Por que o Budismo funciona

Thiago Yukio
4 min readApr 11, 2019

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Se quisermos ter mais controle sobre nossa mente e o mundo, temos de aceitar que não temos controle sobre nenhum dos dois.

É com esse paradoxo que o autor, Robert Wright, começa o livro “Why Buddhism is True”.

Você pode se perguntar: como assim não tenho controle da minha mente? E eu que te pergunto: quando você está pra baixo e alguém fala “não fique triste!”, você consegue ficar feliz?

O livro retrata o budismo na sua parte objetiva, removendo todos os elementos místicos da filosofia e traçando o paralelo com as recentes descobertas científicas.

Ele conta que somos constantemente controlados, mesmo sem perceber. Mas não se trata de nenhuma teoria de conspiração Illuminati ou de máquinas do mal iguais às do filme Matrix. O inimigo vem de dentro.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Red_pill_and_blue_pill

Tomando a pílula vermelha

O budismo explica que somos seres insaciáveis por natureza e nossa mente cria sentimentos “falsos”, que nos trazem malefícios a longo prazo.

A euforia de comprar uma roupa nova, ser promovido ou comer um pedaço de chocolate dura apenas alguns momentos e logo desejamos repetir o prazer, mesmo que nos faça mal.

O autor nos defende: não é nossa culpa! Fomos filtrados por milhões de anos pela seleção natural para sermos assim. Imagine se nos primórdios dos tempos um animal aleatoriamente nasce com uma (dis)função: o orgasmo dele dura 10 anos.

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Este ser abençoado transaria apenas uma vez a cada década, pois seu cérebro não o recompensaria mais ainda se o fizesse de novo. Agora imagine que um ser da mesma espécie possua um orgasmo de 1 minuto, sem tempo de recuperação. Qual dos dois seres copulariam mais e teriam mais chance de transmitir seus genes para as próximas gerações?

Assim, surge a primeira grande ideia: não somos nós que criamos nossos pensamentos e desejos. Os pensamentos se criam sozinhos, nós apenas os recebemos.

No fundo, somos apenas seres programados pelos genes que conseguiram ser passados ao longo das gerações, o que não significa que estes desejam o bem para os indivíduos que os carregam. Nos casos dos louva-deus e das viúvas negras, os machos sabem que serão devorados pela fêmea depois ou durante a cópula. Não sei vocês, mas se fosse assim, eu preferia ser um eunuco vivo.

Meditação

Achamos estranho os esquizofrênicos ouvirem vozes dentro da sua cabeça, mas se você refletir, os pensamentos aparecem no nosso cérebro como se outra pessoa tivesse nos falado; apenas não ouvimos em voz alta.

Na prática de meditação isso fica ainda mais evidente. Faça o experimento: sente-se em qualquer lugar, feche os olhos e tente não pensar em nada por 5 minutos. Não dá. Você inevitavelmente pensará no trabalho, na namorada ou em qualquer coisa, menos no nada.

O objetivo da meditação é exatamente permitir que os pensamentos apareçam, mas deixá-los ir embora, sem se apegar.

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Um treinamento que eu particularmente gosto é: imagine que você está sentado ao lado de um rio. Às vezes o rio está calmo, às vezes agitado. Sem o seu controle, você avista uma boia vindo, que é o pensamento. O instinto natural é se apegar a ele, mas o desafio consiste em deixá-lo ir com a correnteza, mantendo uma distância dos pensamentos.

Curiosamente, quanto menos apegados aos nossos pensamentos, menos controle eles têm sobre nós. Com a prática, conseguimos romper o relacionamento abusivo exercido pelos nossos genes, que apenas se interessam pela transmissão para a próxima geração.

Ausência de ego e de sentido

Agora espero que esteja clara a desconexão entre os seus pensamentos e você. Você não é definido pelos seus desejos, sentimentos ou pensamentos.

Foi exatamente esta parte que me inspirou a escrever outro artigo: Ego de Vidro. Nele, conto como todos nós fazemos coisas irracionais para proteger o nosso ego, mesmo que nos prejudique:

O Budismo vai mais além: o seu ego, como você imagina, não existe. Na verdade, nada tem um motivo ou uma essência intrínseca. Somos nós que damos o sentido.

As pessoas podem achar uma rosa bonita e um sapo feio. Mas uma abelha teria a mesma opinião? E a esposa do sapo? Tudo é subjetivo.

O autor cita uma experiência em um retiro: no quinto dia de meditação, o vizinho do templo estava cortando árvores com uma serra elétrica. Inicialmente, ele ficou com raiva, mas lembrou que nós que demos o sentido de que aquele som é ruim. Depois disso, começou a achar o som prazeroso, como se fosse música aos seus ouvidos. Que brisa!

E você, quer ter mais controle sobre seus pensamentos ou continuar sendo escravo da própria mente?

No fim das contas, utilizei o embasamento científico do livro O Gene Egoísta, de Richard Dawkings, para fazer a ponderação entre filosofia e ciência. Por mais que ele não cite o budismo no livro, é interessante ver que Buda intuitivamente sabia das nossas fraquezas como espécie.

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