Poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada isenta de toda mancha de pecado original.
PIO IX, Papa, Bula “Ineffabilis Deus”, 8 de dezembro de 18) apud. LUMBRERAS, São Tomás e a Imaculada Conceição.
O que Tomás de Aquino disse?
Tomás de Aquino propôs 9 formas que Deus, logicamente, por este mundo, teria de santificar Maria para que, assim, o seu Fruto fosse também Santo. Com propriedade, O Padre Lumbreras, Ph.D.:
1. Temos uma primeira Imaculada Conceição, ou um primeiro modo pelo qual um indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se mantivermos que Adão não foi constituído cabeça moral ou príncipe daquele indivíduo para a transmissão da graça original ou do pecado original. Deus poderia comunicar a alguma graça santificadora individual absolutamente independente da graça de Adão (Summa. Theol., p. III, q. 1, a. 3).(Summ, Theol., p. I, II, q. 81).
2. Temos uma segunda Imaculada Conceição, ou um segundo modo em que algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se mantivermos que Adão não foi constituído o princípio natural ou fonte desse indivíduo, para a transmissão da natureza humana. Deus poderia formar outro homem do pó, como formou Adão (Summ. Theol., p. III, q. 31, a. 1, arg. 2 e 3).
3. Temos uma terceira Imaculada Conceição, ou um terceiro modo em que algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se considerarmos que Adão, embora constituído tal princípio e fonte para a transmissão da natureza humana, não se move por meio de poder seminal nesta transmissão. Como Deus poderia formar um homem da costela de Adão ou de qualquer um de seus descendentes, Ele poderia reservar uma porção da carne de Adão antes do pecado, e ter essa porção de carne transmitida de geração em geração e formar dessa carne o corpo daquele indivíduo (Summ. Theol., p. I, II, q. 81, a. 4 e 5).
4. Temos uma quarta Imaculada Conceição, ou um quarto modo no qual algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se considerarmos que Adão, embora movendo-se por meio de poder seminal, atinge o indivíduo por meio de descendentes que receberam a graça santificante para si e para seus filhos. Deus deveria conferir Sua graça a qualquer um dos descendentes de Adão na mesma medida em que a conferiu ao próprio Adão (II Sent., d. 31, q. 1, a. 2, ad 5m; In: III Sent., q. 1, a. 1, solução. 1, ad 1m).
5. Temos uma quinta Imaculada Conceição, ou um quinto modo no qual algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se considerarmos que os pais imediatos desse indivíduo, embora descendentes de Adão, não tenham recebido anteriormente a santificação, foram, entretanto, momento da geração ou concepção ativa, cheios e purificados pelo Espírito Santo e libertos, assim, de toda concupiscência. Assim como Deus pode santificar os pais antes do coito, Ele pode santificá-los naquele momento (III Sent., d. 3, q. 1; a. 2 ad 5m; in III Sent., q. 1, a. 1, solut 1, ad 1m).
6. Temos uma sexta Imaculada Conceição, ou um quinto modo no qual algum indivíduo humano poderia ser concebido sem original, se sustentamos que Deus purifica o feto previamente, com uma em prioridade de tempo à animação ou concepção passiva. Deus poderia purificar a carne no ventre da mãe durante as várias semanas que precedem a infusão da alma racional (Summ. Theol., p. III, q. 27, a. 2, arg. 2).
7. Temos uma sétima Imaculada Conceição, ou um sétimo modo no qual algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se sustentarmos que Deus purifica o feto no momento da formação ou concepção passiva, de tal maneira, porém, que com prioridade de natureza esta purificação precede a animação. Primeiro vem o ser,; depois o estar unido (III Sent., d. 3, q. 4, a. 1, ad 5m).
8. Temos uma oitava Imaculada Conceição, ou um oitavo modo em que algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se considerarmos que Deus santifica a alma no momento de sua criação e infusão ou animação, de modo que, com prioridade de natureza, a santificação precede a animação. Esta é a ordem racional: criação, infusão, animação (III Sent., d. 3, p. 1, a. 1, Solut, 2; São Boaventura, ibidem).
9. Temos uma nona Imaculada Conceição, ou um nono modo em que algum indivíduo humano poderia ser concebido sem pecado original, se sustentarmos que Deus santifica a alma no momento de sua criação e infusão ou animação, de tal maneira, porém, que com prioridade de natureza, a animação precede a santificação. Concebemos então a união da alma e do corpo como anterior à santificação da alma.
