Porque precisamos de uma “Religião” Secular

Sucessores de Prometeu
5 min readJan 12, 2022

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Vivemos num grande paradoxo frente a religião e a Ciência: Apesar da Ciência estar avançando como nunca e ter, literalmente, salvado mundo na pandemia, o poder das religiões organizadas (como Neopentecostais) tem crescido no mundo todo, a confiança na Ciência caído e “práticas espiritualistas”,como acreditar em magia, Horoscopo etc… Crescido.

Ou seja, por mais que a Ciência se comprove como a melhor forma de conhecimento para produção de tecnologia e tomada de decisões para a maioria das coisas, ainda a grande maioria da humanidade tem a negado e essa ignorância voluntária pode destruir a Ciência e a própria humanidade. Vários filmes já “profetizaram” sobre isso como Idiocracia, Interestelar e, o mais recente, Não Olhe Para Cima.

Muitos ainda não entenderam a gravidade desse problema tanto que defendem as velhas mesmas soluções: Mais educação, aumento de renda etc. Não que essas coisas não seriam boas, porém muitos estudos apontam que até pessoas com PHD podem acreditar em teorias conspiracionistas anticiência assim como inclusive países desenvolvidos com ótima educação, como Japão e França, sofrem com movimentos negacionistas. O problema é muito mais complexo que isso.

O que primeiramente é necessário superar é acreditar que o negacionismo científico existe apenas por ignorância. Claro que a grande maioria dos negacionistas é ignorante. Porém, a real motivação destes como dos até graduados é que a “teoria” que eles acreditam é mais confortável. É um fator inconsciente e emocional. Tanto que estudos mostram que depois que a pessoa acredita numa teoria conspiratória não há nenhum argumento racional que possa convencê-la e, pelo contrário, quanto mais você a “ataca” mais segura ela se sente correta.

Somado a isso, temos o aumento do poder da religião organizada. Parece estranho isso porque o número de fiéis tem caído com os anos, mas isso tem uma explicação simples: Para controlar um país não há necessidade de maioria absoluta. Basta ser maioria relativa. Por exemplo, numa eleição presidencial que tenham 30% de votos nulos ou abstenções (aqui e na maioria dos países tem muito mais que isso), basta 35% da população votar em um candidato que ele vencerá (tendo 50% dos votos válidos). E inclusive, para chegar ao segundo turno precisa-se de muito menos como entre 10% a 20%.

E nisso que as religiões organizadas tem sua força: Por mais que seu contingente venha se reduzindo, ela sempre consegue manter ao menos esses 30% e que por serem muito unidos e organizados que a maioria dispersa consegue muito mais resultados.

Veja os evangélicos: Especialmente pentecostais e neopentecostais que tem um sistema monarquico federativo, mas que ainda dá muita liberdade para os que estão embaixo poderem se expandir em todos os cantos e se adaptarem a todos os públicos, tem uma rede de ajuda social e ainda tem um enorme contingente de pessoas, muitas delas até bem capacitadas, que trabalham GRATUITAMENTE para a instituição. Nem ONGs muito menos partidos tem tudo isso com tão pouco dinheiro.

Por isso temos uma disputa injusta: De um lado instituições que tem uma minoria, mas significativa, muito bem organizada e unida que movimento bilhões, contra alguns cientistas e pensadores livres desunidos que mal se conhecem. Qual vencerá em longo prazo? A resposta é óbvia.

Há também um outro fator para religiões ainda terem tanto sucesso: Elas dão um bem-estar emocional que a Ciência não pode dar. Religiões baseando-se em mentiras ou não, dão um sentido a vida, respostas para perguntas, uma comunidade e uma identidade para fazer parte. E todas essas coisas são necessárias para todo ser humano, você apenas pode suprir doutras formas que não pela religião.

Tanto é verdade que o movimento ateísta que teve seu auge entre 2011 a 2013, impulsionado pelo ataque as Torres Gêmeas e o contexto de “Guerra ao Terror”, logo percebeu a dificuldade de se basear apenas numa negação e tentou criar “igrejas ateias” onde não foi para frente. Pessoalmente falando, a maioria dos ateus que conheci dessa época hoje foram para alguma religião ou espiritualidade, inclusive para correntes mais radicais e reacionários do Cristianismo.

Você pode simplesmente ignorar tudo isso, porém não pode fugir das consequências que já estamos sentindo e não vão mudar tão cedo. Ou você pode concordar com isso, mesmo parcialmente, mas ainda não entender o porquê falei de Religião Secular. Bom, agora sim eu posso explicar isso.

Enquanto não haver uma Instituição ou Instituições que consigam unir pessoas que sejam realmente livre pensadoras e que entenda o valor da Ciência, dê uma identidade e sentido de vida, crie uma rede de contatos etc.. Sempre seremos vítimas dessas minorias barulhentas.

E não, não seria Neopositivismo: O Positivismo baseava-se numa série de conceitos errados, inclusive cientificamente, falava de ditaduras etc. Eu não falei de nada disso. Inclusive nem prego o Cientificismo. Essa Religião Secular seria uma união entre ateus, agnósticos, panteístas e até teístas que não se identificam com as religiões vigentes e querem um espaço onde podem ter liberdade de pensamento de fato. Haveriam rodas de conversas, debates e aulas sobre história, ciência natural, filosofia etc. Os detalhes deixarei para um próximo texto.

E o mais importante, não precisaríamos ser maioria nem mesmo 30% para conseguir ter influência: Segundo estudos, basta 3,5% estar unido numa causa que em longo prazo ele tende a ter sucesso mesmo de maneira pacífica.

Sei que muitos irão falar que isso é uma loucura ou mesmo desnecessário porque ao invés disso podemos “reformar” as religiões. Afinal muitos cientistas foram religiosos então as duas coisas não são necessariamente inimigas. O problema que as religiões, na sua própria estrutura organizacional, impede qualquer renovação de fato: Por ser um sistema monarquico e/ou oligarquico, ou seja, uma família ou famílias as dominarem, normalmente encabeçadas por homens velhos de elite, as religiões tendem a serem geridas por líderes com pensamentos retrógrados e anticientifico (vale destacar que a última coisa que um pastor se preocupa é aprender biologia) assim como a liderança demora para se renovar, precisando da morte dos antigos, impede uma renovação de ideia rápida que acompanhe a população; além disso a grande maioria das religiões tem com base de Fé o Dogmatismo, ou seja, o não questionamento dos seus conceitos e líderes, pois isso seria pecado (o famoso “não toques no Ungido”). O máximo que as religiões fazem é serem “reativas”, ou seja, depois que cientistas descobrem algo e isso é amplamente aceito pela sociedade os religiosos vão lá e aceitam como se nada tivesse acontecido.

Enfim, caso você ainda discorde então discorre nos comentários uma outra solução. Porque infelizmente não duvidaria nem da volta de teocracias nas próximas décadas no Ocidente.

Add:

Como prometido, a continuação com a explicação de como poderia ser uma Religião Secular: https://medium.com/@sucessoresdeprometeu/como-poderia-ser-uma-religi%C3%A3o-secular-76e4d0c650e0

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