POIS É!

Teresa S Veiga
3 min readJul 3, 2018

--

Cada dia que passa me questiono sobre continuar nesta profissão que escolhi e amo: arquitetura!

São tantos obstáculos, um número bem maior do que quando de minha formatura, e olhem que não foi ontem, lá se vão 30 anos

Sou da velha guarda, formada na prancheta, 3D se fazia na mão, uma boa perspectiva era feita com ponto de fuga, réguas, até cordões.

Parece coisa de outra era, creio que sim.

Uma era em que fazer projeto era arte. Era conhecer profundamente o que se fazia.

Aprendi a desenhar com um oriental fantástico, dominava a arte das lapiseiras como ninguém, lembro sempre dele.

Como era?

Basicamente os mesmos processos de hoje, mas com maior arte e profundidade.

O cliente chegava, mostrava suas necessidades, e daí iniciávamos o processo:

  • Estudo preliminar: escala 1:100, primeiro papel manteiga, definição e depois redesenho no papel vegetal, com nanquim, canetas coloridas, graxa, benzina e apresentação para o cliente que é claro, como hoje, sempre queria alguma modificação…e começávamos tudo de novo.
  • Anteprojeto: escala 1:50, após aprovação do estudo. Era feito em geral apenas na lapiseira. Redesenhado numa escala maior e com um grau de informações mais específico pois este anteprojeto iria para o pessoal da engenharia estrutural. A arquitetura já estava bem pré-definida quanto estrutura, mas não calculada e sempre poderia haver alguma novidade.
  • Estrutura: escala 1:50. Uma vez calculada começávamos a desenhar tudo de novo, a partir dela e íamos verificando as interferências e acertando e questionando, mudando até chegarmos às melhores soluções de estrutura dentro da arquitetura e vice-versa.
  • Instalações: Uma vez fechada estrutura e arquitetura era a vez das instalações. O Anteprojeto era liberado, já com estrutura, para a engenharia definir instalações.
  • Projeto executivo: escalas diversas. Era nesse ponto que tudo se cruzava. A arquitetura trazia todas as informações para si, cruzava na raça todas as informações. Com desenhos e redesenhos, detalhamentos e super detalhes. Isso sem falar que tudo era primeiro produzido na lapiseira e depois no nanquim e com a ajuda de uma coisa que poucos conhecem, o normográfo, sim coisa de outra era.

Pode parecer loucura, jurássico, e era, mas o que acontecia nesse contexto era que conhecíamos profundamente um projeto. Sabíamos cada etapa, cada canto, cada cota.

Se alguém nos questionava sobre uma medida, um detalhe, sabíamos na hora do que se tratava pois havia passado pela mente, pelas mãos, pelo coração.

Saudosismo? Pode ser.

Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar…..Zaha Hadid

O que ficou dessa época para mim foi o processo, o cuidado com cada etapa do projeto. Eu aprendi estrutura com dois ótimos engenheiros, projetos limpos, claros. Instalações também.

Não calculo nada de engenharia pois não é meu papel e cada um no seu quadrado, mas sei avaliar, discutir, definir, vivi isso.

E me pergunto: atualmente, com o advento da tecnologia que nos ajuda tanto, quantos profissionais vão fundo nesses processos? Ou será que um 3D resolve tudo? Ou até, porque fazer se o fornecedor vai fazer, sugerir, modificar até?

POIS É!

Posso ser das “ antigas”, mas agradeço cada passo da trajetória….e qualquer hora dessas conto sobre como a coordenação de projetos chegou até mim…outra boa lembrança.

Eu sou Teresa S Veiga…Arquiteta, tenho meus pés no chão com a Acta Arquitetura…e minhas asas no design de jóias, já o coração, vive nos dois!

Quer conhecer mais? http://www.acta.arq.br

--

--

Teresa S Veiga

Arquiteta e designer de jóias. Escreve sobre arquitetura de maneira informal ( http://acta.arq.br/).