LUMBRERAS, São Tomás e a Imaculada Conceição (Disponível em: https://medium.com/@danielcatolico716/são-tomás-e-a-imaculada-conceição-por-pe-lumbreras-o-p-s-t-lr-phd-3feb6b65cd34 e em Daniel Arthur)
Segundo o Padre Lumbreras, Tomás de Aquino rejeitou todas as 8 possíveis Santificações, mas não discute como a 9ª seria verdadeira, simplesmente por não saber. Eu digo que Tomás de Aquino encontrou suas ressalvas, tal como as festas da Virgem Maria ainda não eram nem celebradas. Mais que isso, o Papa Gregório XV teria dito: “o Espírito Santo, embora instado pelas fervorosas orações dos fiéis, ainda não revelou à Igreja o segredo de tal mistério” (4 de julho de 1622).” (LUMBRERAS, 2023).
Tudo era questão de tempo, até ter sido revelado ao Papa Pio IX o Dogma da Imaculada Conceição, que em suas reverberações teóricas e teólogicas, tornaria a responder as dúvidas dos Escolásticos e dos estudiosos anteriores de 1800.
Mas Aquino defendeu este Dogma na Suma Teológica?
Não, não defendeu. O professor, frade e teólogo, na Suma Teológica, não defendeu que Maria foi concebida sem pecados.
Então qual é a discussão?
Supostamente, discute-se que, pouco antes da sua morte, São Tomás teria escrito alguns textos que assumem a Imaculada Conceição de Maria. Isto é utilizado por Romanistas como método para descredibilizar os Protestantes que abandonaram esta crença de Imaculada Conceição, à partir de Aquino — A frase mais utilizada é esta, que encontra-se em latim:
“Ipsa enim purissima fuit et quantum ad culpam, quia ipsa virgo nec originale, nec mortale nec veniale peccatum incurrit”, isto é, “Ela é, pois, puríssima também quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial”.
Segundo a Fraternidade Newman, citando Lagrange:
Note que, sobre estes escritos de Tomás de Aquino, há extenso debate acadêmico especialmente dos protestantes com os católicos.
1. Dado:
Os Pais Apostólicos nunca defenderam tal doutrina. Os Pais Apostólicos foram discípulos diretos dos Apóstolos, tendo sido altamente influenciados pela Doutrina verdadeira de Cristo, assim como, pela providência do Espírito Santo, também acertaram em muitas coisas.
- Inácio de Antioquia
- Policarpo de Esmirna
- Clemente de Roma
- Papias
Nesta mesma época, alguns escritos com base nos ensinamentos apostólicos foram reunidos, chamados hoje de Didaquê, uma compilação extra-bíblica do Catecismo do Primeiro Século, ou seja, as Doutrinas do Primeiro Século, ensinadas pelos apóstolos in loco.
Em nenhum destes textos, é possível encontrar alguma defesa à Imaculada Conceição, e raramente são encontradas citações à Virgem Maria.
“[…] o nome de Maria raramente aparece nos escritos dos Pais apostólicos.”
GAMBERO, Luigi. Mary and the Fathers of the Church: The Blessed Virgin Mary in Patristic Thought, [Ignatius Press, 1999], p. 27 apud. BANZOLI, Lucas, A Igreja primitiva não cria na imaculada conceição de Maria (Disponível em: https://heresiascatolicas.blogspot.com/2015/05/a-igreja-primitiva-nao-cria-na.html) § 5)
2. Dado:
Os Pais da Igreja posteriores aos Pais Apostólicos também não defendem a Imaculada Conceição, mas sim, outras ideias (que ainda eram campo de debate). Com propriedade, Lucas Banzoli:
Havia três principais pontos de vista sobre a condição de Maria no período patrístico após os pais apostólicos: (1) Maria pecou às vezes. Esta visão anula uma concepção imaculada; (2) Maria foi purificada do pecado em torno da época do nascimento de Cristo, o que também não é uma concepção imaculada. Uma pequena variação dessa visão é que ela foi parcialmente santificada no útero e, em seguida, completamente santificada no momento do nascimento de Cristo; (3) Maria foi totalmente santificada em algum momento enquanto estava no ventre de sua mãe, embora não na primeira instância da concepção. Isso ainda não é uma concepção imaculada. Estes pontos de vista na igreja primitiva são todos contrários à alegação romana de que Maria foi preservada de toda mancha do pecado original no primeiro momento da concepção.
