Sucesso, dinheiro e curso superior: você precisa mesmo?
Sobre os bilionários largaram seus cursos para empreender
Pelo menos uma vez por dia eu caio em algum post mais ou menos assim:
Uma foto do Bill Gates, uma frase motivacional dizendo que ele não terminou a faculdade, e uma punchline, dizendo que o amigo dele que se formou engenheiro agora é só funcionário da Microsoft.
Toda página startupeira tem um tópico assim. Uma thread listando vários empreendedores que abandonaram seus cursos em universidades de renome para empreender e agora são bilionários (palavra que startupeiros gostam muito).
Mas qual é a real? Você pode largar sua faculdade e ser bilionário? Ver pessoas com nível superior procurando emprego de 800 reais no McDonalds é um sinal de que isso não significa nada?
1. Anhanguera não é Harvard
É muito bonitinho você estudando numa uni-qualquer querendo se comparar com o rapaz que abandonou Harvard.
Os critérios para entrar nas grandes universidades norte americanas são altos. Existem exceções, mas por padrão, o jovem que está em Harvard, só por este fato, já tem um diferencial, nem que seja a grana e nome do pai.
Entrar numa faculdade particular em terras tupiniquins não exige muito além pagar a mensalidade. Não serve de filtro e não adiciona nenhum diferencial que possa ser usado para comparar você com o Mark Zuckerberg.
2. Os grandes nomes largaram a universidade DEPOIS de seus negócios
A maior parte dos nomes que abandonaram seus cursos para empreender e se tornaram bilionários não fizeram isso de forma inconsequente. Eles construíram um negócio e só depois largaram seus cursos.
Usar essa narrativa para justificar não fazer um curso superior ou para largar o curso ANTES de ter um negócio é estupidez.
O próprio exemplo do começo, Bill Gates, voltou para pegar seu diploma depois de velho, reconhecendo a importância do título.
3. Não confie no ovo dentro da galinha
Outra coisa que todo mundo esquece, é que a negócios normalmente não dão certo.
A maior parte dos negócios do mundo vão à falência. Qualquer estatística pode mostrar isso. O número com startups é ainda maior, principalmente porque muitas deixam de existir antes de entrar na fase formal e não constam nas estatísticas.
Se seu negócio disruptivo e inovador não der certo (spoiler: não vai), é importante que você ainda tenha um emprego e uma profissão na manga.
E ao menos que você tenha uma família rica para ficar despejando dinheiro em cima de você até uma das suas ideias de negócio dar certo, você vai precisar trabalhar para pagar suas contas.
“Mas que visão derrotista startup da real. Você já começa pensando que não vai dar certo, assim não vai dar mesmo.”
Uma coisa é confiar na sua capacidade e saber que vai dar o seu melhor, outra coisa é confiar tudo o que tem em algo que não depende só de você. Excesso de confiança costuma ser um problema maior do que a falta dela.
Baixa essa bola aí, meninão.
4. Você precisa ter conhecimento verdadeiro
Eu sei que o Nerdologia é um canal muito interessante, e que você agora acha que sabe tudo sobre psicologia, economia, história e tecnologia.
Também sei que você leu o primeiro paragrafo da página sobre inteligência artificial na Wikipédia e agora imagina que pode construir um carro autômato para ser a Tesla brasileira. Sem falar em todas as horas de TED Talks que te fizeram especialista em aprendizado, produtividade e economia.
Eu sei, parece mesmo que dá pra aprender tudo em vídeos de 7 minutos na internet. Mas só parece.
Todo esse entretenimento de conhecimento é sim interessante, servindo como fonte de acesso à novos assuntos. Dá um gostinho do conhecimento e pode te apresentar novas ideias. Mas é crucial entender que não passa disso.
Imagine um psicólogo. O profissional leva anos estudando diversas matérias que interagem com o mesmo assunto, absorvendo conhecimento de diversas perspectivas, com abordagens variadas e estudos de casos, incluindo as inúmeras exceções que existem para tudo. Não é assistindo vídeos no youtube que você vai desenvolver essa mesma bagagem.
O mesmo serve para praticamente todas as áreas de conhecimento.
O problema desse tipo de entretenimento é que eles transmitem a falsa sensação de saber tudo sobre um assunto, mas sem que a pessoa entenda quanto ainda falta saber.
No fim, temos um exército de jovens arrogantes tentando explicar física quântica para doutores. Pior ainda, temos jovens querendo inovar e desenvolver empresas em áreas que não sabem o mínimo necessário, mas que acreditam ser especialistas.
Reconheça suas desculpas
No fundo, todo mundo sabe que você quer largar a faculdade porque não aguenta mais. Está cansado, as matérias são chatas e você está de saco cheio de lá.
Comparar-se aos bilionários que abandonaram seus cursos e se deram bem na vida é uma conveniente desculpa, mas um péssimo argumento. Você pode até tentar se enganar dizendo isso, mas todos a sua volta sabem que é só uma desculpa furada.
Uma universidade, mesmo que ruim, traz o benefício de te colocar em contato com outras pessoas que podem discutir ideias e debater novos assunto. De dentro do seu quarto é fácil achar que entendeu algo e seguir com a compreensão errada.
A universidade é onde você pode encontrar um sócio, um parceiro de trabalho ou conhecer professores que podem te indicar pessoas importantes. É um lugar que tem chances, inclusive, de abrir portas para editais de incentivo e incubadoras.
Não ache que a faculdade vai ser a solução da sua vida e que vai te deixar rico, mas também não pense que abandonar o curso e empreender vai dar certo para você só porque você acredita nisso.
O que nos resta é tentar cobrir os riscos. Fazer um curso superior para garantir o mínimo de aprofundamento, contato com pessoas interessantes e uma profissão.
Se você for bem sucedido, um diploma não vai fazer mal. Mas se seu negócio não der certo, ter um diploma pode representar as contas pagas no fim do mês.
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