Como funcionam as eliminatórias para a fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa 2019/2020

Thiago Rodrigo
7 min readJul 26, 2019

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Primeiro sorteio foi realizado dia 18 de junho FOTO: Reprodução Uefa

Todos sabem que a maior competição de clubes do mundo é a Liga dos Campeões da Europa. É nela que estão a maioria dos melhores clubes e jogadores de futebol do planeta. A Champions League 2019/2020 será 65ª edição da competição da Uefa com final marcada para o dia 30 de maio no Estádio Olímpico Ataturk em Istambul, na Turquia.

É um longo caminho para alcançar a final do torneio que começou dia 25 de junho, há quase um mês. Exatamente 24 dias depois da final entre Liverpool e Tottenham, quatro times se enfrentaram em uma rodada preliminar. São clubes dos quatro piores países no ranking de coeficiente da Uefa em 2017/2018: Gibraltar, Andorra, San Marino e Kosovo, esse último nem coeficiente tinha por ser uma nação recente.

Sempre acompanhei a Liga dos Campeões da Europa na fase de grupos, vendo apenas alguns jogos interessantes do play-off, mas este ano resolvi olhar mais a fundo desde o início do torneio

Muito diferente que no século passado (leia mais ao final do texto), a Liga dos Campeões completou 22 anos sem ter apenas campeões nacionais. O que não é ruim, é claro. Por outro lado, incomoda ver que, dos 55 membros associados, apenas 11 países têm garantia de disputar a fase de grupos. Nem mesmo Suíça, República Tcheca, Holanda e Grécia tem vaga direta garantida na fase do torneio que garante mais jogos e consequentemente mais dinheiro mesmo com derrotas. São 15,25 milhões de euros somente pela participação, 900 mil euros por empate e 2,7 milhões de euros por vitória.

Na última temporada, iniciou a nova fórmula da competição no qual a Uefa cedeu ao interesse das grandes ligas e deu mais para quem tinha muito. Assim, são 16 vagas diretas no maior torneio de clubes às maiores ligas da Europa — inglesa, espanhola, italiana e alemã. A medida segue, inicialmente, até 2021, e depois disso tudo pode acontecer. Dessa forma, fica simples entender a criação de um terceiro torneio para os campeões nacionais da “periferia europeia”.

Nesta temporada, das 16 vagas restantes, dez são preenchidas com os dois primeiros das federações classificadas no 5º e 6º lugar do coeficiente da Uefa. Ou seja, França e Rússia (ainda que a França tenha ganho uma terceira vaga direta, em vez de na pré-eliminatória, por conta do título do Liverpool e a República Tcheca, 11ª no ranking, uma segunda vaga na pré-eliminatória). Ademais, os campeões de Portugal, Ucrânia, Bélgica, Turquia e Áustria, federações do 7º ao 10º lugar do coeficiente da Uefa, completam as dez vagas.

Caminho da Liga da Liga dos Campeões da Europa

Portanto, dos 32 clubes da fase de grupos da Liga dos Campeões, 36 foram preenchidos com os países acima, restando apenas seis vagas. Dessas, duas são ocupadas por clubes que disputam o chamado Caminho da Liga. São times que foram segundos colocados nos campeonatos nacionais das federações que estão entre o 7º e 10º lugar do ranking (Portugal, Ucrânia, Bélgica, Turquia e Áustria) mais o terceiro da Rússia (6ª colocada). São eles: Krasnodar, Porto, Dínamo de Kiev, Club Brugge, Istanbul Basaksehir e LASK. O sorteio dos confrontos foi realizado hoje pela sempre organizada Uefa.

Na última fase chamada de play-off, alguns desses vice-campeões enfrentam os países entre 11ª e 15ª posição. São aquelas nações que não tem vaga direta para o campeão, ou seja, Suíça, República Tcheca, Holanda e Grécia. Basel, Viktoria Plzen, PSV Eindhoven e Olympiacos, respectivamente, são as equipes. São times interessantes de acompanhar, assim como seus campeões nacionais, pois contam com muitos jogadores que perfilam pelas respectivas seleções nacionais e também de outros países e, vez ou outra, fizeram história na competição.

Assim, entre Basel, Viktoria Plzen, PSV Eindhoven e Olympiacos (que se enfrentam antes, passando dois entre PSV x Basel e Plzen x Olympiacos), Krasnodar, Porto, Dínamo de Kiev, Club Brugge, Istanbul Basaksehir e Lask, veremos dois clubes na fase de grupos da competição. Os eliminados sempre tem a chance de disputar a Liga da Europa.

Desses quatro confrontos entre 2º colocados dos campeonatos nacionais sairão dois clubes que disputarão a fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa 2019/2020 FOTO: Reprodução Uefa

Caminho dos Campeões da Liga dos Campeões da Europa

No Caminho dos Campeões é que as coisas são maiores. Dos quatro clubes dos países piores colocados no coeficiente, o Feronikeli, de Kosovo, superou os concorrentes. Posteriormente, se somou com 40 campeões nacionais que lutam por quatro vagas.

É praticamente uma Copa dos Campeões da Europa. Exceto pelo fato de ter equipes de oito nações previamente classificadas nas fases eliminatórias seguintes. São elas: Croácia, Dinamarca, Israel e Chipre (16º ao 19º do ranking), representados por Dínamo Zagreb, Copenhague, Maccabi Tel Aviv e Apoel. Além dos campeões de Grécia, Holanda, República Tcheca e Suíça, que são PAOK, Ajax, Sparta Praga e Young Boys (15º a 11º do ranking, respectivamente).

