Bodas Indesejadas: A trajetória do Atlético no Campeonato Brasileiro

Tâmara Santos
7 min readAug 25, 2018

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— Por Tâmara Santos

Nos últimos anos, o torcedor atleticano viveu uma verdadeira montanha russa. Houveram períodos dos mais diversos tipos, mas o fato é que uma marca assombra o torcedor alvinegro: 47 anos sem levantar a taça do Campeonato Brasileiro.

Para começar a linha do tempo, temos um período marcado pela má gestão: Em 2005 o torcedor amargou o rebaixamento do time (ainda assim, resultando no título da Série B - 2006). O cenário era triste, o time precisava vencer o Vasco dentro de casa para manter a esperança da permanência, num jogo eletrizante, marcado por chances perdidas, o resultado não veio terminando num amargo 0x0 e consolidando assim o rebaixamento. Apesar disso, a torcida presente no Mineirão não se abateu, aplaudiu o time, cantou o hino ao fim do jogo e protagonizou uma das maiores provas de amor do futebol brasileiro. No ano seguinte, já na série B, o Atlético teve a maior média de público das divisões do Brasileirão no ano. Fato raro uma vez que algumas torcidas tendem a abandonar os times nessas situações.

No período de 2007 a 2009 o torcedor tinha uma nova esperança, o time parecia estar melhorando e muitas vezes teve ambições nos campeonatos, mas acabou se perdendo novamente e fazendo campanhas regulares, terminando nas 8º, 12º e 7º colocação respectivamente.

Os 3 anos seguintes foram fundamentais para a história atual do Clube. Em 2010 o desempenho do Atlético na competição se resumiu ao básico, foram 45 pontos conquistados, suficientes para deixar o Clube na 12ª colocação. Nesse momento, o alerta do torcedor estava ligado... Já em 2011 (que pode ser considerado o ano chave para o Clube) acontecia uma mudança interna muito grande, elencos considerados promissores não conseguiram resultados, a comissão técnica estava sob pressão e até mesmo o presidente daquela época, Alexandre Kalil, estava sob uma imensa pressão, despertando desconfiança na torcida que por muitas vezes reprovava a reeleição do mesmo ao fim do mandato. Após a queda de Dorival Júnior, foi anunciada a contratação do técnico Cuca, um dos grandes responsáveis pela mudança do Atlético.

O treinador estreou com o pé esquerdo, teve uma sequência bizarra de seis derrotas, incluindo uma histórica goleada para o rival e apesar do time escapar do rebaixamento, a pressão foi tanta que o treinador chegou a entregar o cargo, porém, foi convencido pela diretoria a ficar (Graças a Deus) dando assim, início a uma nova era no Clube Atlético Mineiro.

Naquele momento, haviam feridas abertas, um clima ruim, mas apesar de tudo isso, o então reeleito Alexandre Kalil, prometeu ao torcedor que uma nova era iria se iniciar no Atlético. Tal promessa foi cumprida com maestria, de cara, o torcedor atleticano teve a honra de receber Ronaldinho Gaúcho de presente, que chegava para auxiliar Jô, Bernard e Tardelli (que retornou ao time na próxima temporada visando a Libertadores) em busca da remontada. O elenco era forte, o time estava encaixado, a torcida voltava a acreditar, encontraram um “terreiro” onde o Galo era imbatível: A reinaugurada Arena Independência, onde surgiu a mística do “Caiu no Horto, tá morto!” que por muitas vezes foi ecoada na capital Belo Horizonte.

O cenário parecia perfeito, campanha excelente, elenco e diretoria trabalhando juntos, torcida empolgada, primeiro turno consistente (título de campeão simbólico do primeiro turno) mas o título não veio… Numa edição repleta de polêmicas, a taça foi para o Rio de Janeiro, com o Fluminense. Até hoje é difícil de entender o motivo daquele vice-campeonato. Mas nem tudo estava perdido, o auge de glórias deu-se no ano seguinte, em 2013, quando cada coração alvinegro bateu no mesmo ritmo e a massa pode ver, o seu então capitão, Réver, levantar a taça da Copa Libertadores da América, numa das edições mais emocionantes (se não a mais) da competição. Essa conquista ficou pra história e até hoje é lembrada com carinho por jogadores, torcedores e até jornalistas, foi inesquecível.

Final da Copa Libertadores 2013 — Foto: Bruno Cantini / Atlético

Em 2014, o time levantou a taça da Recopa Sul-americana e o torcedor alvinegro ainda teve a felicidade de comemorar um título em cima do rival, a conquista da vez foi a Copa do Brasil, conquistada na base da raça, da virada e do “Eu Acredito!”. A partir daquele momento, o torcedor alvinegro já não sofria mais, a expectativa era alta, ficaram “mal acostumados” e então surgiu um grande problema que paira até hoje sobre o lado alvinegro da cidade: A dificuldade em seguir em frente.

