O pecado imperdoável

Tércio Máximo
7 min readApr 13, 2020

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Pecado imperdoável?

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Foi assim que aconteceu na minha cabeça. Primeiro, o título dos versículos seguintes anunciado pela versão da Bíblia que estava lendo, em seguida os versos e, por fim, a pergunta.

Devo começar dizendo que não cresci em um lar cristão (embora em retrospecto veja muitas ações cristãs por parte dos meus pais, mas isso é outro assunto) e desde que conheci minha esposa Deus tem operado mudanças grandiosas na minha vida. Mas nada se compara ao que estou passando nos últimos três meses em que estou tentando e muitas vezes falhando, ser um pequeno cristo. Resolvi então ler novamente o Novo Testamento pra começar, e dessa vez estudar de fato.

Qual não é minha surpresa quando já no primeiro livro sou confrontado com a afirmação de Jesus em Mateus Capítulo 12 versículo 31: Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.

Bom, eu sempre ouvi falar de um Deus de amor, de um Deus tão benevolente que amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16. Como enfrentar agora um pecado imperdoável? Eis algumas respostas que encontrei.
Mas primeiro, temos que ler mais sobre essa história.

Mateus 12:22–32 (ARA)

22 Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e a ver. 23 E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi? 24 Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios. 25 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. 26 Se Satanás expele a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino? 27 E, se eu expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. 28 Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. 29 Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa. 30 Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha. 31 Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. 32 Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.

A Cura

Logo no versículo 22 somos apresentados ao endemoniado cego e mudo pela possessão. Mas ao encontrar Jesus, que o cura, volta a falar e ver. Volta a sua normalidade ou seja, Jesus restaura. Aqui já podemos começar a ter esperança.

Em seguida Jesus usa dois argumentos. O primeiro é que se é pelo poder de Belzebu que Ele expele demônios logo, a casa de Satanás está dividida e portanto seu reino logo acabará. Os fariseus, muito bem instruídos na Lei, sabiam que isso não podia ser.
O outro argumento é que os filhos dos fariseus expulsavam demônios, a prática do exorcismo não era nova e acontece ainda nos dias de hoje. Se Jesus expele demônios por Belzebu, por quem então expelem os filhos dos fariseus? Que fariseu diria que seus filhos trabalham em nome de demônios? Ou ainda, que o incômodo era ver Jesus fazendo o trabalho de seus filhos “santos” e “imaculados”? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes.

Se Porém, Jesus alerta, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. Direcionando-se aos fariseus ainda, o que Jesus diz aqui para esse grupo de devotos da Torá, a “verdadeira comunidade de Israel”, os “santos” é que eles devem viver como esperavam viver no reino de Deus. Porque a vivência no Reino não é o meu preparo para o futuro, é a vivência do futuro agora. O Reino está aqui porque Jesus está aqui. Aceitar que Jesus fez isso pelo Espírito é aceitar que é chegado O Reino de Deus.

Mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada(!).

Na primeira vez encerrei minha leitura sobre esse assunto no versículo 31 e entendi que a blasfêmia contra o Espírito Santo era o mesmo que negar a Jesus porém, bastou continuar a leitura e no versículo 32 diz:

Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.

Minha linha de raciocínio aqui é que Jesus ao curar o menino, apresenta ao menino O Reino. Jesus opera esse milagre pelo Espírito Santo . Os fariseus não reconhecem isso e ainda por cima acusam Jesus de trabalhar em nome de demônios. Ao passo que Jesus fala aos fariseus que serão perdoados pelas palavras contra o Filho do Homem porém, atenção, porque agora eles estão falando contra o Espírito.

Ora, os fariseus passavam a vida estudando a Torá, ensinavam a Lei. Será que eles não conseguiriam reconhecer a ação de Deus nos outros? A resposta de Jesus é: Não. Os fariseus parecem crer que alcançavam entendimento e conhecimento por mérito próprio, o que os torna auto suficientes e consequentemente insensíveis as coisas de Deus. Alguma semelhança aqui com o meu comportamento? Várias. As minhas tentativas anteriores de estudar o evangelho eram exatamente isso, estudar o Evangelho em primeiro plano, crer no Evangelho em segundo.