BANZOLI, Lucas, A Igreja primitiva não cria na imaculada conceição de Maria (Disponível em: https://heresiascatolicas.blogspot.com/2015/05/a-igreja-primitiva-nao-cria-na.html) § 14
Ver mais em: Os Pais da Igreja contra a imaculada conceição de Maria (Disponível em: https://heresiascatolicas.blogspot.com/2012/08/os-pais-da-igreja-contra-imaculada.html)
3. Dado:
Há inúmeras evidências de interpolação textual, podendo ter sido adicionada por copistas posteriores. Segundo algumas fontes, como a da Fraternidade Newman, dos 19 manuscritos, 16 constam esta variante textual. Ora, uma grande parte dos historiadores considera que o termo “Nec Originale” é uma variante textual, o que sugere que a maior quantidade de manuscritos não possui esta interpolação, ao contrário do que os historiadores citados pela Fraternidade Newman (como os historiadores do Comentário da Ave Maria para a versão S. Thomae Aquinatis Expositio salutationis angelicae, Introductio et textus e o famoso historiador Róssio) estão dizendo, sobre os manuscritos.
Richard Gibbings é um grande historiador e apologista protestante. Em seu livro acadêmico Forjarias Romanas E Falsificações Ou Um Exame de Adulterações E Recordações Corrompidas: Com Referências Especiais Ao Papado (1849), aborda este tema, da seguinte forma:
A fonte imediata desta interpolação foi provavelmente o Ofício da Imaculada Conceição, elaborado por Leonard Nogaroles, Protonotário Apostólico; [Conf. Waddingi Legado. de conceito. Virg Mariae, Seção iii. págs. 328–33. Lovan. 1624.] pois vejo as palavras em questão ali, no fol. ccccxxx., do Breviarium Romanum, Lugd. 1508. Outro Ofício do mesmo tipo, composto por Bernardinus de Busti, e autorizado por uma Lei do Papa Sisto IV., sig. I. Médio. 1492, contém dois extratos professos de Tomás de Aquino. A primeira delas é: “Maria purissima fuit quantum ad omnem culpam; quia nec originale, nec mortale, nec veniale peccatum incurrit”. Essa linguagem era tão forte que despertou minhas suspeitas; e ao me referir à Expositio super salutatione Angelica, descobri que as expressões do escritor eram estas: “Ipsa. n. purissima fuit & quantum ad culpam, quia ipsa Virgo nec mortale, nec veniale peccatum incurrit:” (Opp. Tom, xvii. fol, 76. Venet 1593.) onde percebemos a ausência das palavras mais importantes “omnem” e “nec originale”. Conf. Opção Raynaudi. Tom. viii. pág. 292. Lugd. 1665. — Salmeron cita a passagem corrompida; (Em Rom. Disp. ii, Commentar. Tom, xiii. p. 475. Colon. Agripp. 1604.) mas o Doutor Angelical dificilmente poderia neste lugar ensinar a concepção imaculada, quando ele havia dito anteriormente: (fol. 75) “Christus excellit Beatam Virginem in hoc, quod sine originale conceptus & natus est, beata autem Virgo IN ORIGINALI EST CONCEPTA, sed non nata.”
GIBBINGS, Richard. Roman Forgeries And Falsifications Or An Examination Of Counterfeit And Corrupted Records: With Especial Reference To Popery (1849), p. 46, § 2.
Ou seja, o Historiador encontra, na sua análise, uma evidência clara de adulteração dos textos. Em primeiro lugar, os dois extratos supostamente professos por Tomás de Aquino na obra de Bernardinus de Busti são evidentemente errôneas, visto que não são encontradas em outros textos. Podem ter sofrido interpolação de copistas posteriores, pois a ideia de uma Imaculada Conceição já era debate desde esta época, e só não era Dogmatizada ainda. Como Richard Gibbings diz, é muito difícil para o Doutor Angelical (Tomás de Aquino) defender uma concepção imaculada, visto que havia dito anteriormente (traduzindo do Latim):
Cristo excedeu a Virgem Santíssima no fato de que ele foi concebido e nascido sem pecado original. Mas a Santíssima Virgem foi concebida em pecado original, mas não nasceu nele.
