Thais Cardoso
2 min readFeb 7, 2019

Toxidade em relações líquidas, líquidas por demais

“Ele disse que minha maneira de gostar era tóxica e que de nada valia a doação do meu melhor. Que eu era uma puta desalmada, e que nem a compaixão poderia me tirar dessa vida sem pé nem cabeça.

Talvez ele estivesse certo.

Ele disse que eu era fraca e que de nada valia a minha militância. Que eu me agarrava ao álcool pra esquecer os desamores do passado.

Talvez ele estivesse certo.

Ele disse que minhas roupas não camuflavam a egoísta que eu era e que de nada valia desejar a morte. Que minha redenção era fajuta e que eu não era capaz de aguentar tanto amor.

Talvez ele estivesse certo.

Ele disse que minha essência era mágoa, dor, solidão e que de nada valia estampar um sorriso doce em meio ao mar amargo. Que ao fim, o que me restava eram desculpas de um amor que eu não sabia corresponder.

Talvez ele estivesse certo.

Ele disse que meus sentimentos me corroíam, e que nem o cão vira-lata da esquina fazia valer o meu afeto. Que minha lágrima era falsa e meu véu arrogante subia cada vez que eu respirava.

Talvez ele estivesse certo.

Ele disse que as minhas tatuagens eram uma dor muito pequena e que de nada valia as minhas súplicas e orações. Que nosso relacionamento poderia até ser diferente, se eu me moldasse para o bom moço esperançoso que ele era.

Talvez ele estivesse certo.

Então eu disse que éramos caos e esperança, que nada seria oposto do meu antigo relacionamento. Que eu era pássaro selvagem de olhar perdido e que de nada valia essas palavras se eu tivesse que mudar tudo que me reconstruíu.

Que eu era fera ferida, bicho do mato, moribunda, mas que era minha, onde meu amor gritava meu nome, e não de um alguém que nunca conseguiu aceitar que meu eco não é gaiola, mas sim liberdade.

E eu tive certeza, estava certa.”

Thais Cardoso

Escritora amadora • Acadêmica negra • Futura cientista política • Católica