[Parte I] Quando você é a sua empresa, em qualquer lugar do mundo
Esse post é essencialmente sobre a minha decisão de trabalhar de forma remota e o início dessa jornada. Aproveita pra ler no teu intervalo de almoço ou break do pomodoro, mas fica comigo, vai!
Não sei se já aconteceu com você, mas eu tenho pelo menos 1 amiga(o) que mesmo quando entrou naquela empresa dos sonhos nem demorou muito pra enxergar que não era exatamente assim. A gente passa a vida direcionando nossa carreira para estar em um lugar que nos acolha, que seja como uma "segunda casa", que nos ensine a não odiar as segundas-feiras e amar todos os dias da semana além das sextas. Mas volta e meia estamos aí compartilhando memes de "hoje é sexta-feira" e deixando de nos perguntar os motivos dessa sensação de não preenchimento.
Em pleno 2016 e uma movimentação insana para que você permaneça presente bem mais do que 8h no ambiente de trabalho, não são poucos os atrativos dos escritórios e não me admira que comecem cada vez mais a se parecer com um playground. Videogames, piscinas de bolinhas, atividades imersivas e até João Bobo eu já vi por aí.
Tudo isso seria lindo, se não fosse por uma triste incoerência: sobre a hora de sentar e trabalhar, quase nada mudou. As relações de troca diária carregadas de tensão não têm sido amenizadas e a hora de trabalhar de fato vira um fardo ou um prato cheio para procrastinadores. Tudo que é servido é:
Fique aqui, fique aqui, nós te damos a estrutura para que você aguente, bata nesse João Bobo e vai ficar tudo bem.
Não existe a flexibilidade de passar uns tempos se desintoxicando, caso queira trabalhar de casa. Dependendo da sala de reunião que você entra, você é automaticamente designado ser a presa ou o zumbi de alguém: continuamos comendo cérebros.
Sendo assim, com o tempo você se vê trocando seis por meia dúzia. Bate uma certa saudade de "estar em casa" ou mesmo de "estar em qualquer ambiente seguro". Isso acontece porque ainda não existe um modelo de economia criativa preparado para receber e acomodar profissionais do futuro, cada vez mais conscientes do seu papel e do que querem entregar pro mundo.
É o que chamo de efeito Dogville; Seguimos ingênuos buscando a realização profissional em algo externo, e não do lado de dentro. A não ser pelos laços que você constrói com as pessoas ao seu redor, todo o mais é teatral, capitalista e têm pouca relevância com o passar do tempo. Aí bate aquela vontade de se ejetar do sistema e queimar tudo como fez Grace.
Para quem não está lembrado(a) ou nunca viu o filme - resumindo a ópera, uma mulher que está fugindo de seu passado; e na ânsia de ser aceita, encontra uma cidade que parece ser a ideal e mais acolhedora de todas. Lá há espaço pra viver em paz, as pessoas são aparentemente felizes e disponíveis. Com o tempo e as problemáticas que surgem, a cidade revela-se podre por dentro, e começa a sugar ao máximo dessa mulher, até que ela perca a sua dignidade. Nem todos são quem parecem ser; E num piscar de olhos, o que era a sua salvação se transforma no seu inferno particular.
Mas mais do que isso, esse problema existe para que nós possamos consertar a maneira que vivemos, onde e como queremos viver. Tudo sempre foi sobre viver satisfeito(a), e não sobre a empresa melhor ou pior para se trabalhar.
É por isso que trabalhar de forma remota/flexível tem atendido às necessidades de algumas pessoas no momento, ao passo que tentam se (re)conhecer auto suficientes e ainda assim continuar se conectando com pessoas. Isso não é impossível, isso é o aqui e agora.
Uma das coisas que eu sempre curti em trabalho remoto é que embora tenha uma fama de ser uma atividade dispersiva, na prática é o contrário. Pela experiência que eu tenho, o próprio timebox, a escalabilidade de contatos (sem limites geográficos) e o respeito à conexão de internet influenciam uma interação diferente. As pessoas ficam menos "bullshitagem", esquecem o lado teatral das relações políticas e seguem focadas no que realmente PRECISAM conversar, fazer, alcançar; sendo assim mais colaborativas e concentradas no objetivo comum.
Enfim, mas a grande questão é que depois de 3 meses trabalhando de casa me sinto um pouco mais à vontade para falar do assunto. Finalmente posso dizer que já passei do meu período de experiência (haha) e com essa vivência tenho reunido dicas que considero valiosas e outras não tão valiosas assim.
Atualmente sou Experience Designer na Toptal (uma empresa global especializada em trabalho remoto), fundadora da Double Diamond (Consultoria em UX também remota), facilitadora da Design Thinkers Academy (rede global de facilitadores altamente remotex), e também estou me arriscando a escrever um livro sobre Design Contínuo para a Casa do Código (que coincidentemente, não é na minha cidade e aceita escritores de todo o Brasil).
O que quero dizer com isso, é que da minha própria casa construí uma rede de conexões que não se esvaiu desde que eu pedi demissão do meu último emprego. Eu não precisei tocar fisicamente nessas pessoas para acessar/ser acessada e pelo visto parece que não existe um só lugar percebendo a nova dinâmica.
Eu me joguei, coisa que eu adoro fazer. Não tá sendo fácil, mas também não está sendo difícil. Tudo depende da tua auto confiança e força de vontade pra melhorar a tua qualidade de vida. E se você tem vontade de experimentar, você precisa trilhar esse caminho a partir de escolhas.
Frio na barriga né? Por onde começar? Comece aprendendo sobre você mesmo(a). E depois conta com esse Guia Inicial de Sobrevivência que eu construí especialmente pra ajudar as(os) desavisadas(os) e aventureiras(os) como eu. Interessou ainda mais? Também estou aprendendo em tempo real! Deixa um comentário pra mim que vou amar nossa construção em conjunto. (coraçãozinho feliz)