GIBBINGS, Richard. Roman Forgeries And Falsifications Or An Examination Of Counterfeit And Corrupted Records: With Especial Reference To Popery (1849), p. 46, § 2. (apud Opp. Tom, xvii. fol. 75. Venet 1593).
OBS:
Atenção para não confundir Conceição com Nascimento. Conceição/Concepção é o ato de engravidar, enquanto Nascer é o ato de Dar à Luz ou realizar processo de parto.
Poucas linhas antes do texto onde é alegado que Tomás defendeu a imaculada conceição, ele a negou. Deixe-me explicitar duas premissas:
(1) Há um trecho da obra em que Tomás afirma que Maria foi concebida em pecado original;
(2) Há outro trecho, em que ele defende a liberdade de Maria do pecado original, sobre o qual há sérias dúvidas de autenticidade mesmo entre os autores católicos.A explicação mais plausível é que a ideia da liberdade do pecado original não faz parte da obra original. Nós poderíamos também alegar que Tomás era esquizofrênico a ponto de se contradizer num espaço de poucas linhas, mas acredito que essa é uma hipótese não muito provável. Parece que essa versão foi traduzida para o inglês aqui. É possível que se trate de uma versão diferente e então teríamos outra edição crítica corroborando a nossa posição, contudo, o texto me pareceu muito similar, o que faz pensar que se trate da mesma edição. A tradução para o inglês deixa clara a posição de Tomás:
Cristo excedeu a Santíssima Virgem no fato de que Ele foi concebido e nascido sem o pecado original, enquanto a Santíssima Virgem foi concebida em pecado original, mas não nasceu nele. [Como na Suma, mas de outra forma em I Sent., C. 44, q. 1, ad. 3]
Respostas Cristãs, Tomás de Aquino e a Imaculada Conceição Novamente. § 7]
A Validade do Argumento de Lagrange e Rossi sobre os Manuscritos
É costume ver alguns romanistas utilizando do argumento da quantidade dos manuscritos. Segundo algumas citações, como a do historiador Lagrange (pela Fraternidade Newman acima), a expressão Nec Originale estaria em 16 dos 19 manuscritos analisados.
Note que a citação é do estudo conduzido pelo Historiador Católico Rossi e editada num Comentário da Ave Maria. O mais cômico é saber que não há, sequer, uma quantificação real dos manuscritos. De 19 manuscritos analisados, 16 contêm a expressão — Contudo, esqueceram de dizer quantos manuscritos ao todo, temos disponíveis em digitalizações e escritos por copistas. E se houverem 30? 40? 50? 100? E se na maioria deles, não houverem a expressão Nec Originale?
Mais que isso. ‘Inda mais importante que a quantidade dos manuscritos, é a sua qualidade. Os comentadores não detalham sobre a qualidade dos manuscritos, nem encontramos resultados favoráveis em pesquisas por servidores brasileiros — Provavelmente haverá mais conteúdo lá fora.
Analise o seguinte: Lagrange nunca bateu o malhete e disse “Caso encerrado” para esta questão. Em realidade, Lagrange nunca disse se houve interpolação textual ou não, nem se a expressão Nec Originale está lá ou não. O único que o fez foi Rossi, e o comentário da edição Ave Maria é uma citação da própria Fraternidade Newman.
Portanto, é ainda mais suspeito utilizá-los como fonte, visto que Lagrange não deu razão nem mesmo aos católicos, e há diversos indícios de interpolação textual, sendo o maior deles, esta inconsistência de Tomás de Aquino, ao dizer em uma página: “Cristo excedeu a Virgem Santíssima no fato de que ele foi concebido e nascido sem pecado original. Mas a Santíssima Virgem foi concebida em pecado original, mas não nasceu nele.” e, logo depois, dizer outra coisa em outra página: “Ela é, pois, puríssima também quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial.”.
Para alguém do porte intelectual, filosófico e com as técnicas de escrita e gramática do nível de Aquino, é muito difícil acreditar que duas passagens, falando sobre um mesmo assunto, e quase com o mesmo padrão linguístico (indicando uma escrita de duas páginas em curto período de tempo) se contradizem desta forma. Extremamente difícil. Infelizmente, as evidências apontam mais para o lado de uma interpolação textual do que uma ‘não-interpolação’.