Os fariseus agiam com dolo. Não se tratava de uma afirmação descuidada vinda de gente que estava nas trevas da ignorância. Os fariseus sabiam o que estavam afirmando perversamente quando disseram que Jesus agia com o poder do chefe dos demônios.
Augustus Nicodemus

Pecado Imperdoável?

Porque então esse seria um pecado imperdoável? Porque Deus não quer perdoar? A resposta aqui também é não.

No entanto, muitas pessoas ouvem o evangelho e não veem a glória divina. Por quê? Não é porque a glória de Deus é irreal. Não é porque a glória de Deus não está no evangelho. É porque os seres humanos são, por natureza, “obscurecidos de entendimento… pela dureza do seu coração” (Ef 4.18)

John Piper — Lendo a Bíblia de Modo Sobrenatural

Essa obscuridade, que aqui chamo de insensibilidade, nos leva ao pecado, e por fim a morte, por que se sou insensível as coisas de Deus e me sinto independente de tudo que Deus representa e faz, se creio que Deus não faz nada por mim isso só pode resultar em morte. Os fariseus estavam insensíveis ao Espírito.

O pecado não seria então o simples ato isolado de criticar alguém, mas a insensibilidade total à atuação do Espírito Santo. A dureza no coração é tão grande que a pessoa não sente mais necessidade de salvação. Como resultado dessa insensibilidade, ela seria incapaz de ver Deus nos outros. Então se eu estiver insensível e fechado as coisas de Deus, não alcançaria o perdão exatamente por isso, meu coração estaria fechado pra qualquer intervenção divina, dentre elas o perdão.

A insensibilidade para as coisas do Espírito creio que só Deus consegue enxergar. Porém, o conhecimento do certo e errado nós temos.

1Coríntios 6:1–3

“Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!”

Blasfemar contra o Espírito Santo não é nos questionarmos se determinada manifestação de fato vem de Deus, mas não reconhecer os frutos da obra de Deus através de um vaso.
A Palavra alerta que devemos examinar todas as coisas e reter o que é bom (1Ts 5:21). Alerta ainda a não julgarmos de maneira hipócrita (MT 7:1.5).

Portanto, devemos ser abertos a intervenção de Deus. Devemos reconhecer nossa pobreza de espírito, um processo doloroso mas muito importante. Devemos ser sensíveis. Quando fazemos isso reconhecemos o que Jesus faz.

Então, o cuidado maior, creio eu, é se colocar na posição de julgar. Pra isso cabe a leitura de Romanos 14 (e quem sabe um outro textão). Quando faço isso de coração endurecido, com a trave nos meus olhos, estou me tornando insensível e estendendo essa insensibilidade a maneira como enxergo as pessoas ao meu redor e por isso nunca vou saber se estou, ou quem está pecando contra o Espírito. Nessa posição há a possibilidade de pecar contra o Espírito Santo de Deus. Por isso, devemos nos perguntar o tempo todo: Será que estou sensível as coisas de Deus? Estou amando as pessoas? Ou estou completamente insensível e demonstro sinais disso?

é preciso dizer ainda que há pessoas que pensam que blasfemaram contra o Espírito Santo quando, na verdade, simplesmente se questionaram a respeito de um profeta, de línguas faladas que foram atribuídas à inspiração divina, de um suposto milagre e coisas assim. Se é o seu caso, entenda que uma pessoa que está preocupada com a possibilidade de ter blasfemado contra o Espírito Santo provavelmente não blasfemou. Porque somente um crente de verdade ficaria preocupado com isso. O apóstata, pelo contrário, tem a consciência endurecida e, por isso, simplesmente não dá a mínima se blasfemou ou não.
Augustus Nicodemus

Deus sempre estará disposto a perdoar aqueles que chegam a ele em arrependimento, recorrendo a Ele, se abrindo pra que ele faça a obra que nós não conseguimos fazer. Avaliemos nossos corações e vivamos na dependência de Cristo e entendendo que cada vez que somos perdoados, somos regenerados, voltamos a ver e falar. E o Seu amor nos sensibilizará ainda mais a Ele e ao próximo. O amor a Deus vai sempre me ligar ao outro e não deixar que eu somente julgue mas que primeiro eu ame como Ele nos amou.

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Tércio Máximo

Lendo e escrevendo. Procurando formas de aprender para então servir.