Abaixo, os 32 dos times da primeira pré-eliminatória — que seria, pelo equilíbrio e confrontos inusitados, bem interessante vê-los na terceira e bem alternativa competição da Europa com transmissão gratuita pelo Uefa.tv, é claro. Eles são os atuais campeões nacionais de seus países e os times em negrito se classificaram no dia 17/07.

Cazaquistão: Astana x Cluj: Romênia
Armênia: Ararat-Armenia x AIK: Suécia
Estônia: Nomme Kalju x Shkëndija: Macedônia do Norte
Finlândia: HJK x HB Tórshavn: Ilhas Faroe
Bósnia e Herzegovina: Sarajevo x Celtic: Escócia
Lituânia: Sūduva x Estrela Vermelha: Sérvia
Luxemburgo: F91 Dudelange x Valletta: Malta
País de Gales: The New Saints x Feronikeli: Kosovo
Albânia: Partizani x Qarabag: Azerbaidjão
Moldávia: Sheriff Tiraspol x Saburtalo Tbilisi: Geórgia
Bielorrússia: Bate Borisov x Piast Gliwic: Polônia
Eslováquia: Slovan Bratislava x Sutjeska Niksic: Montenegro
Irlanda do Norte: Linfield x Rosenborg: Noruega
Irlanda: Dundalk x Riga FC: Letônia
Bulgária: Ludogorets Razgrad x Ferencvaros: Hungria
Eslovênia: Maribor x Valur: Islândia

Os seis classificados desses confrontos se juntam a Sparta Praga e Young Boys e quatro clubes se classificam para a fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa 2019/2020 FOTO: Reprodução Uefa

Em conclusão, ainda que 30 dos 40 clubes não tenham grandes chances de se classificar para as oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa, é duro pensar que os 32 países acima têm chances muito pequenas de alcançar a fase de grupos do torneio. Afinal, após passarem pela primeira e pela segunda pré-eliminatória, mais para frente eles enfrentam o campeão suíço e o campeão holandês, por exemplo, que quase sempre têm marcado presença na competição, e os campeões grego e tcheco.

Para algum desses clubes superar Dínamo Zagreb, Copenhague, Maccabi Tel Aviv e Apoel, na segunda pré-eliminatória, logo depois Ajax e PAOK na terceira pré-eliminatória e logo após Young Boys e Sparta Praga no play-off, é tarefa muito difícil. Os quatro últimos clubes citados podem (e devem pelo nível de investimento e equipes que possuem) ser os quatro classificados para a fase de grupos. Observo que Celtic, Estrela Vermelha, Copenhague e Dínamo Zagreb podem surpreender.

Copa dos Campeões foi apenas de campeões até 1996/1997

O dia 4 de setembro de 1955 é a data da primeira partida da Copa dos Campeões da Europa entre Sporting Lisboa e Partizan Belgrado (que curiosamente não eram os atuais campeões nacionais da época). O torneio seguiu ao longo dos anos reunindo os campeões nacionais dos países europeus com uma fórmula simples de mata-mata após sorteio em que as equipes se eliminavam até chegar na grande final.

Isso ocorreu sem muita restrição, tanto que em 1989/1990, por exemplo, o torneio, que contou com 32 times que se enfrentaram em partidas de ida e volta na primeira rodada para ver quem se classificava, teve Milan e Real Madrid na fase oitavas de final, enquanto Malmo, da Suécia, e Mechelen, da Bélgica, se enfrentaram em outro confronto. No máximo dois clubes de um país era permitido, no qual um era o campeão nacional e outro era campeão vigente da Copa dos Campeões da Europa.

Esse modelo de competição seguiu até 1992. Para a temporada de 1992/1993, o então presidente da Uefa, Lennart Johansson, aceitou a ideia de Silvio Berlusconi, amplamente acolhida por outros grandes clubes. Nela, conforme diz o livro “Noites Europeias”, “depois das fases preliminares, as oito melhores equipes da Europa seriam divididas em dois grupos de quatro e os vencedores de cada grupo se enfrentariam para a disputa do título”.

Em 1993/1994, isso mudou e os dois primeiros colocados dos grupos se enfrentaram nas semifinais. Em 1994/1995, novo aumento com quatro grupos no qual os dois primeiros se classificavam para as quartas de final. Naquele ano, apenas oito países eram derrotados na pré-eliminatória. Esse modelo da Liga dos Campeões da Europa se manteve por mais duas épocas.

A temporada 1997/1998 pela primeira vez reuniu clubes que eram vice-campeões de seus países, o que evidentemente minaria as chances, na época não tão pequenas como hoje, de clubes de países menos tradicionais surpreenderem na competição. Algo que não tem mais ocorrido mais nem na Liga Europa, com os títulos recentes de clubes que frequentemente disputam e vencem a Champions League. Isto é, essa é a atual realidade da Liga dos Campeões da Europa, veremos por quanto tempo.

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Thiago Rodrigo

Jornalista. Escrevo aqui textos para mim com olhares, análises e reflexões sobre futebol e, ocasionalmente, outros assuntos