A Crítica Textual
Reforçando a ideia de que Tomás de Aquino não defendeu a Imaculada Conceição na Suma Teológica, os textos da Expositio super salutatione Angelica são, geralmente, comprovados como falsos. A crítica textual aponta claramente uma interpolação do texto, e além disso, a maior parte dos Tomistas desconheciam este argumento de “Aquino ter defendido, no fim de sua vida, a Imaculada Conceição de Maria”.
O Cardeal Caetano, famoso e considerado “príncipe dos Tomistas” por seus comentários extensivos à Suma Teológica, não acreditava que Tomás de Aquino mudou de opinião ao longo do tempo, ou no fim de sua vida. Na verdade, as evidências mostram o contrário: Se até mesmo os primeiros estudiosos do Tomismo descredibilizavam este argumento, o que nós, hoje, poderíamos fazer para tentar credibilizá-lo?
Não apenas o Cardeal Caetano. Segundo Juniper Carol, um dos maiores teólogos referenciados sobre Mariologia do século XX (também utilizado como Fonte Acadêmica por apologistas católicos), diz o seguinte:
São Tomás de Aquino (1225–1274) tratou a questão da Imaculada Conceição apenas incidentalmente, como cognato à sua consideração da impecabilidade de Cristo. Ele seguiu o ensino de St. Bernardo, e assim possivelmente se pode considerar que sua relutância em admitir a imunidade de Maria do pecado desde o primeiro momento da sua concepção foi devido ao fracasso dos escolásticos em desenvolver uma noção precisa do momento da concepção e animação. Alguns expoentes de St. Tomás têm se esforçado para estabelecer que o Doutor Angélico virtualmente ensinou a Imaculada Conceição, e certamente eles têm sustentando que a “concepção” tinha sido tratada de forma completamente por ele. Mas a maioria dos estudantes de St. Tomás estão bastante preparados para admitir que o Doutor Angélico simplesmente negou a liberdade de Maria do pecado original.
Cf. G. M. Roschini, O.S.M., La Mariologia di S. Tommaso (Roma, 1950), pp. 236–237. É extremamente difícil conciliar o parecer do St. Tomás em n S. Th., III, q. 27, a. 2 ad 2um, com a imunidade de Maria do pecado original: “… si nunquam anima B. Virginis fuisset contagio originalis peccati inquinata, hoc derogaret dignitati Christi, secundum quam est universalis omnium Salvator.” Cf. Dominicus Palmieri, S. J., op. cit., p. 291; Armandus Plessis, S.M.M., Manuale Mariologiae Dogmaticae (Pont-Chateau, 1942), p. 60; Emile Campana, Marie dans le Dogme Catholique (Montrejeau, 1913), Vol. 2, p. 200.
Fonte: https://www.motherofallpeoples.com/immaculate-conception
Faço as palavras do ‘Respostas Cristãs’ as minhas:
“Só nessa nota, Carol cita quatro tomistas: G. M. Roschini, Dominicus Palmieri, Armandus Plessis e Emile Campana.”
Ver mais em: https://respostascristas.blogspot.com/2016/06/tomas-de-aquino-e-imaculada-conceicao.html
A versão revisada da Fundação Tomás de Aquino
A Fundação Tomás de Aquino, publicando textos revisados por críticos textuais da Expositio Salutationis Angelicae de São Tomás de Aquino, adicionou este trecho tão discutido, especialmente concentrando-se no “Nec Originale”. Lendo o texto, logo se percebe que a versão revisada pela Fundação Tomás de Aquino (2019), publicando coleções dos trabalhos de Aquino (publicados em Taurina em 1954) simplesmente não possui o termo Nec Originale, se referindo ao Pecado Original:
Merito ergo Angelus reveretur beatam virginem, quia mater domini, et ideo domina est. Unde convenit ei hoc nomen Maria, quod Syra lingua interpretatur domina. Tertio excedit Angelos quantum ad puritatem: quia beata virgo non solum erat pura in se, sed etiam procuravit puritatem aliis. Ipsa enim purissima fuit et quantum ad culpam, quia ipsa virgo nec mortale nec veniale peccatum incurrit. Item quantum ad poenam. Tres enim maledictiones datae sunt hominibus propter peccatum.
