Deixa eu me perder…

Deixa eu me perder quando ouço a sua voz. Abafada, sussurrando em meu ouvido, mesmo só estando nós dois abraçados na cama.Um momento que repetíamos com frequência, no silêncio da noite, quando o suor já estava seco em nossos corpos. Éramos a parte única de um todo. Sua voz, terna e doce, tomada por um leve tom de malícia, um tom que ao mesmo tempo que expressava desejo carregava a volúpia.

Deixa eu me perder quando você me toca. Dedilhando a minha perna, enquanto sua outra mão que me enchia de carícia subia até a cabeça, embrenhando-se entre os fios macios do meu cabelo. Seu lábio tocando minha orelha enquanto sua voz sutil sussurrava em como queria tocar o meu cérebro e poder desvendar cada pensamento que me assolava, cada sonho e cada desejo. Como desejava se perder em mim e me fazer me perder em você.

Deixa eu me perder quando seu lábio toca o meu. Um encaixe leve que abre a brecha para que nossas línguas possam se entrelaçar, seu gemido abafado enquanto seus dedos continuam a me tocar e eu toco você. Minha língua toca a sua e no labirinto dos seus lábios eu pareço me encontrar.

Deixa eu me perder no lugar de me apegar. Mesmo sendo um plano falho. Deixa minhas lembranças se perderem quando eu não puder mais sentir o teu gosto, quando não sentir o seu toque e sua voz não ecoar mais em minha cabeça.

Deixa eu me perder quando suas promessas, outrora sussurradas enquanto seus dedos me acariciavam e sua língua me beijava, não forem nada mais que palavras aleatórias que resgato em memórias. Memórias que só vem quando na cama só resta eu, o suor dando lugar para as lágrimas secas em minha face inchada enquanto eu me esforço para me perder do apego.

Eu já me perdi nas suas promessas. E de todas as promessas que você um dia fez, a que menos cumpriu foi a de não fazer doer. Você não faz ideia de como machuca.

Quando a gente se perde, não dá para fugir, não dá para se esconder.