Meu café é mais quente do que eu gostaria, esse céu é nublado demais e a língua é passageira. Minha escrita logo se esvai como o calor da xícara e as nuvens no céu. Eu acordo toda manhã. Toda manhã não tenho o direito de pular nenhuma, de decidir que…

desejo a você a necessidade de desejar foi vivendo que vivo e vivendo que escolhi viver até o fim o que eu sou nada seria sem ter sido assombrado pelo ser que fui e o que pontuo, nesse ponto, é apenas um ponto final.

Teatro da mágoa A dor é toda minha, meus sentimentos presentes e passados transitando meu ser despencando dos meus olhos. Me fazendo acreditar que tudo ao redor é meu também, meu ego maquiando a solidão da dor, como se ela fosse dona de tudo e o tudo coubesse na minha mão. Então eu fantasio os ventos, o balanço das árvores e essas folhas caindo em mim, é como se eu pudesse mudar as cores que me cercam, tudo vira cenário

A ausência de barulho, canhões e cores rubras não elimina o espírito de guerra do meu ser. O silêncio sempre foi efêmero. Os ruidos transitam. Memórias ensurdecedoras de refrões, com mais de treze anos de idade. Por esses tempos não houve, sequer, uma noite em que vi bandeira branca asteada. A confusão que causo já não é mais aliada. Anseios de compreensão. Outra batalha monologada. A paz como propósito é algo ingênuo demais para quem nunca viveu calmaria.

Dizem que o nirvana esta na metade do caminho, entre o céu e o inferno, na equidade, na balança… Naquilo que eu ainda não conheço. Imagino que lá estão as promessas de quem me empurrou do abismo E as esperanças de quem me mostrou a escada. Que é onde está o que não é tudo e onde escondem o que não é nada. Eu sou mais dos que buscam potes de ouro no final dos arco-íris. Seja lá, por teimosia, seja lá por vaidade -eu não aceito metades.

talvez eu coube na barriga da minha mãe; no coração de quem me viu crescer; talvez eu coube, em pedaços, na memória de quem eu passei no caminho e venho cabendo, ainda em pedaços, na vida de quem esta presente no presente. mas eu não lembro, desde quando posso me lembrar, de caber em algum lugar. lugar: de espaço palpável, casas, quartos, cidades insoniosas ou de interior. talvez eu não caiba onde quero caber. talvez eu não caiba aqui.

partidas vou embora sem dizer o quanto amo no caminho morro de amor- que é melhor que morrer de ódio. digo a mim que logo passará e passa, mas eu fui embora eu fui embora e eu não pretendo ficar eu viro raiz e me arranco de todo lugar.

Ânsia Era um buraco negro e assim como tal, engolia tudo o que aparecia pela frente: essa cidade pervígil, todas as suas luzes e pessoas; essa tristeza e mais um banquete de emoções que não a pertenciam. Sentia-se cheia. Estava vazia. Incompreensivelmente incompleta. Dizem que a ânsia de tudo querer ter, misturada com a ausência de si, lhe abriu um buraco no peito e que nada o conseguiu preencher.

eu me perco mas volto não sou a mesma pessoa. todos os atalhos são distintos criaram-se calos nos aterradores, limites -que vieram da exaustão dos mais longos, e força, que zomba, brinca de esconde-esconde, dependendo do caminho, forte não se encaixa como um adjetivo bom. alguém retorna um eu que não me reconhece. que julga e cisma. eu me perco na ida e na volta. a andança me ensinou a me encontrar e a fugir de mim.