Sancti Thomae de Aquino, CORPUS THOMISTICUM, Expositio Salutationis angelicae, 2019 Fundación Tomás de Aquino quoad hanc editionem. Art. 1 (Disponível em: https://www.corpusthomisticum.org/cst.html)
Sim, está e uma versão revisada (pela crítica textual) dos escritos de Aquino que não possui o Nec Originale.
Sobre o Corpus Thomisticum:
The Corpus Thomisticum project aims to provide scholars with a set of instruments of research on Thomas Aquinas, freely available via Internet. It has five parts:
1. A full edition of the complete works of St. Thomas according, where possible, to the best critical texts.2. A bibliography covering all the studies on Aquinas and his doctrine, from the 13th century through our days.
3. An index of the main tools of Thomistic research, and the edition of the most important among them.
4. A database management system, implemented to search, compare, and sort words, phrases, quotations, similitudes, correlations, and statistical information.
5. A digital edition of the main manuscripts of Aquinas’ works.
We choose Latin as the main language of the Corpus Thomisticum, for every student of Thomas can read his original texts, which are in Latin indeed.
Ver também em: https://mdr-maa.org/resource/corpus-thomisticum/
O fato de Richard Gibbings analisar, em outros escritos, que esta variante textual não existe; somado ao fato da Crítica Textual recusar este texto, até mesmo órgãos grandes como a própria Fundação Tomás de Aquino da Universidade de Navarra; ainda adicionado aos Tomistas primitivos que nunca mencionaram tal passagem, e os que mencionaram, não a reconheciam legítima, é suficiente para evidenciar que todos os indícios apontam à uma interpolação textual posterior a morte de São Tomás de Aquino.
Quem dirá, ainda, que Aquino, em seu leito de morte, já envelhecido, teria renunciado ou alterado uma posição tão secundária assim sobre Maria, por algum motivo desconhecido.
A interpolação se deu, mas por motivos ocultos. Estimo que um copista poderia ter cometido um erro de cópia, já que a expressão segue com a mesma utilização gramática de preposição e advérbio de negação, usando sempre o “Nec” para se referir à algum tipo de pecado, podendo indicar uma pequena confusão, equívoco ou sonolência — Na hora de escrever os “Necs”, acabou incluindo “Originale” por confusão, memória muscular ou algum outro motivo miraculoso.
Ou ainda, reforçar uma narrativa que necessitasse de confirmação do grande Tomás de Aquino. Lembremo-nos que o abençoado John Duns Scotus, pioneiro da Imaculada Conceição, nasceu anteriormente aos escritos, além de ter vencido um debate na sua Universidade Monástica em defesa da Imaculada Conceição. Isto claramente significa que havia, sim, chance de interpolação textual para alcançar um objetivo de construção de narrativa, já que a ideia de uma Imaculada Conceição já existia — Como embrião, mas existia.
Os indícios permanecem. A causa desconhecida, mas os indícios permanecem.
Outras Observações:
- FRANCIS J. BECKWITH citado pelo Respostas Cristãs, parece confirmar que Tomás de Aquino negou a Imaculada Conceição: https://www.patheos.com/blogs/returntorome/2011/12/the-immaculate-conception-st-thomas-aquinas-and-the-catholic-church/
- JIMMY AKIN citado pelo Respostas Cristãs também confirma a discussão teológica sobre Tomás ter negado ou não a Imaculada Conceição: https://jimmyakin.com/the-catechism-of-st-thomas-aquinas-the-hail-mary
- Fr. William G. Most é uma excelente fonte bibliográfica, que confirma o posicionamento de ambos;
Em 1839, um professor de teologia do Colégio São Tomás de Aquino chamado Mariano Spada publicou a obra “Esame Critico sulla dottrina dell’ Angelico Dottore S. Tommaso di Aquino circa il Peccato originale, relativamente alla Beatissima Vergine Maria”. O título traduzido seria “Um exame crítico da doutrina de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, sobre o pecado original em relação à Santíssima Virgem Maria”. […]. O mais importante é o objetivo da obra. Spada intentava trazer uma interpretação de Tomás que aliviasse o constrangimento de Pio IX ao declarar um dogma negado pelo teólogo. Contudo, se Tomás tivesse morrido acreditando nessa doutrina, não haveria constrangimento algum. Mas, o mais importante é que em nenhum momento Spada lança mão do argumento de que Tomás morreu acreditando na doutrina. Se havia um momento onde a suposta mudança deveria ficar evidente, seria aqui.
