Foto: Death to Stock

Fui comprar café e chorei

Essa cidade pode te deixar sentimental feito o diabo

Tati Lopatiuk

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Tenho pensado nisso ultimamente: até que idade você pode ser sentimental? Com 32 anos me parece que não se pode mais ser emotiva, ter dúvidas e aflições e escrever sobre elas. Parece que é exclusividade dos adolescentes escrever longos desabafos, abrir o coração e pedir ajuda. Dos adultos, se espera que você seja mais calado e tranquilo. Bom, ainda que eu seja tranquila, é impossível ficar imune ao sentimentos que me assombram vez ou outra.

Hoje fui comprar café, sai para a rua e dei de cara com uma banda tocando ao vivo na Paulista. Um trio metal de meninos novinhos e estilosos, eles tocavam uns Bruno Mars de raiz, uns hits do pop que tanto me cativam, e aquilo me atingiu feito um soco. Lembrei do meu pai, guitarrista e luthier fã de “boa música”, pensei no quanto ele ficaria encantando em andar pela Paulista junto comigo e ver essas bandinhas dando show a cada cem metros.

É claro, eu fiz uma escolha. Se não estou agora ao lado do meu pai e do restante da minha família é porque eu quis. E eu sou feliz com essa escolha, mas ainda assim existem esses momentos. Esses em que nada acontece e você chora. Você sempre vai encontrar pequenos vestígios do que deixou, essas lembranças doídas, essas possibilidades que são feridas abertas que não fecham nem com o passar dos anos.

Gravei alguns segundos da apresentação dos caras, mandei pra minha mãe falando pra ela mostrar pro meu pai. Guardei o celular no bolso e chorei. Ridículas e cafonas, lágrimas escorriam por baixo do meu óculos de grau. Pelo amor de Deus, como você se constrange e me constrange, eu disse para mim mesma em silêncio.

Depois passou.

Eu imagino as pessoas me vendo na rua chorando, as pessoas vendo meus textos na timeline e pensando “Jesus Cristo, você já é adulta, cresça”. A verdade é que eu sou meio assim mesmo e não tem muito o que fazer. Provavelmente ainda vou escrever sobre meus sentimentos até o final da vida, ainda vou constranger e afastar conhecidos e desconhecidos sempre que tiver a chance.

Ainda vou ver um cara tocando guitarra na rua e lembrar do meu pai. Ler um livro e pensar “caralho, como eu queria poder abraçar o protagonista”. Ainda vou me magoar quando notar pela enésima vez que ninguém liga para o que escrevo.

Mas é isso. A gente seca as lágrimas e continua. Aos 15, aos 32, o resto da vida e a vida toda.

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