Nesse texto falando de Métodos Ágeis vou tentar esclarecer a confusão entre os termos agilidade e velocidade.
Pois, devido a essa confusão existe uma expectativa em que ao começar uma transformação ágil isso trará uma maior velocidade na entrega, e em alguns casos isso não acontece gerando uma grande frustração. Com esse texto quero mostrar uma outra visão sobre o ágil e o desvincular da ideia de velocidade.
A primeira coisa que fiz para isso foi ir ao dicionário, e adivinha?! Após ler ainda fica muito confuso, pois nas definições de agilidade também se fala de velocidade.
Então, para melhor entenderem essa diferença vou fazer uma das analogias que, para mim, foi a melhor até agora que escutei e me ajudou a entender essa diferença.
Para isso vamos comparar um trem e um leopardo, e após analisar a imagem(2) abaixo responda as seguinte questões:
Quem é mais veloz, o mais rápido?
A resposta certa é: o trem, que tem uma velocidade máxima maior (201,2km versus o leopardo que atinge 58km/h).
E qual é o mais ágil?
A pergunta parece igual, mas não é. Neste caso, o leopardo vence porque consegue mudar de direção de uma maneira muito mais fácil e rápida do que o trem. Para exemplificar, imagine que durante uma corrida entre os dois uma árvore caia na frente deles, a reação do trem seria parar e seu único movimento possível seria voltar para trás ou esperar a árvore ser removida para que ele consiga continuar o seu trajeto, enquanto o leopardo consegue facilmente contornar o obstáculo e continuar a sua trajetória.
Agilidade dos Métodos ágeis está mais para adaptação a mudanças do que para velocidade de entregas.
Usei o termo “está mais para”, pelo fato que velocidade continua a ser um fator importante, maior adaptabilidade gera maior rapidez, ainda mais em um mundo que está em constante mudança. Empresas que não conseguem se adaptar rápido estão parando no tempo e muitas vezes tendo que dar passos atrás.
Com esse exemplo vemos que ao começar a trabalhar com ágil, muitas vezes o foco não será em aumentar a velocidade e sim criar mecanismos que irão ajudar a empresa a mudar de direção de uma maneira mais rápida.
E como conseguir se adaptar rápido e ser mais ágil?
Há um tempo atrás me deparei com essa imagem(3) abaixo que mostra um cenário que na minha visão muitas vezes é comum nas empresas, onde cada papel tem um entendimento diferente do que é Agilidade.
Na imagem(3) na visão do CEO a agilidade está focada em velocidade para conseguir entregar mais rápido. E essa redução de tempo não tem em consideração o cortar escopo de trabalho, é simplesmente manter o escopo e conseguir entregar mais rápido.
Já na visão do CFO é conseguir cortar o custo, ter os mesmos projetos só que mais baratos.
Já a do CTO é a melhor visão que se enquadra no ágil, pois ao conseguir transformar um projeto complexo que levaria muito tempo para ser entregue e teria um alto custo, em projetos menores que normalmente chamamos de pequenos entregáveis, ele garante maior velocidade de entrega, assim gerando valor ao produto, que dependendo do tipo de entrega já gera faturação para a empresa diminuindo o custo do projeto ao longo do tempo.
Sem falar que esse tipo de abordagem diminui o risco de chegar na entrega final e não ser o que o cliente quer, pois essa validação com o cliente é feita constantemente que possibilita mudar de direção mais facilmente se necessário.
Case Real
Após entrar em uma empresa fui entender quais projetos estavam rodando naquele momento, então descobri que eles estavam construindo um novo app android, pois o app antigo tinha várias dívidas técnicas e já estava ficando difícil dar manutenção e evolui-lo, e aproveitaram essa nova versão para mudar a linguagem de Java para Kotlin.
Com essas informações fui entender mais a fundo qual era o verdadeiro tamanho desse projeto e sua complexidade. Conversando com alguns especialistas de dentro e fora da empresa, vi que seria um projeto para mais de 1 ano. E um projeto desse tamanho quando se fala de software, principalmente de um app onde o valor será entregue só no final, realmente não tem nada de ágil e é um grande risco para o negócio, pois existe uma grande probabilidade de no fim do projeto o app não atender a expectativa do cliente e nem da empresa.
Nesse momento coloquei um desafio para os desenvolvedores que era fazer o app atual que rodava em java permitir módulos em Kotlin. Quando validamos que isso era possível conseguimos estruturar o projeto em módulos menores e em pouco tempo conseguimos ter um novo módulo em produção gerando valor para o cliente.
E ao obter feedbacks constantemente isso nos gerava novas ideias mais voltadas ao comportamento cliente conforme cada módulo era adicionado a app.
No fim conseguimos melhorar a satisfação do cliente, pois a nota na play store começou a subir, o faturamento também aumentou com features que foram lançadas antes de datas importantes como black friday. E tudo isso foi possível por começarmos a usar uma abordagem mais ágil.
Conclusão
Agilidade está mais para velocidade de adaptação do que só velocidade, e nesse texto trouxe um exemplo de como se adaptar mais rápido quando estamos falando de desenvolvimento de software, que é transformar sistemas complexos em sistemas mais simples. Essa tarefa não é algo fácil, por isso é sempre bom contar com os desenvolvedores, pessoas que entendam do negócio e agilistas para ajudar.
Existem outros fatores que podem tirar a agilidade ou a adaptação rápida da empresa, mas isso vamos deixar para os próximos textos.