Fonte: Respostas Cristãs — Imaculada Conceição (grifo nosso).
- Citações parcialmente ou totalmente contrárias ao Dogma da Imaculada Conceição, dentro da Igreja Romana -
Papa Zósimo:
“Fiel é o Senhor nas suas palavras [Sl 145,13], e o seu batismo contém, na realidade e nas palavras, isto é, na ação, na profissão de fé e na verdadeira remissão dos pecados a mesma plenitude para cada sexo, idade e condição do gênero humano. De fato, ninguém pode ficar livre senão quem é escravo do pecado, nem pode ser chamado redimido senão aquele que, verdadeiramente, pelo pecado, antes era prisioneiro, como está escrito: ‘Se o Filho vos tiver libertado, sereis verdadeiramente livres’ [Jo 8,36]. Por ele, de fato, renascemos espiritualmente, por ele somos crucificados para o mundo. Por sua morte é destruído o título de dívida da morte’ [cf. Cl 2,14] introduzida por Adão para nós todos e transmitida a cada vivente — ‘título de dívida’ contraído com a procriação e do qual absolutamente nenhum dos nascidos está livre antes de ser livrado pelo batismo.”
(Papa Zósimo, Epístola tractória, enviada a todo o oriente no ano de 418); (Cf. Denzinger*, 231) DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. (Disponível em: https://apostoladonovosmares.files.wordpress.com/2016/05/compc3aandio-dos-sc3admbolos-definic3a7c3b5es-e-declarac3a7c3b5es-de-fc3a9-e-moral.pdf)
Papa Leão I:
“Da mãe do Senhor foi assumida a natureza, não a culpa.”
PAPA LEÃO I. Lectis Dilectionis Tuae (Disponível em: https://apostoladonovosmares.files.wordpress.com/2016/05/compc3aandio-dos-sc3admbolos-definic3a7c3b5es-e-declarac3a7c3b5es-de-fc3a9-e-moral.pdf)
Catecismo da Igreja Católica:
“402. Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo o afirma: ‘Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores’ (Rm 5,9). ‘Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram…’ (Rm 5, 12). À universalidade do pecado e da morte, o Apóstolo opõe a universalidade da salvação em Cristo: ‘Assim como, pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só [Cristo], virá para todos a justificação que dá a vida’ (Rm 5, 18).” “403. Depois de São Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens, e a sua inclinação para o mal e para a morte não se compreendem sem a ligação com o pecado de Adão e o fato de ele nos ter transmitido um pecado de que todos nascemos infectados e que é ‘morte da alma’. A partir desta certeza de fé, a Igreja confere o Batismo para a remissão dos pecados, mesmo às crianças que não cometeram qualquer pecado pessoal.”
“404. Como é que o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? Todo o gênero humano é, em Adão, ‘sicut unum corpus unius hominis — como um só corpo dum único homem’. Em virtude desta ‘unidade do gênero humano’, todos os homens estão implicados no pecado de Adão, do mesmo modo que todos estão implicados na justificação de Cristo. Todavia, a transmissão do pecado original é um mistério que nós não podemos compreender plenamente. Mas sabemos, pela Revelação, que Adão tinha recebido a santidade e a justiça originais, não só para si, mas para toda a natureza humana; consentindo na tentação, Adão e Eva cometeram um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana que eles vão transmitir num estado decaído. É um pecado que vai ser transmitido a toda a humanidade por propagação, quer dizer, pela transmissão duma natureza humana privada da santidade e justiça originais. E é por isso que o pecado original se chama ‘pecado’ por analogia: é um pecado ‘contraído’ e não ‘cometido’; um estado, não um ato.”