Nos anos de 2015 e 2016, o Atlético, assim como em 2012, fez grandes campanhas no Brasileirão, era favorito ao título mas nos momentos chave, parecia não ter a garra necessária para se firmar, perdeu jogos importantes, perdeu pontos para times inferiores, se desligou do objetivo, resultando assim em um amargo vice-campeonato em 2015 e um ainda mais amargo quarto lugar em 2016 (ano em que o elenco era cotado como um dos melhores do país). A impressão que se tinha é que o Atlético não conseguiu se recuperar do golpe em 2012, parecia que aquele era o momento perfeito para o título e como não veio, não haveria outro momento. É possível apontar algumas causas para este efeito: o psicológico estava abalado — não sabiam lidar com os erros costumeiros da arbitragem - a torcida estava impaciente, aconteciam mudanças repentinas na comissão técnica, erros de planejamento.. assim, os resultados não vinham.

O choque de realidade veio em 2017, quando um elenco inflado economicamente, repleto de nomes badalados como: Fred, Robinho, Cazares, Otero, Victor, Marcos Rocha, etc., fizeram uma campanha tão pífia que o time não conseguiu se quer uma classificação para a Copa Libertadores. A partir dali, o torcedor já não tinha expectativas, foi um ano exaustivo e frustrante, mais uma vez, como em 2012, 2015 e 2016, o Atlético “perdeu o campeonato para ele mesmo”. E o foco agora era se manter na Série A.

Campeonato Brasileiro 2017 — foto: Bruno Cantini / Atlético

A Grata Surpresa:

Em 2018, após uma mudança radical na diretoria, o torcedor alvinegro viu o time ser remontado e uma nova filosofia ser implantada: a partir daquele momento, o time se preocuparia com a construção do próprio estádio e o elenco seria baseado em jogadores jovens e baratos. Não havia uma estrela no time, jogadores renomados foram dispensados, o elenco remanescente (repleto de jogadores emprestados) era visto com desconfiança pelos torcedores. Até a comissão técnica, que sofreu constantes mudanças, nessa altura do campeonato estava nas mãos de um interino: Thiago Larghi. Após altos e baixos, o time parecia se encontrar, no embalo do talento de Róger Guedes e na experiência de Ricardo Oliveira, o time que parecia ser de meio de tabela, foi chegando nas primeiras colocações, se encaixando e encantando o torcedor. O que não contavam, era com a precoce despedida do camisa 23, que foi vendido para o velho “inimigo” (por tirar o Tardelli do Galo) do torcedor alvinegro: Shandong Luneng. Além disso, outras peças importantes foram perdidas: Otero foi emprestado, Bremer vendido e Gustavo Blanco lesionou-se. Era hora do interino virar técnico e recomeçar o trabalho, iniciando assim a segunda reformulação do ano. Com a chegada de alguns reforços, o time não demorou muito a mostrar que tem potencial, se consolidou entre as seis primeiras colocações e tem mostrado evolução. Apesar disso, nas últimas rodadas, o torcedor amargou derrotas e empates que poderiam ter deixado o time em melhor posição, além de diminuir a distância para o líder. Ainda é cedo para apontar a temporada como perdida, mas um velho problema volta a assombrar o terreiro do Galo: O time não consegue se impor em momentos que só depende dele.

Campeonato Brasileiro 2018 — foto: Bruno Cantini / Atlético

Para Refletir:

Todos sabemos que épocas de vitória deixam saudades nos nossos corações, o esquadrão de 2012–2013 é memorável e faz falta tanto quanto o imbatível de 1970–1971, porém, o que precisamos entender é que o tempo passa, jogadores vêm e vão e o que fica, para sempre, é a entidade Clube Atlético Mineiro. Nós não podemos colocar nenhum jogador, treinador ou até mesmo época, acima do Clube. Os tempos são outros, o futuro reserva boas coisas para gente, a principal delas é a construção do nosso próprio estádio, que certamente abrirá portas para outros grandes feitos. Nosso papel como torcedores é apoiar, cobrar, estar junto e fazer o Clube Atlético Mineiro acontecer. Por mais que sintamos falta de 2013, do Cuca, do Ronaldinho, do Tardelli, temos que ter noção que estamos em 2018 e que hoje, quem nos representa é o Larghi, o Cazares, o Ricardo Oliveira,etc,. O apoio da torcida somado a capacidade do time, deve render coisas boas. O que não pode é se perder.

  • Seja em campo: Desistindo de jogadas para reclamar de falta; desencorajar um companheiro a tentar o lance; criar situações ruins com o torcedor através de entrevistas.
  • Seja da arquibancada: Pensando que um jogador vai resolver sempre o jogo, independente de quem está no banco, do momento do jogo ou da escolha do treinador; Desrespeitar quem está vestindo a camisa do Clube por ser “viúva” de quem nos virou as costas; Deixar de apoiar.
  • Seja da diretoria e comissão técnica: Falando demais e fazendo de menos; Sendo omisso em decisões; Se escondendo por trás dos erros ou até mesmo, distanciando o torcedor do Clube.

Quando as partes envolvidas começarem a seguir o mesmo ideal, focando nos objetivos e se mantendo com os pés no chão e a cabeça no lugar, teremos mais 1971 e menos 2012. Até lá, o Atlético segue refém da sua própria sombra e aí, completaremos as únicas bodas que não desejamos: 50 anos sem um título de brasileirão.

Brasileirão 2018 — foto: Bruno Cantini/ Atlético

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