(Catecismo da Igreja Católica, 402, 403 e 404)
Repositório Apologético Protestante, Imaculada Conceição de Maria. (Disponível em: https://repositorioapologetico.blogspot.com/p/imaculada-conceicao.html)
“Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que, por revelação sua, manifestassem uma nova doutrina, mas para que, com sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos, ou seja, o depósito da fé. E, decerto, esta doutrina apostólica, todos os veneráveis Padres abraçaram-na e os santos ortodoxos Doutores a veneraram e seguiram, plenissimamente conscientes de que esta Sé de são Pedro sempre permaneceu intacta de todo erro, segundo a divina promessa de nosso Senhor <e> Salvador feita ao chefe dos seus discípulos: “Eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos” [Lc 22,32].”
(Concílio Vaticano I), (Cf. Denzinger, 3070) (Disponível em: https://apostoladonovosmares.files.wordpress.com/2016/05/compc3aandio-dos-sc3admbolos-definic3a7c3b5es-e-declarac3a7c3b5es-de-fc3a9-e-moral.pdf)
A doutrina da imaculada conceição de Maria é uma doutrina nova. Não está presente na Bíblia nem na Tradição, tanto que não é aceito pela Igreja Ortodoxa, que também tem sucessão apostólica e compartilha da mesma Tradição que a Igreja Católica, nem é aceita pelos veterocatólicos, e até mesmo Santo Tomás de Aquino a rejeitava, o que prova que pelo menos até meados do ano 1200 não era uma doutrina aceita pela Igreja. Se Maria foi concebida sem o pecado original, ela nunca precisou de salvador, pois é o pecado que nos destitui da graça de Deus. A desculpa esfarrapada usada pelos católicos de que há duas maneiras de salvar alguém de um buraco: tirando-o de lá ou evitando que ele caia para fundamentar essa doutrina não é válida porque o pecado original não é um pecado cometido (por uma ação ou omissão), mas um pecado contraído (herdado dos pais).
Repositório Apologético Protestante, Imaculada Conceição de Maria.
Um católico poderia argumentar, dizendo: “É justamente pela santificação que Maria precisou de salvador, pois, se Deus a santificou para ser concebida sem o pecado original, é nítido que esta foi a Salvação dela” — E assim, você reduz a Obra Salvífica de Cristo na Cruz por nós, desde que Jesus não morreu por todos — Pois Maria, não sendo contaminada pelo Pecado Original, não cometeu pecados e foi completamente Santa, e isto reduz o sacrifício de Cristo, que não teria morrido por Maria. Ou seja, ela foge do espaço amostral e isto vai diretamente contra os versículos escriturísticos de João 3:16–17, João 1:29 e 1 João 2:2 que ressaltam o Sacrifício de Jesus na Cruz pelo valor expressivo de “todos” e “mundo”, ou seja, que Cristo morreu por absolutamente todos.
OBS:
Sabemos que os Calvinistas não crêem assim (pois crêem na Expiação Limitada, mas isto é um debate posterior.
Ora, se Cristo morreu por absolutamente todos, então morreu por Maria, o que indica sua necessidade de salvação oriunda de seus pecados. Não é desrespeito afirmar que Maria foi concebida em Pecado Original, pois é um dado objetivo.
Todos somos pecadores e não há evidências suficientes para dizer que Maria escapa.
(Jr 17:9; Rm 3:10 e 23; Rm 6:6; Rm 8:7–8 e 23; Ecl 7:20; Cl 3:5; Isaías 53:6; Sl 51:5; Sl 58:3)
Se isto não é refutação suficiente, não sei mais o que é.
Bibliografia Adicional:
- https://www.veritasetsapientia.org/post/santo-tomás-e-a-imaculada-conceição
- https://www.resistenciaapologetica.com/2015/12/a-mariologia-de-lutero.html
- https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf
- STORFF, Hugolinus. O. F. M. The Immaculate Conception, San Francisco, California, 1925.
- PRESTON, Patrick. Studies in Church History , Volume 39: The Church and Mary, 2004 , pp. 181–190. Cardinal Cajetan and Fra. Ambrosius Catharinus in the Controversy over the Immaculate Conception of the Virgin in Italy, 1515–51. Cambridge University.
Divulgação:
Não se esqueça de visitar nossas redes sociais pelo link à seguir:
🔗🌐(Instagram!) — (Discord!)
Também visite o Redator do Texto: (O Feitosa)
Quero aqui agradecer ao leitor por ter acompanhado o Artigo até aqui! Deus te abençoe! Grato.
Graça e Paz,
Pedro Victor Feitosa da Silva.